quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Tudo muda.

-Lola - Escutei a voz de Sam vindo de longe até meus ouvidos – Lola – senti meu corpo balançar – Lola!
- Oi – Disse coçando meus olhos.
- Pensei que não fosse acordar nunca.
- O que você ta fazendo no meu quarto pirralho?
- Ei! Eu sou apenas 1 ano mais novo que você – Disse Sam adotando um rosto contente, e desafiador onde ele levantava seu queixo e sua sobrancelha esquerda, fazendo seus olhos castanhos claros brilharem mais do que o habitual.
- Eu 14 você tem 13. 13 pirralho, 14 maneiro. Entendeu?
- Cala boca – Eu soltei uma risada e depois suspirei. Deitei minha cabeça no travesseiro. Sam levantou da minha cama, abriu as cortinhas e uma fresta na janela deixando o ar frio do inverno de Nevada entrar. Puxei o cobertor para mais perto do rosto.
- Então, a que devo o prazer de sua visita tão cedo? – Disse com um ar irônico.
- Ah sim... Quase me esqueci. A tia Trisha e o tio Ben te trouxeram um presente – Tirei o cobertor e levantei de um salto da cama.
- O tio Ben ta lá em baixo? – Perguntei sorrindo colocando meu roupão e as pantufas pretas – Porque não disse logo? – E dei um tapa na parte de trás da cabeça de Sam antes de sair do quarto correndo.
- Oh... Ai está ela! – Disse tio Ben, seus cabelos grisalhos brilhavam com a luz gélida do sol. Sua pele já flácida caia sobre seus pretos olhos cansados. Mas seu sorriso jovial nunca saia de seu rosto. Corri até ele e lhe dei um abraço.
- Faz tempo que não nos vemos.
- Verdade... E para compensar isso, te trouxe uma coisinha – E com mão estava escondida atrás de seu corpo, tio Ben me estendeu um filhote de husky siberiano preto. Arregalei meus olhos e abri minha boca. Segurei o filhote na minha mão, fazia tanto tempo que eu clamava por um desses para os meus pais. Ajoelhei no chão, e o coloquei em cima do tapete.
- Oi amigão... Você é lindo.
- Foi ideia da sua tia – Disse tio Ben, com uma expressão divertida, com aquele sorrisão no rosto. Tia Trisha estava curvada olhando algumas fotos na mesa.
- Tia Trisha você sabe que você é a melhor tia não sabe? – Disse sorrindo, com o maior sorriso que uma pessoa poderia fazer. Ela sorriu pra mim, com verdadeira ternura. Sua pele já começando a enrugar não nos impedia de ver seus olhos castanhos. Seus lisos cabelos também castanhos caiam sobre seus ombros. Era um mulher de classe, devo acrescentar. Era assustadoramente parecida com sua irmã, Charllote Prize, também conhecida como minha mãe. Já meu pai, tinha cabelos pretos quase grisalhos, pele bronzeada e olhos verdes. Como os meus. Simplificando, meu irmão pegou a parte da minha mãe da família e eu a do meu pai – Ai! – Disse passando a mão na parte de trás da minha cabeça.
- Vingança gatinha – Disse Sam. Revirei os olhos – Ah... então esse cachorrinho era é surpresa tio Ben?
- Sim Aranha – Tio Ben gostava de nos chamar como super-heróis. Já que seu nome é Ben como o tio de Peter Parker, ou seja, homem aranha, ele chamava Sam como o herói. E a mim de Maravilha, se referindo a Mulher Maravilha.
- E qual vai ser o nome? – Perguntou Sam, olhando para mim enquanto passava a mão no husky. Pensei um pouco enquanto passava os olhos pela sala. Me sentia bem, segura, feliz, aqui. Meus pais me olhavam orgulhosos enquanto se abraçavam, e tio Ben e tia Trisha também esperavam ansiosos. Nos olhos de Sam eu sentia o calor de sua felicidade emanando dele. Voltei meus olhos para o cachorro. Que botou a cabeça para cima me encarando, pensei na hora que o peguei. Eu disse “Oi amigão...” talvez devesse ser o nome dele.
- Buddy... Seu nome vai ser Buddy – Sam sorriu.
- Nome legal – Tia Trisha voltou seu olhar para a mesa de fotos. Tinha uma que estava eu e minha mãe caçando um veado numa floresta próxima a casa de campo, minha mãe me observava na foto enquanto eu mirava com o arco e flecha, era um hobbie meu e dela. Na outra estava meu pai segurando Sam no ombro depois de ele ter ganhado no campeonato de natação. Em outra tinha nós dois com papai na sala de treinamento de tiro, dentro da policia que era onde ele trabalhava antes de achar um poço de água em quanto cavava para plantar uma arvore no jardim da casa de campo. Porem tia Trisha focou em uma foto.
- Parece que alguém ganhou uma medalha no kung fu... – Sam sorriu timidamente pra ela – E você Lola, já foram as finais do campeonato?
- Semana que vem – Meu coração disparou só de lembrar. A um mês eu já me tornei uma das melhores da turma de kung fu, o que significa que eu fui classificada para encarar o campeonato onde eu tenho que ganhar o troféu de numero um.
- O meu campeonato começa daqui dois meses! – Disse Sam se levantando – e eu vou acabar com aqueles idiotas – ele começou a desferir alguns golpes no ar como se estivesse lutando – vou fazer assim... e depois derrubar eles no chão assim... E depois...
- SAMUEL! – Gritou minha mãe depois que Sam deu um chute no ar fazendo o abajur cair e quebrar.
- Opa... – Eu comecei a rir, tio Ben e tia Trisha riram, papai riu, mas a mamãe não. Ela ficou bem brava.
3 anos depois...

- Você ta pronta? – Perguntou Sam. Era de noite, nós estávamos no carro que Sam ganhou dos nossos tios ano retrasado. Chovia, chovia muito forte. Buddy estava sentado, observando comigo o lado de fora da janela, eu segurava sua coleira de couro grossa que continha seu nome. Buddy cresceu muito, sua cabeça fica junto a minha enquanto ele esta em meu colo – Será que eles...
- Provavelmente – Respondi. Muita coisa mudou, a dois anos meus pais foram para Los Angeles com meus tios, alguns meses depois tudo começou e eles não retornaram. Os celulares não funcionam mais então nos comunicamos com um antigo walkie talkie da policia que meu pai tinha guardado. Agora somos apenas eu, Sam e Buddy. Agora eles são tudo que importa.
- Lola – Chamou Sam.
- Que? – Perguntei.
- Podemos ir? – Tirei meus olhos da loja e foquei nos olhos amedrontados porem firmes do meu irmão.
- Claro – Descemos do carro levando nas costas a chuva agressiva diretamente, segurava com força a coleira de metal de Buddy. Ele olhava para os lados vendo se alguém, ou alguma daquelas coisas estava por ai, mas não estavam. Sam se pôs na frente da loja, eu e Buddy na lateral. Segurei a faca, e bati com ela no sino da porta da loja. Esperamos alguns segundos, e lá vinha. O zumbi. Sam se manteve firmemente parado enquanto eu enfiava a faca na cabeça da coisa – Rápido – sussurrei. Peguei uma lanterna do cinto, diminui a luz e subi as escadas com Buddy. Sam pegou sua lanterna diminuiu a luz e começou a passar pelas fileiras de mercadorias. Em silencio eu enfiei a faca na cabeça de três zumbis, e depois me ajoelhei na grade de proteção da parte de cima da loja, mirei a luz para baixo e a apaguei e acendi duas vezes. Era o sinal para Sam, avisando que em cima tudo limpo. Eu guardei a faca, e fiquei observando com a luz da lanterna. Ao meu lado, Buddy ofegava com a língua pra fora. – Eu sei cara – Sussurrei eu seu ouvido – eu também to com cede – Sem olhar para ele passei a mão em sua cabeçona, foquei em Sam. Está tudo muito bagunçado lá em baixo, mercadorias no chão, estragadas, espalhadas, o cheiro era horrível. Comida podre e carniça. Sam pegou a água que sobrava, e a comida que não tinha a tanto tempo passado da validade e colocou tudo dentro de uma mochila. “Merda” pensei. Ele se virou pra mim piscando a lanterna duas vezes. Eu mirei e atirei a flecha a 3 centimentros de seu rosto. Levantei correndo, segurei com mais força a corrente de Buddy e desci escorregando o corrimão da escada. Alguns dos zumbis saiam de baixo da mesa, pratileira, de trás da porta e isso fazia tanto barulho que chamava a atenção de outros. Sam ligou o carro e eu entrei.
- Essa passou perto – Disse Sam.
- É... A gente não daria conta se os outros chegassem – Disse sem mudar a expressão.
- To falando da sua flecha. Ficou louca? Podia ter acertado em mim, você não tinha boa visibilidade e...
- Eu sou boa em atirar flechar Samuel. Relaxa, eu não iria errar.

- Ta bom... – Disse descrente. A verdade é que eu tenho sido mais fria com tudo, principalmente com Sam desde que eu vi a primeira pessoa morrer e se transformar. Eu só queria que tudo voltasse a ser como era... Talvez depois que chegarmos na casa de campo... Talvez, possa dar certo. Mas a verdade é que eu sei que... Tudo mudou. E não vai voltar ao normal.