quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Capitulo 7

“Ponto de vista do Drew”
- Quando você volta? – Lembro de ter perguntado isso a ela lutando contra minha garganta fechada que quase me impedia de falar. Estava chovendo, uma chuva forte, mas isso não me impedia de ver seus lindos olhos tristes.
- Não sei – Respondeu abaixando o rosto – meu pai está preocupado com essa epidemia, e quer estar em casa se alguma coisa der errado.
- Então talvez eu nunca mais te veja? – Não consegui impedir, algumas lágrimas rolaram pelos cantos dos meus olhos – Lola? – toquei com carinho seu queixo e subi seu rosto pra mim – eu não posso te perder – Ela não me respondeu – o que vai acontecer agora?
- Acho que vou ficar em casa com Sam e Buddy enquanto as coisas estão normais, e meus pais vão ver se meus tios estão bem.
- Não tem lugar mais seguro que esse, por favor fica. Não me deixa – Ela olhou dentro dos meus olhos, era incrível como eu não conseguia adivinhar o que ela está pensando. Nunca consegui. Ela me abraçou.E sussurrou em meu ouvido, fazendo os pelos da minha nuca se eriçarem:
- Eu nunca vou te deixar. A gente vai se ver – E então ela me soltou, pegou sua mochila e foi embora, levando uma parte de mim com ela.

Esse dia tem apunhalado minha cabeça a quase um ano, e agora nós estamos aqui. Nessa cachoeira, juntos. Eu a tenho em meus braços e não vou perdê-la de novo, vou protegê-la de qualquer coisa. Não vou deixar nada machucá-la.
A água que caia da cascata batia pelo lado do nosso corpo, era uma boa sensação de limpeza e alivio. E então separamos nossos lábios quando começou a chover.
- Acho que devemos voltar – Disse. Ela assentiu. Nossos pés afundavam na grama, água era espirada para os lados e a chuva aumentara. Entramos em casa e eu fechei a porta.
- Sam? – Chamou Lola. Ela tirou o tênis sujo, passou pela sala, abriu a porta que dava na sala de treinamento e entrou.
- Oi – Ouvi a voz de Sam,eu a acompanhei, e quando entrei vi um Sam diferente daquele que me recebeu ontem, diferente ao Sam que sempre sorria quando éramos jovens, diferente do Sam. Ele estava suado, e sua expressão beirava a raiva. Ele treinava com o saco de pancada.
- Ta fazendo o que? – Perguntou Lola.
- O que parece que eu to fazendo? – Perguntou ele com ironia socando o saco com mais força.
- O que você tem?
- Nada – Respondeu ele, sem nem olhar pra ela. Lola deu dois passos para o lado do saco de pancadas e repetiu:
- O que você tem?
- Não enche - Lola fechou a mão direita num punho, e socou a lateral do saco. Ele deslizou pelo fio que o segurava até o outro lado da sala – qual o seu problema?!
- Treina comigo.
- Como é? – Perguntou Sam.
- Não sei porque, mas você está com raiva. Desconta em mim – Lembro que a única coisa que a Lola não conseguia suportar era quando Sam se calava. Quando ele ficava com raiva, e se trancava na sala de treinamento sem falar nada. Ela sempre ia atrás dele.
- Para de besteira Lola – Disse Sam, ela socou o braço dele. Ele olhou pra ela como se ela fosse louca, ela impulsionou o joelho para cima e ele o parou com as duas mãos. Ele estendeu o braço para empurrá-la, ela segurou seus pulsos e tentou derrubá-lo chutando a parte de trás de seu joelho, Sam apenas cambaleou. Com as mãos de Lola segurando seus pulsos, Sam segurou os dela e a derrubou. Lola impulsionou as mãos no chão e deu uma cambalhota. Sam estendeu a mão para empurrar o ombro de Lola e ela segurou seu pulso, Lola tentou socar o ombro de Sam e ele segurou seu punho. Ofegante Sam parou. Soltou o punho de Lola e esta relaxou, Sam virou o rosto para baixo e então eu vi uma lágrima rolando solitária para  a ponta de seu nariz, suas pernas fraquejaram e ele caiu de joelhos – me desculpa...
- Desculpar pelo o que? – Perguntou Lola com uma voz tranquilizante, ela passava a mão sobe o cabelo dele, era estranho ver Sam assim. Tão... Acabado?  – o que ta acontecendo Sammy?
- Foi tudo minha culpa, se eu não tivesse sido tão idiota, Buddy não teria morrido. Eu não... Eu...
- Eu não o culpo Sam. E você também não deveria. Se acalma, ta bom?  Nada disso foi culpa sua, tudo vai dar certo.
- Mas eu... – Lola puxou seu rosto pra perto e o abraçou de um jeito acolhedor, como se ela pudesse arrancar toda tristeza de Sam com um abraço. E talvez ela pudesse.
É engraçado como ela consegue deixar tudo melhor, como ela consegue despertar o melhor nas pessoas, em mim. Como ela sempre sabe o que dizer, é como se apenas estando ao seu lado tudo parecesse melhor. Incrível como ela pode me deixar viciado em estar com ela, ficar com ela, não da mais pra ficar longe dela.
Mais tarde naquela noite, ouvimos estática no walkie talkie.
- Crianças? – Ouvi a voz do Sr. Prize.
- Oi pai – Respondeu Lola.
- Temos más noticias.
- O que aconteceu? – Perguntou Sam.
- Acho que sua tia Trisha atraiu alguns zumbis depois de ir a rua, e bom...
- O que aconteceu? – Sam repetiu.
- Trisha foi mordida – Ouvi Lola prender a respiração, Sam ficou atônito - crianças? – nenhum deles respondeu – crianças?
- Ah... Boa noite senhor Prize – Eu disse pegando o walkie talkie.
- Drew? Oi. Ta tudo bem por ai?
- Sim, é que... Tem muita coisa acontecendo;
- Serio?
- Sim... Hm... Buddy faleceu.
- Nossa... HM... Tudo bem, obrigado Drew. Tome conta deles – E então estática. Alguns minutos se passaram até que Sam disse:
- Eu vou pro quarto. Boa noite – E então ele subiu.
- Eu também– E então Lola subiu, e eu fiquei sentado durante algum tempo, apenas observando a luz da vela oscilando. É engraçado o jeito que as coisas são, um dia você está bem e no outro está mau. Num dia você está com alguém e no outro está em seu enterro. Minha mão sempre dizia “a felicidade é relativa” eu nunca entendi. Ou você está feliz ou não está, certo?
 Errado.
A verdade é que você pode parecer feliz, mas você pode estar apenas mascarando a verdade até de você mesma. Num momento feliz, no outro triste. Bem vindo ao mundo destino. População? Azarados.
Peguei o suporte da vela e subi as escadas, a chuva ainda rugia, com vai força agora. Fazendo seus pingos baterem com força nas janelas e seus trovões fazerem a casa tremer. Bati duas vezes na porta e abri:
- Hm... Só passei pra falar boa noite.
- Drew... Entra – Não fiz nada alguns instantes, surpreso, hesitante. Porque estou hesitante?  Fechei a porta atrás de mim. Lola estava com a coleira de Buddy na mão, sentei na cama e coloquei a vela em cima da mesa.
- Eu... Sinto muito pela sua tia.
- Talvez seja como você disse... Talvez tenha sido melhor para ela.
- É, talvez – Eu a via tão frágil naquele momento, fui tomado por uma vontade de abraçada e deixá-la bem.Eu a observei por algum tempo imaginando o que estava sentindo, uma frase ficava presa em minha garganta. Será que eu devo falar? Talvez seja cedo demais. Mas é o que eu sinto a tanto tempo, talvez eu deva falar. E se eu disser um “Eu te amo” e receber um “obrigada”?  Meus pensamentos dispersaram eu vi uma lágrima escorrendo pela sua bochecha. Limpei a lágrima e senti seu rosto frio. Ela apenas me fitou por alguns instantes, senti meu coração acelerar.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela fez. Puxou meu rosto para si e me beijou, este beijo foi diferente do da cachoeira. Aquele foi sereno, calmo. Este está rápido, cheio de sentimento e desejo. Coloquei minha mão em sua cintura, ela veio mais perto encostando seu peito em meu tórax, eu tirei minha camiseta e ela a dela. Ela arrancou o sutiã, e beijou minha nuca, segurei suas costas e a deitei na cama. A imagem de seu rosto tremeluzia a luz de velas.

Quando acordei, olhei para o lado na cama e estava vazio. Fiquei me perguntando se a noite passada foi sonho. Me levantei e andei até o banheiro, virei de costas ao espelho e então eu vi. Um arranhão selvagem feito pela unha de Lola. Não foi sonho. Desci as escadas e vi Lola e Sam plantando ao lado do tumulo de Buddy.
- Bom dia – Eu disse.
- Bom dia cara – Respondeu Sam.
- Bom dia – Disse Lola sorrindo. Sam começou a andar em minha direção, parou ao meu lado e colocou sua mão sobe meu ombro.
- Obrigado por trazer os sorrisos da minha irmã de volta – Olhei pra ele, e ele sorria. Entrou em casa e pegou uma pá.
- Tão plantando o que? – Perguntei me aproximando.
- Lírios – Respondeu Sam .
- Pensei que você não gostasse de flores – Disse depois de pegar uma semente na mão.
- Eu gosto de flores – Respondeu Lola – eu não odeio o cheiro delas. Me lembra imterro.
- Então pra que plantar?
- Porque Buddy merece – Ela respondeu.
- Elas vão crescer perto do tumulo do Buddy. Assim mesmo quando não estivermos por perto, ele sempre vai ganhar flores – Disse Sam. Eu sorri pra ele e comecei a ajuda.
Lembro de uma vez, depois do meu primeiro beijo com a Lola, que eu estava deitado na cama e fiquei pensando nela. Peguei o telefone e liguei:
- Alo? – Ouvi ela dizer.
- Oi Lola... É o Drew.
- Oi Drew! Como você ta?
- Bem e você?
- To legal.
- Sabe, eu comprei uma coisa pra você – Eu tinha comprado um anel, nada demais. Mas eu comprei com 2 meses de mesada. Tinha até mandado gravar “Lola e Drew. Pra sempre” nele. Eu sei, eu sei muito clichê. Mas sei lá... Esse tipo de coisa boba, é o que ela me faz fazer.
- Jura? – Perguntou curiosa – O que é?
- Não posso contar. É surpresa – Eu sorri. Estava com o anel na mão, girando ele entre meus dedos.
- Ah poxa! Vai me entregar quando? – Perguntou ela.
- No momento certo.
 Acho que esse momento já chegou, chegou a muito tempo e eu não entreguei por medo. Chega de medo Drew! Vou entregar hoje. Por isso coloquei ele no bolsa de fora da jaqueta, hoje a noite eu entrego para ela;
O pôr do sol estava subindo quando ouvi barulho de carro. Lola fez sinal para Sam, ele parou do lado da porta e eu o acompanhei. Ela pegou a espada e saiu de casa. Foi então que eu os vi. Um bando com dois carros, 10 pessoas. Um homem grande, forte, careca, com uma tatuagem de militar no ombro direito andava na frente do grupo.
- Quem são vocês? – Perguntou Lola, apoiando a espada nas costas.
- E isso importa? – Respondeu o homem.
- O que estão fazendo aqui? – Perguntou ela.

- Vim tomar este lugar.

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