- Por favor, pai... –
Pedi agarrando a barra da camiseta dele, e erguendo minha cabeça para olhar em
seus olhos.
- Ah Lola... Não sei não... – Respondeu ele pensativo,
coçando a cabeça com o dedo indicador. Eu olhei para trás, quase desesperada. E
lá estava ele, Drew. Da minha altura, 14 anos (igual a mim), cabelos negros e
olhos azuis tão claros quanto cristalinos e o sorriso mais lindo do mundo.
Estava encostado numa arvore apoiando uma das mãos em seu arco, com a outra mão
segurando a bolsa de couro das flechas. Papai olhou para Drew com uma das
sobrancelhas erguidas.
- Pai a gente já saiu com ele, e você sabe como ele é. E
você sabe o que vamos fazer.
- Sim filha, mas você vai sair pra caçar com este menino,
sozinha.
- Idai?! – Até meu pai por mais tapado que fosse percebe que
eu tenho uma queda por ele, desde sempre – por favor... – Papai bateu duas
vezes com o dedão em sua testa. Ele fazia isso sempre que tinha que tomar uma
decisão difícil e rápido. É uma das coisas que eu puxei dele.
- Ta bom...
- Ahh, obrigada, obrigada – Abracei ele. Peguei meu arco e
andei rápido até Drew.
- Ta pronta? – Perguntou ele.
- Uhum.
- Legal – Ele começou a andar mata a dentro, e eu o segui.
Essa é uma rota que fazíamos sempre que eu ia para a casa de campo com a
família. Quando eu chegava, Drew já estava me esperando para irmos caçar
juntos. É um hobbie bem pessoal, eu caçava com minha mãe também, até porque foi
ela que me ensinou a atirar flechas. Mas não tinha sensação melhor do que caçar
com Drew, não acho que seja por caçar, mas sim por estar com ele. Tinha alguma
coisa que em sua atmosfera que deixa tudo mais agradável. Segurei o ombro dele
e o fiz abaixar atrás de um arvore. Ele olhou nos meus olhos e eu nos dele,
bati dois dedos duas vezes no meu ouvido e apontei para direita com o dedo
indicador. Ele entendeu. Mirou por entre os arbustos e atirou a flecha. Sua
flecha passou por entre a folhagem da floresta e parou no pescoço de um veado.
Eu atirei a segunda flecha, que parou na cabeça do animal – Não existe
absolutamente ninguém com a percepção melhor do que a sua.
- Existe sim, meu irmão é bom nisso – Respondi, me
levantando.
- Eu ainda acho você melhor - ele olhou pra mim sorrindo. E
eu abaixei o rosto e sorri timidamente enquanto andávamos até o animal caído.
Tirei a flecha e coloquei-as de volta nas mochilas – Vem cá – Drew estendeu sua
mão pra mim – tem um lugar que eu gostaria de te levar – Segurei sua mão
surpresa, e me deixei ser guiada – Eu sempre venho aqui, quando tenho muita
coisa pra pensar – Disse Drew algum tempo depois. Quando chegamos a uma
cachoeira. Eu nunca soube que tinha uma dessas aqui – O som da água e o ar puro
parece que alivia – Ele segurou minha mão com mais força e me ajudou a sentar
numa pedra, depois sentou ao meu lado – As vezes quando eu to confuso –
Continuou olhando nos meus olhos com aquele olhar forte, e com seu rosto
perigosamente próximo ao meu – ou quando minha mãe me enche o saco, ou...
- Ou o que?
- Ou quando eu sinto sua falta – Meu coração nunca bateu tão
forte. Ele segurou meu rosto e me deu um beijo.
Dias atuais.
Peguei o pote de água do Buddy e coloquei no meu colo,
coloquei água neste e Buddy que estava no assoalho do carro bebeu tão rápido
que espirrou água em mim. Sam parou o carro numa rua qualquer, ascendemos a
lanterna com a luz baixa.
- Vai com calma cara – Coloquei o pote de água vazio em
baixo da minha poltrona e abri um saquinho de salgadinho, comecei a comer
dividindo o pacote com Buddy.
- Será que ainda tem algum amigo nosso vivo? – Perguntou Sam
– nossos vizinhos da casa de campo talvez?
- Eu só tinha um amigo lá – Sam olhou pra mim e sorriu, eu
encolhi meus olhos. Ele esticou os pés por cima do volante, e continuou comendo
o salgadinho dele.
- Será que ele está lá?
- Acho que sim – Disse sem emoção, mas não posso negar meu
coração bateu um pouco mais forte – Ele não morreria tão fácil.
- É acho que não – Sam sorriu, aquele sorriso todo alegre
que eu amo. Eu fechei minha mão e apertei com força. Eu devia ficar feliz
quando meu irmão sorri desse jeito, mas a verdade é que meu coração aperta e eu
me sinto culpada. Eu deveria dar a Sam uma vida digna de ser vivida com
felicidade, não essa droga que temos que ficar viajando todo tempo. É por isso
que temos que chegar na casa de campo. Chegar num lugar nosso, onde podemos
ficar tranqüilos. Onde teremos animais para comer, e um poço de água – Porque
ta me olhando desse jeito?
- Nada – Buddy pulou em mim e passou pro banco de trás,
joguei o saco do salgadinho na rua, depois fechei a janela novamente.
- Sabe... – Sam jogou seu lixo pra fora também– Eu sinto
falta do seu sorriso – Olhei pra ele sem entender.
- Como assim? Eu sorrio.
- Não como antes...
- Eu nunca fui tão sorridente, Sam. Você foi sempre o raio
de luz da casa.
- Mas o seu sorriso era o mais bonito. Eu gostava de quando
você sorria comigo, quando você brigava ou cuidava de mim, quando a gente fazia
coisas juntos e nos tratamos com carinho ou quando você me batia. Eu sinto
falta da gente.
- Sam...
- Tudo bem... É um apocalipse certo? Não temos tempo pra
esse tipo de coisa... – Abaixei meu olhar.
- Eu sempre tento ser a melhor. Eu vivo pra proteger o Buddy
e você. Nada mais importa.
- Eu te protejo e o Buddy também. A gente é uma família,
certo? – Eu fechei meu punho com mais força. Sorri sem mostrar os dentes, de um
jeito aliviado. Sam abriu aquele sorriso de novo.
- Certo.
- É... Não é bem um sorriso, mas pelo menos não ta com
aquela cara fechada de sempre – Revirei os olhos. Estática.
- Aranha? – Sam pegou o walkie talkie.
- Tio Ben?
- Benjamin deixa eu falar com eles... Espera Charllote!...
Amores? Filhos?
- Oi mãe – Respondi.
- Oi mãe! – Disse Sam.
- Vocês tão bem? Tão dormindo bem? Comendo bem? Bebendo
muita água?
- A gente ta legal mãe – Respondi – Sam dorme mais do que
tudo, comendo e bebendo só quando achamos alguma coisa.
- Mas e você minha filha? Tem dormido? – Não disse nada.
- Ela não dorme mãe. Não sei porque, não gosta.
- Lola não gosta de dormir? HÁ! Essa é nova – Ouvi a voz do
papai no fundo – David não seja indelicado! Charllote, me devolve esse walkie
talkie – Disse tio Ben – Mas Benjamin... Crianças?
- Fala tio Ben – Disse Sam.
- Durma Maravilha, porque se não, não terá forças para matar
os vilões.
-Tudo bem tio Ben – Eu olhei no espelho. A cada dia que
passava eu ficava pior. Meus olhos estavam com tantas olheiras que ficavam
quase pretos. Eu estava mais magra do que o aconselhável, eu estava deplorável.
Mas a questão é que, não é que eu não queira dormir, é que eu simplesmente não
consigo. Sempre tenho pesadelos, é horrível. Sam me olhou com atenção e depois
ouvi responder:
- Ela está tão Maravilha tio Ben, mas continua bonita.
A noite passou e estava tudo tão calmo. Buddy ficava
acordado como sempre, para vigiar. Eu o treinei bem, ele é quase tão bom quanto
um cão da policia. Ele vigia durante a noite e se alguma coisa estiver errada
ele bate a pata em mim ou me lambe. Ele ataca quando vê ameaça, e não deixa
estranhos se aproximarem de nós. E o melhor, ele não tem medo de zumbis.
O dia amanheceu e nós voltamos pra estrada.
- POR FAVOR! PAREM! PARA! POR FAVOR! – Sam parou o carro
abruptamente, ele ficou assustado quase não conseguia respirar.
- Mas que porra...? – Especulei. Um casal, eles correram
para o lado da minha janela completamente desesperados e disseram.
- Por favor, levem a gente com vocês. Nos levem junto! –
Buddy levantou no banco de trás e ficou observando com atenção.
- Desculpe, o grupo ta completo – Respondi com
tranqüilidade.
- Nós podemos ajudar! Nós ajudaremos! – Disseram gritando.
- Não precisamos de ajuda – Virei meu rosto pra frente - Se
ajudem.
- Por favor! - O
homem segurou meu braço com força. Voltei meu olhar pra ele, Buddy rosnou, o
homem olhou com medo pra ele. Senti o ar de Sam mudar, de assustado para
irritado.
- Não tem lugar pra vocês aqui – Disse.
-Mas... – Buddy
latiu. Clique.
- Cara, se afasta da moça – Sam apontava uma arma pra ele.
Eles se afastaram do carro, e Sam acelerou – Você viu a pele deles?
- Vi. Eles tão se
transformando – Peguei a arma de Sam e atirei na cabeça dos dois.
Drew <3333
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