- Lola, não fique tão perto da piscina! – Ouvi minha mãe
gritar.
- Ta – fomos passar um fim de semana na chácara dos meus
tios, a brisa do vento é muito boa, o cheiro de grama, o silencio. A paz, o
barulho das arvores. Aqui é legal. Sam estava discutindo com meu pai, porque
ele queria entrar na piscina, mas meu pai não deixava porque ele tava doente.
Olhei mais a cima, e do topo de uma arvore voou um tucano. Antes de eu
perceber, Buddy veio correndo perseguindo uma borboleta, bateu na minha perna e
me derrubou na piscina. Eu não sei nadar.
Sam mergulhou e me tirou de lá, comecei a tossir água, e
respirar fundo.
- Você ta bem? – Perguntou ele. Eu assenti:
- To te devendo uma.
- E eu vou cobrar com juros.
Dias atuais
“Quando você fala o que pensa, prepare para ser crucificado,
porque as pessoas estão mais acostumadas com a doce mentira do que com a amarga
verdade” – Dizia minha mãe.
“Para começar uma guerra, não são necessárias armas. Apenas
dizer o que pensa” – Martin Luther King.
E quando você sente? Começa uma guerra consigo mesma? Eu
estava começando a sentir ela se aproximando. Um time era a “solidão” e o outro
a “vontade de continuar”, estava começando a ficar difícil sair da cama. Um
bando de sentimentos se aglomeravam no meu coração, como lava subindo
borbulhante dentro de um vulcão. Ficara difícil até respirar.
Sam agora é a única pilastra que me mantém, sem ele eu caio,
e eu por isso que eu estou obstinada a protegê-lo.
Nunca mais vou enterrar pessoas que eu amo, não vou enterrar
Sam. Talvez esse seja um pensamento egoísta, mas eu não ligo.
Virei na cama e girei o anel que Drew me daria no dedo.
“Lola e Drew para sempre” suspirei. Apesar de ter ficado com dois ou três
garotos durante a vida, Drew foi o único que fez minhas pernas fraquejarem com
um sorriso, que fazia eu perder a concentração só com sua presença, que fazia
meu corpo implorar por ele apenas sentindo seu cheiro, o único que eu amei.
Virei na cama de novo, e dei de cara com a coleira de Buddy
na mesa. Olhei pro teto, passei a mão pelo cabelo, cansada. Não de corpo, mas
de mente. Minha mente vem trabalhando sem cessar esses dias, e eu não aguento
mais. Ai meu Deus, como eu sou fraca.
Levantei, desci as escadas e fui até o jardim. Percebi que
Sam limpou tudo, como na noite que Buddy morreu e ele limpou a casa toda
enquanto eu dormia. Ainda estava escuro, sentei ao lado da sepultura de Buddy.
Essa hora da manhã depois do sereno da noite, a grama fica úmida. Puxei o ar
repleto com o cheiro de grama molhada, amo esse cheiro. É tão... Puro.
“Aqui jaz Buddy, um cão, um companheiro, um amigo” deitei.
Sabe quando uma pessoa que você ama, e que te ama e mesmo quando não falam nada
é como se falassem tudo? Como se apenas a presença da pessoa fizesse aliviar a
dor? Era sempre isso que eu sentia quando vinha ver a sepultura de Buddy,
parece até que mesmo depois de sua morte ele me protege quando estou perto.
Olhei ao redor da casa e vi zumbis se aglomerando presos nas armadilhas, foram
atraídos pela carnificina e gritaria de ontem, tenho que lembrar de trocar
essas armadilhas,
O sol estava nascendo. Amo o nascer e o pôr do sol, são a
única coisa no mundo que não foi tocada por humanos, a única coisa que ainda
continua a mesma desde que tudo começou. Definitivamente é a atmosfera da casa.
Fez um dia de sol, algumas mangas caíram sobe a sepultura de Buddy, eu as
deixei ali. As flores começaram a florescer ao seu lado. Levantei, entrei na
sala de treinamento e comecei a socar o saco de pancada, com mais força a cada
golpe.
- Bom dia – Sam entrou.
- Bom dia – Respondi. Sam pegou outro saco de pancada e
colocou no prendedor ao meu lado, começou a socá-lo.
- Você ta legal? – Perguntei.
- Essa pergunta, eu gostaria que você respondesse.
- Eu to bem – Sam olhou pra mim – Só não quero mais enterrar
gente que eu amo – Ele não respondeu – Sam pode me prometer uma coisa?
-Acho que sim... – Ele parou de socar e olhou pra mim – O
que é?
- me prometa que você vai morrer bem velhinho, e de um jeito
que você aceite.
-Lola...
- Prometa – não sei porque disse isso, mas eu sentia que
devia. Ele hesitou, suspirou e respondeu:
- Prometo – Eu assenti, e voltei a socar, mais aliviada
dessa vez, mas Sam continuou a me observar:
- Sabe... – Disse ele por fim – quando você da uma festa de
aniversário e a pessoa que você mais queria não foi, parece que o aniversário
não teve graça. Ou quando um casal tem um casamento de 10 anos, e no décimo
terceiro ano a esposa descobre que o marido a traiu, parece até que o casamento
não valeu a pena, que foi baseado em mentiras. E isso, eu acho que talvez valha
para nossa vida. Se morrermos de um jeito ruim parece que ela não valeu a pena.
Então Lola... Sua vida tem valido a pena? – Todas as histórias que contei são
felizes, quando olho pra trás, apesar de coisas ruins que aconteceram aqui eu
só lembro das melhores. Parece até que vivemos a base do lado bom da vida, e
isso é bom. Certo?
- Valeu a pena – Respondi. Sam pegou minha mão e me puxou
para um abraço quente e aconchegante.
Barulho de água.
- mas o que...? – Sam e eu corremos pra fora da casa, um
zumbi caiu dentro do poço. As armadilhas se excederam. Uma horda de zumbis,
maior do que qualquer uma que já viu vinha marchando sombriamente em direção a
casa.
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