Senti o sangue latejar na minha cabeça. Meu punhos estavam
serrados e ainda envolvendo meu celular. A raiva dentro de mim estava tão grande,
que eu realmente poderia achar que poderia destruir qualquer coisa.
Se for ele mesmo... Se realmente ele for meu
pai... Eu juro que ele vai pagar pelo que fez.
Comecei a andar mais rapidamente para a praça. E quando
cheguei lá a van sem placa já estava estacionada.
- Que demora foi essa em garoto? – O rosto do sequestrador
hoje não estava encapuzado. Estava apenas com um óculos enorme, que cobria a
metade do seu rosto. Eu não o respondi. Sua voz estava mais lúcida hoje. – Não
vai responder não? Aonde estão seus bons modos? Seus pais não lhe ensinaram
nada?
- Minha mãe me ensinou muita coisa – Disse eu com a voz
tremula – Mas meu pai.... É um completo canalha cretino...
- Hey! Não fala assim do seu pai! Ele foi um grande homem!
- Aé? Você o conheceu?
- Sim... Melhor do que você pensa.
- É claro... Acho que as pessoas se conhecem melhor do que
qualquer um não é?
Ouve uma pausa. Parece que ele começou a compreender.
- O que você quer dizer com isso moleque? – Disse com um tom
de desafio.
- Que eu já sei quem você é Grege.
- Do que é que você esta falando?
- PARA DE SE FAZER DE TROXA! PARA DE ME FAZER DE OTÁRIO!
PARA DE MENTIRAS! Pai – Berrei.
- Eu não... eu... não...
- AGORA VOCÊ FICOU SEM FALAS FOI?
- Olha...
- NÃO!! FALA! FALA LOGO! TIRA ESSES OCULOS RIDICULOS E ME
FALA! VOCÊ É MEU PAI NÃO É?!
- Bom...
- FALA LOGO! SEU COVARDE! VAI! VAMOS! PARE DE MINTIRAS!
- TA! TA BOM GAROTO! SOU EU! – Berrou ele. Ele tirou os
óculos. E meu coração deu um salto. Me senti ficar gelado. Minhas mãos
tremeram. Mau percebi que meus olhos estavam começando a juntar lagrimas. Mas
eu não iria chorar... A por favor.... fraquejar na frente dele? Daquele insano?
- Mas... – Minha voz estava tremula novamente – Mas porque
você fez isso?! PORQUE VOCÊ FEZ EU E A MAMÃE PENSARMOS QUE VOCÊ ESTAVA MORTO!
SABIA QUE VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA POR ISSO?!?!?! EU SEMPRE ME SENTI
CULPADO POR SUA MORTE SEU CRETINO!
- NÃO FALA ASSIM COMIGO NÃO GAROTO! EU POSSO NÃO SER O
MELHOR, MAS SOU SEU PAI!
- NÃO! NÃO É! VOCÊ NÃO É MEU PAI! EU FALO COMO EU QUISER COM
VOCÊ! PORQUE MINHA MÃE ME ENSINOU A NÃO FALAR COM ESTRANHOS! E VOCÊ!
AH....nunca te vi na minha vida... não te conheço! PORQUE MEU PAI DE VERDADE!
JAMAIS! JAMAIS, FARIA SUA FAMILIA SOFRER ATOA! PORQUE ELE AMAVA A FAMILIA DELE!
- E EU AMO! – Seus olhos agora encheram d’agua, mas não me
preocupei. Não me abalei. Naquele momento ele não significava nada pra mim –
SEMPRE AMEI! OU AMAVA!
- QUEM AMA NÃO MACHUCA! VOCÊ.... VOCÊ TEM NOÇÃO DE COMO ISSO
AFETOU MINHA VIDA? AH... É CLARO QUE NÃO, NÉ! VOCÊ NÃO ESTEVE PRESENTE NELA!
- EU FIZ ISSO PRO SEU BEM!
- PRO MEU BEM?! PRO MEU... AH POR FAVOR! VOCÊ NÃO SABE DE NADA!
- NÃO TAYLOR! VOCÊ... VOCÊ NÃO SABE DE NADA!
- BOM.... ME CONTE. Temos tempo não é? A final... o dinheiro
é seu.
- Bom – ele respirou fundo. Sentou numa enorme pedra que
tinha do lado da van – No dia do acidente. Eu estava bêbado. E com raiva. Muita
raiva...
- Raiva? – interrompo – Raiva de que?
- Ah... então você
não sabia? – Ele da um sorriso sarcástico. E Diz: - Sua amada mamãzinha... me
traia.
Quando ele falou isso foi como se tivessem me esfaqueado. Minha
mãe? A pessoa que eu mais confiava no mundo inteiro... Pelo visto, não dava pra
se confiar em mais ninguém nessa vida.
-Com quem? – Pergunto, com medo da resposta.
- Bom... isso eu nunca pude saber. Eu não o conhecia. Nunca
o vi na vida. Ela disse que se conheceram numa viajem que ela fez a trabalho
para Nova York, mas .... sabe como é né... não da pra se confiar mais em
ninguém. Em fim... como estava dizendo: Eu estava bêbado. E com tanta raiva que
não percebi um cervo que se aproximava da estrada. Na hora que eu o vi já era
tarde. Tentei desviar porem não consegui. Meu carro derrapou pelo barranco,
levando a mim e ao cervo as alturas. Rolei barranco a baixo ... apaguei. E
quando acordei já era o dia seguinte. Não queria voltar pra casa... para ver a
cara da sua mãe... Então fui pra casa do seu avô. Ele no inicio não quis me
receber... mas o que fazer? Eu era seu filho não é?Depois de um tempo, não tive
coragem de voltar pra casa... mesmo se eu quisesse. Eu sei garoto... eu destrui
sua vida não foi? Eu sei... mas a culpa não é minha... é da sua mãe...
- Não foi ela quem fingiu morrer foi?
- Olha, posso terminar minha história ou ta difícil?
- Prossiga.
-Bom... Um dia estava eu calmamente andando pelas ruas do Tenesse
e lá estava... ela. – Ele apontou pra
minha mãe. Na qual eu até esquecera a presença; - E você é claro... acho que
estavam de férias... não sei, tanto faz também... pra mim não importa. No
entanto quando a vi, foi como se toda a raiva do passado tivesse voltado com
força total. Aquilo mexeu numa ferida ainda aberta. Então foi ai que eu pensei.
Eu tava duro mesmo.... não tinha nenhum dinheiro... e se eu fizesse um
sequestro? Eu faria minha vingança e ainda conseguiria dinheiro... um pacote
completo.
- Você é doente – Disse enojado.
- Será? Será mesmo que sou? Eu não acho. Acho isso uma
solução completamente plausível.
- Lógico... agora vou pegar todos que odeio e fazer um
sequestro com eles... Isso é ridículo.
- Não, não é não. Olha eu já cansei de olhar pra cara de
vocês dois... estou ficando até enjoado.
- Você nem parece um pai. Não parece o MEU pai.
- Bom... depois de um tempo... Depois de sofrer tanto na
vida, agente muda. Endurece. Agora aqui ó – Ele bateu no local onde deve estar
seu coração – Aqui... Agora só tem gelo. Uma pedra enorme de gelo. Não sinto
nada. Quer falar que sou ridículo e blá blá blá? Fala... desabafa... não me importo.
Agora... cadê minha grana?
- Ta aqui – Jogo a mala azul pra ele. Ele pega.
- Traz ela. – Seu parceiro sai de dentro da van, abre o
porta malas e tira minha mãe de lá de dentro. Grege coloca o dinheiro dentro da
van e pega uma arma. – Sabe... Não sei se assim minha ferida sara...
- Como assim? – Seguro minha mãe pelo pulso. – O que você
quer dizer?
- Quero dizer , que isso não é o suficiente. Eu preciso de
mais.
- Mais? O que você quer?
- Isso – Ele ponta a arma pra minha mãe que esta com a boca
ainda amordaçada, e atira. Por pouco não acerta nela. Corremos e vamos pra trás
da van.
- MAIS QUE DROGA VOCÊ PENSA QUE ESTA FAZENDO?!?!
- Olha Taylor... não é nada pessoal só que.... Não... não...
é pessoal sim. Sai daí garoto! Isso vai ser bem rápido
Então eu olho pelo retrovisor da van, e vejo ele do outro
lado dela. Mas lá.... lá em baixo, no canto do vidro, eu vejo... dentro do carro.
Eu vejo... eu vejo uma arma. Penso rápido e pego ela. “Taylor não” – minha mãe
sussurra. Não dou ouvidos a ela. Saio de trás da van.
- Agora estamos empatados! – Digo – Agora é você e eu Grege!
- Ah ora! – Ele ri – Pelo amor de Deus Bárbara! Não sabia
que você era tão medrosa a ponto de deixar nosso filho fazer o trabalho todo
por você!
- Cala boca! – Digo irritado – Como disse antes... eu e
você!
- Ora... Você não teria coragem para matar ninguém garoto!
Sinto minhas mãos tremerem, fico com cada vez mais raiva,
mas isso não muda, o fato dele estar certo. Eu não tenho coragem pra isso.
- EU SEI QUE VOCÊ SABE QUE EU TENHO RAZÃO! – Grita ele – EU SEI!
VOCÊ É UM MEDROSO GAROTO! UM MEDROSO! NÃO TERIA CORAGEM PARA NADA QUE FOSSE! EU
SEI QUE VOCÊ POR MAIS QUE TENTE! POR MAIS QUE TODO SEU CORPO PESSA QUE NÃO, EU
SEI QUE VOCÊ AINDA ME AMA! E EU NÃO VOU ....
TA! Um barulho me ensurdece. Percebo meus olhos fechados, e
os abro imediatamente. Eu... eu atirei nele. Eu... matei meu próprio pai. Fico
apenas olhando para ele caído no chão. Sangrando. Minhas mãos ainda segurando
com força a arma que esta ainda apontada pra frente. Jogo ela pro lado. E caio
no chão. Minhas pernas não aguentam o peso do meu corpo. Olho pro lado, o parceiro
dele fugira. Minha mãe estava sentada do meu lado, com um celular na mão:
- Eu peguei esse celular na van. Liguei pra policia. Eles
estão vindo aqui filho.
Ela me abraça e ficamos ali parados, até os policiais
chegarem. Sou obrigado a dar depoimento, e digo exatamente o que aconteceu. Não
acontece nada comigo, porque matei ele em legitima defesa. Esse caso todo
aparece nos jornais... todos sabem disso. Na semana seguinte quando volto a
escola todos me olham meio estranho e cochicham quando passo, mas a maioria me
pergunta “como é matar alguém??.’’ Ou se eu me sinto bem. Ou coisa do tipo.
Meus amigos assim como antes estão comigo até agora. E eu não estou nem ai
contanto que uma pessoa esteja do meu lado:
- Taylor – Fleur vem andando falar comigo chorando. – Você esta
bem? Como foi? Ele te machucou? Como se sente? Ai que homem horrível aquele
seu...
A interrompo. Com um beijo. Era tudo que eu precisava. Um
pouco de conforto. Abraço ela. Mas então aquele único momento bom em dias para
mim é interrompido por minha professora de biologia:
- MAIS O QUE ISSO SIGNIFICA?!?!
- Hmm... desculpa morcega eu não percebi que...
- COMO!?!!? – Diz ela completamente irritada. E eu percebo
que falei merda. – COMO FOI QUE VOCÊ ME CHAMOU?!
- Ah... nada!
- E ai Taylor.... cara!– Douggie e Tayson entram na sala e
não percebem que a professora esta nela. - Ainda bem que aquele morcega velha da
professora de bio....
- OQUE DISSERAM! – Berro a professora.
- Ops...
- OPS?!?!!? – Grita ela. - Mas que falta de respeito de você
três!
- Ah... Desculpa professora – Diz Tayson.
- Desculpa professora – Repete ela numa voz de falsete – SEMPRE
A MESMA COISA NÃO É SENHORES?!?! JÁ ESTOU CANSADA DAS SUAS DESCULPINHAS!
- Mas ... Mas... –Começa Tayson a falar.
- Mas... Mas... – Repete novamente a professora na sua voz
de falsete – Mas nada senhor Tayson!! Já estou farta de vocês conversando sempre
que eu entro na sala!
Tayson e Douggie tentavam responder, porem não conseguiam...
Estavam ocupados de mais rindo. A professora ficara cor púrpura de tanto raiva
que carregava. O resto da classe dava altas gargalhadas incluindo Fleur. E foi
ali naquele momento que eu percebi. Que eu tive quase perder minha mãe para
perceber. Meu pai teve que voltar do mundo dos mortos para me fazer notar. O
que estava na minha frente todo esse tempo. Por menos que ele quisesse meu pai
me fez perceber uma coisa que já estava na minha cara todo este tempo e eu não
percebi. Naquele momento eu notei que eu realmente era muito feliz. E nunca
notara antes. Alem do que ali olhando para Fleur, percebi também que não iria
ter problemas em ter um par para o baile de fim de ano agora.