- Que dia lindo – Refletiu Sam.
- Com certeza – Eu e ele brindamos com a latinha de Coca. Eu
arrumei meus óculos, e Sam tirou seu boné azul de amarelo dos Lakers arrumou o
cabelo e repôs o boné. Estávamos encostados preguiçosamente na casa de campo,
sentados na grama observando Buddy roer animadamente um caroço de manga, sobe a
sombra da mangueira. Um lindo dia de sol, silencioso, onde a brisa quente das
16:00 horas bate preguiçosa e acolhedoramente em seu rosto. Uma outra manga
caiu na grama, Sam correu e pegou a manga antes de Buddy pudesse fazê-lo. Buddy logo se levantou e fitou-o, Sam começou
a correr sorrindo e me fazendo rir:
- Você não vai pegar essa manga Buddy – Ele sacudiu a manga
na mão, e jogou ela de uma mão para outra. Buddy corria e latia atrás dele e eu
me sentia feliz e ria sozinha – Lola vem! – Eu levantei. Sam jogou a manga pra
mim e Buddy correu até mim, corri para o outro lado da casa e joguei a manga de
volta pra Sam. Buddy correu até Sam e este jogou a manga pra mim. Buddy correu
rápido e pulou com suas grandes patas no meu peito e me derrubou. Lambeu meu
rosto e abocanhou a manga, andou tranquilamente até a mangueira onde começou a
come-la. Ele ama mangas. Ele ama a sombra dessa mangueira. Ele ama este lugar.
- Quer ajuda? – Sam estendeu a mão pra mim, agarrei-a.
- Crianças... Fiz cupcakes – Ouvi minha mãe gritar.
- EU QUERO! – Sam ficou tão animado com os cupcake que
esqueceu de mim e soltou minha mão, e eu cai na grama de novo, fiquei limpando
meu shorts enquanto Sam corria para dentro de casa.
-SAM! – Eu fiquei tão tomada pelo desespero que parei de me
importar de eu estava fazendo barulho ou não, depois do grito que me chamou eu
não ouvi mais nenhum barulho vindo da casa além dos grunhidos dos zumbis. Vi
Buddy pular da escada e abocanhar o pescoço de um zumbi, corri até ele e enfiei
a lamina da espada na cabeça deste. Agachei, acariciei a cabeça de Buddy e
perguntei – Garoto, cadê o Sam? – Buddy latiu com a cabeça virada escada a
cima, e de lá Sam vinha correndo tropeçando – SAM! – Dei um abraço aliviado
nele – o que aconteceu?
- Eu abri a porta do banheiro e eles saíram de lá. Desculpa,
eu...
- Desculpa pelo o que, cara? A gente devia ter olhado todos
os lugares da casa antes de nos instalar. Não foi sua culpa, ouviu?
- O que aconteceu com a sua testa? – Perguntou ele, mudando
de assunto.
- Ah eu... – Buddy latiu. Os zumbis desciam a escadas aos
tropeços. O que essas pestes fazem na minha casa?
Hipoteticamente falando, como a gente não vem pra cá a um
pouco mais de um ano, que foi quando tudo isso começou podem ter pensado que estava desocupada e
alguma família veio se instalar. Talvez tenham feito muito barulho, ou coisa do
tipo e alguns zumbis vieram atacar e com medo eles se trancaram no banheiro.
Hipoteticamente falando, essa é uma boa opção.
Sam, com toda força que possuía num braço enfiou como uma
lança a espada na cabeça do zumbi, a espada cravou no chão de madeira e o zumbi
caiu espirrando sangue negro. Eu cortei a cabeça de outro com um movimento.
Fiquei tonta, cambaleei e cai. Coloquei a mão na testa, caralho ta doendo
muito.
- Lola? Você está bem? – Olhei pra Sam. E então, tudo ficou
em câmera lenta.
Sam se distraiu comigo, e não viu o zumbi vindo atrás dele,
o errante arreganhou sua boca podre pronto pra morder o pescoço do meu irmão,
antes que pudesse Buddy mordeu sua perna fazendo o zumbi cair de quatro com a
boca em cima de suas costas. Trocando seu alvo.
- NÃO!- Gritei em desespero. Levantei rápido, minha visão
escureceu. Apoiei minha mão no chão e a outra segurei minha testa, Buddy eu vou
chegar até você amigão. Eu vou. Senti uma pontada tão profunda no meu coração
que tive que colocar minha mão em meu peito e ver se sangrava, não. Era apenas
um repentino vazio, de uma parte cortada do meu coração. O desespero se
fortaleceu quando ouvi Sam chorando baixinho em lamentação.
- Não... Não... Não... – Olhei pra ele. Diante daquilo, de
repente fiquei com uma raiva gigantesca. E então, virei uma maquina de matar.
Pulei Sam que estava sentado na possa de sangue de Buddy, com ele ao seu lado
acariciando sua cabeçona que já estava perdendo a cor dos olhos azuis, enfiei
minha espada na cabeça de um zumbi fazendo seu sangue se espalhar pela escada.
Corri escada acima, em direção ao banheiro e lá tinham mais três zumbis.
Segurei forte o cabo da espada com as duas mãos e decepei os três zumbi se um
vez. Fazendo uma cortinha de sangue se espalhar pela parede.
Depois que eu terminei, meu sangue simplesmente esfriou. O
choque da realidade me possuiu, minhas pernas ficaram bambas e eu tive que me
apoiar na espada para conseguir andar. Desci a escada lentamente, abominando o
momento em que finalmente chegaria ao fim dela.
Desabei no chão, larguei a espada e fechei minha mão num
punho. Sam limpou o rosto e sentou no degrau da escada, observando a mim com
seus olhos castanhos brilhando com um
perolada lágrima caindo. Ouvi o choro baixinho de Buddy, como um ultimo pedido
de misericórdia, eu o tomei em meus braços, minhas lágrimas caiam e desapareciam
sobe seu pelo. Eu passei minha mão carinhosamente pela sua cabeça.
- Eu lembro quando eu ganhei você – Disse para ele. Talvez
seja ridículo, uma garota de 18 anos falando com um cachorro. Mas eu não me
importo, ele é mais do que um animal de estimação – eu fiquei tão feliz que
queria ficar com você no colo o dia todo. Lembro que te tratava como um bebe –
Funguei – mas o que eu mais lembro foi da sensação que tive quando fui dar o
seu nome. Eu olhei pra você e pensei, esse é um cachorro especial. Não pode ter
um nome comum, ele é da família, merece ter um nome digno de campeão. E então
resolvi te chamar de Buddy, porque... – Continuei a fazer carinho em baixo do
rosto dele, porque ele adora. Olhei para a mangueira relembrando momentos
felizes – porque você é um amigão, não é? – Voltei meu olhar para ele, seus
olhos já estavam fechados. Seu coração havia parado de bater, e sua alma já na
estava mais neste mundo – Buddy? – Voltei a chorar descontroladamente – Buddy –
Abracei ele com força, Sam abaixou o rosto e colocou-o entre as pernas,
tampando-o com os braços. Estiquei meu braço até a mesa e peguei uma flecha,
enfiei sua lança com cuidado na parte de trás da cabeça de Buddy, para não
correr o risco dele voltar. Depois de umas duas horas Sam se levantou, e tirou
os corpos dos zumbis da casa, levou-os para dentro da floresta e os queimou lá.
Enquanto eu,fiz uma lápide com madeira escrito com ferramentas do meu pai. E
depois fiquei durante horas, sentada na sala com Buddy nos braços. O pôr do sol
já estava acabando quando Sam finalmente me perguntou:
- Onde você quer... Enterrar ele?
- Em baixo da mangueira.
- Nada mais justo – Sam foi até o jardim e começou a cavar,
agradeci-o mentalmente por não me pedir ajuda nisso. Eu não iria conseguir.
Peguei a coleira de Buddy e segurei com força na mão enquanto levava-o até a
mangueira e o coloquei com cuidado dentro da cova. Depois fiquei observando a
terra cair sobe seu corpo.
“Aqui jaz Buddy, um cão, um companheiro, um amigo” dizia a
lápide.
Sam observou por alguns instantes e depois deu dois tapas
leves no meu ombro e voltou para casa. Senti uma rajada de vento fazer algumas
folhas caídas dançarem sobe o solo. Vem chuva ai.
- Buddy, me desculpa – Minha garganta fechou, e minhas
lágrimas caíram junto ao meu sangue que teimava em rolar. Apertei com força a
coleira na minha mão – Eu devia ter te protegido. Devia ter feito de tudo pra
te proteger, mas eu não consegui. Você protegeu o Sam, certo? Porque somos um
família – coloquei a coleira como colar no meu pescoço – agora vai ser
diferente... Agora diante de sua lápide eu te prometo. Prometo que não vou
deixar o Sam morrer, vou protegê-lo custe o que custar, nem que eu tenha que
arriscar minha vida... Ou até mesmo perde-la – Fiquei alguns segundos em
silencio apenas ouvindo o som uivante do vento. Até que decidi me levantar. Dei
dois tapas de leve na lapide de madeira e sussurrei – Obrigada amigo, obrigada
por tudo.
Entrei em casa e sentei no sofá.
- O que aconteceu com a sua testa?
- Bati a cabeça – Sam se aproximou.
- Perdeu muito sangue... A gente precisa de uma
transfusão...
- É, só que seu tipo sanguíneo não é o mesmo que o meu... –
Respondi.
- É só a gente... – Sam parou de falar de repente. Barulho.
Tem alguém vindo. Olhei para ele, e ele assentiu. Peguei o arco e flechas e
observei a sombra do invasor, a luz de velas da sala. Ele continuou andando,
até que eu atirei uma flecha a alguns centímetros de seu pé.
- Não se atreva a dar nem mais um passo – Não conseguia ver
seu rosto, mas aqueles ombros...
- Lola? – Abaixei o arco.
- Drew?
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