“Ponto de vista do Drew”
- Quando você volta? –
Lembro de ter perguntado isso a ela lutando contra minha garganta fechada que
quase me impedia de falar. Estava chovendo, uma chuva forte, mas isso não me
impedia de ver seus lindos olhos tristes.
- Não sei – Respondeu abaixando
o rosto – meu pai está preocupado com essa epidemia, e quer estar em casa se
alguma coisa der errado.
- Então talvez eu
nunca mais te veja? – Não consegui impedir, algumas lágrimas rolaram pelos
cantos dos meus olhos – Lola? – toquei com carinho seu queixo e subi seu rosto
pra mim – eu não posso te perder – Ela não me respondeu – o que vai acontecer
agora?
- Acho que vou ficar
em casa com Sam e Buddy enquanto as coisas estão normais, e meus pais vão ver
se meus tios estão bem.
- Não tem lugar mais
seguro que esse, por favor fica. Não me deixa – Ela olhou dentro dos meus
olhos, era incrível como eu não conseguia adivinhar o que ela está pensando.
Nunca consegui. Ela me abraçou.E sussurrou em meu ouvido, fazendo os pelos da
minha nuca se eriçarem:
- Eu nunca vou te
deixar. A gente vai se ver – E então ela me soltou, pegou sua mochila e foi
embora, levando uma parte de mim com ela.
Esse dia tem apunhalado minha cabeça a quase um ano, e agora
nós estamos aqui. Nessa cachoeira, juntos. Eu a tenho em meus braços e não vou
perdê-la de novo, vou protegê-la de qualquer coisa. Não vou deixar nada
machucá-la.
A água que caia da cascata batia pelo lado do nosso corpo,
era uma boa sensação de limpeza e alivio. E então separamos nossos lábios
quando começou a chover.
- Acho que devemos voltar – Disse. Ela assentiu. Nossos pés
afundavam na grama, água era espirada para os lados e a chuva aumentara.
Entramos em casa e eu fechei a porta.
- Sam? – Chamou Lola. Ela tirou o tênis sujo, passou pela
sala, abriu a porta que dava na sala de treinamento e entrou.
- Oi – Ouvi a voz de Sam,eu a acompanhei, e quando entrei vi
um Sam diferente daquele que me recebeu ontem, diferente ao Sam que sempre
sorria quando éramos jovens, diferente do Sam. Ele estava suado, e sua
expressão beirava a raiva. Ele treinava com o saco de pancada.
- Ta fazendo o que? – Perguntou Lola.
- O que parece que eu to fazendo? – Perguntou ele com ironia
socando o saco com mais força.
- O que você tem?
- Nada – Respondeu ele, sem nem olhar pra ela. Lola deu dois
passos para o lado do saco de pancadas e repetiu:
- O que você tem?
- Não enche - Lola fechou a mão direita num punho, e socou a
lateral do saco. Ele deslizou pelo fio que o segurava até o outro lado da sala
– qual o seu problema?!
- Treina comigo.
- Como é? – Perguntou Sam.
- Não sei porque, mas você está com raiva. Desconta em mim –
Lembro que a única coisa que a Lola não conseguia suportar era quando Sam se
calava. Quando ele ficava com raiva, e se trancava na sala de treinamento sem
falar nada. Ela sempre ia atrás dele.
- Para de besteira Lola – Disse Sam, ela socou o braço dele.
Ele olhou pra ela como se ela fosse louca, ela impulsionou o joelho para cima e
ele o parou com as duas mãos. Ele estendeu o braço para empurrá-la, ela segurou
seus pulsos e tentou derrubá-lo chutando a parte de trás de seu joelho, Sam
apenas cambaleou. Com as mãos de Lola segurando seus pulsos, Sam segurou os
dela e a derrubou. Lola impulsionou as mãos no chão e deu uma cambalhota. Sam
estendeu a mão para empurrar o ombro de Lola e ela segurou seu pulso, Lola
tentou socar o ombro de Sam e ele segurou seu punho. Ofegante Sam parou. Soltou
o punho de Lola e esta relaxou, Sam virou o rosto para baixo e então eu vi uma
lágrima rolando solitária para a ponta
de seu nariz, suas pernas fraquejaram e ele caiu de joelhos – me desculpa...
- Desculpar pelo o que? – Perguntou Lola com uma voz
tranquilizante, ela passava a mão sobe o cabelo dele, era estranho ver Sam
assim. Tão... Acabado? – o que ta
acontecendo Sammy?
- Foi tudo minha culpa, se eu não tivesse sido tão idiota,
Buddy não teria morrido. Eu não... Eu...
- Eu não o culpo Sam. E você também não deveria. Se acalma,
ta bom? Nada disso foi culpa sua, tudo
vai dar certo.
- Mas eu... – Lola puxou seu rosto pra perto e o abraçou de
um jeito acolhedor, como se ela pudesse arrancar toda tristeza de Sam com um
abraço. E talvez ela pudesse.
É engraçado como ela consegue deixar tudo melhor, como ela
consegue despertar o melhor nas pessoas, em mim. Como ela sempre sabe o que
dizer, é como se apenas estando ao seu lado tudo parecesse melhor. Incrível
como ela pode me deixar viciado em estar com ela, ficar com ela, não da mais
pra ficar longe dela.
Mais tarde naquela noite, ouvimos estática no walkie talkie.
- Crianças? – Ouvi a voz do Sr. Prize.
- Oi pai – Respondeu Lola.
- Temos más noticias.
- O que aconteceu? – Perguntou Sam.
- Acho que sua tia Trisha atraiu alguns zumbis depois de ir a
rua, e bom...
- O que aconteceu? – Sam repetiu.
- Trisha foi mordida – Ouvi Lola prender a respiração, Sam ficou
atônito - crianças? – nenhum deles respondeu – crianças?
- Ah... Boa noite senhor Prize – Eu disse pegando o walkie
talkie.
- Drew? Oi. Ta tudo bem por ai?
- Sim, é que... Tem muita coisa acontecendo;
- Serio?
- Sim... Hm... Buddy faleceu.
- Nossa... HM... Tudo bem, obrigado Drew. Tome conta deles –
E então estática. Alguns minutos se passaram até que Sam disse:
- Eu vou pro quarto. Boa noite – E então ele subiu.
- Eu também– E então Lola subiu, e eu fiquei sentado durante
algum tempo, apenas observando a luz da vela oscilando. É engraçado o jeito que
as coisas são, um dia você está bem e no outro está mau. Num dia você está com
alguém e no outro está em seu enterro. Minha mão sempre dizia “a felicidade é
relativa” eu nunca entendi. Ou você está feliz ou não está, certo?
Errado.
A verdade é que você pode parecer feliz, mas você pode estar
apenas mascarando a verdade até de você mesma. Num momento feliz, no outro
triste. Bem vindo ao mundo destino. População? Azarados.
Peguei o suporte da vela e subi as escadas, a chuva ainda
rugia, com vai força agora. Fazendo seus pingos baterem com força nas janelas e
seus trovões fazerem a casa tremer. Bati duas vezes na porta e abri:
- Hm... Só passei pra falar boa noite.
- Drew... Entra – Não fiz nada alguns instantes, surpreso,
hesitante. Porque estou hesitante? Fechei
a porta atrás de mim. Lola estava com a coleira de Buddy na mão, sentei na cama
e coloquei a vela em cima da mesa.
- Eu... Sinto muito pela sua tia.
- Talvez seja como você disse... Talvez tenha sido melhor
para ela.
- É, talvez – Eu a via tão frágil naquele momento, fui
tomado por uma vontade de abraçada e deixá-la bem.Eu a observei por algum tempo
imaginando o que estava sentindo, uma frase ficava presa em minha garganta.
Será que eu devo falar? Talvez seja cedo demais. Mas é o que eu sinto a tanto
tempo, talvez eu deva falar. E se eu disser um “Eu te amo” e receber um
“obrigada”? Meus pensamentos dispersaram
eu vi uma lágrima escorrendo pela sua bochecha. Limpei a lágrima e senti seu
rosto frio. Ela apenas me fitou por alguns instantes, senti meu coração
acelerar.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela fez. Puxou
meu rosto para si e me beijou, este beijo foi diferente do da cachoeira. Aquele
foi sereno, calmo. Este está rápido, cheio de sentimento e desejo. Coloquei
minha mão em sua cintura, ela veio mais perto encostando seu peito em meu
tórax, eu tirei minha camiseta e ela a dela. Ela arrancou o sutiã, e beijou
minha nuca, segurei suas costas e a deitei na cama. A imagem de seu rosto tremeluzia
a luz de velas.
Quando acordei, olhei para o lado na cama e estava vazio.
Fiquei me perguntando se a noite passada foi sonho. Me levantei e andei até o
banheiro, virei de costas ao espelho e então eu vi. Um arranhão selvagem feito
pela unha de Lola. Não foi sonho. Desci as escadas e vi Lola e Sam plantando ao
lado do tumulo de Buddy.
- Bom dia – Eu disse.
- Bom dia cara – Respondeu Sam.
- Bom dia – Disse Lola sorrindo. Sam começou a andar em
minha direção, parou ao meu lado e colocou sua mão sobe meu ombro.
- Obrigado por trazer os sorrisos da minha irmã de volta –
Olhei pra ele, e ele sorria. Entrou em casa e pegou uma pá.
- Tão plantando o que? – Perguntei me aproximando.
- Lírios – Respondeu Sam .
- Pensei que você não gostasse de flores – Disse depois de
pegar uma semente na mão.
- Eu gosto de flores – Respondeu Lola – eu não odeio o
cheiro delas. Me lembra imterro.
- Então pra que plantar?
- Porque Buddy merece – Ela respondeu.
- Elas vão crescer perto do tumulo do Buddy. Assim mesmo
quando não estivermos por perto, ele sempre vai ganhar flores – Disse Sam. Eu
sorri pra ele e comecei a ajuda.
Lembro de uma vez, depois do meu primeiro beijo com a Lola,
que eu estava deitado na cama e fiquei pensando nela. Peguei o telefone e
liguei:
- Alo? – Ouvi ela dizer.
- Oi Lola... É o Drew.
- Oi Drew! Como você ta?
- Bem e você?
- To legal.
- Sabe, eu comprei uma coisa pra você – Eu tinha comprado um
anel, nada demais. Mas eu comprei com 2 meses de mesada. Tinha até mandado
gravar “Lola e Drew. Pra sempre” nele. Eu sei, eu sei muito clichê. Mas sei
lá... Esse tipo de coisa boba, é o que ela me faz fazer.
- Jura? – Perguntou curiosa – O que é?
- Não posso contar. É surpresa – Eu sorri. Estava com o anel
na mão, girando ele entre meus dedos.
- Ah poxa! Vai me entregar quando? – Perguntou ela.
- No momento certo.
Acho que esse momento
já chegou, chegou a muito tempo e eu não entreguei por medo. Chega de medo
Drew! Vou entregar hoje. Por isso coloquei ele no bolsa de fora da jaqueta,
hoje a noite eu entrego para ela;
O pôr do sol estava subindo quando ouvi barulho de carro.
Lola fez sinal para Sam, ele parou do lado da porta e eu o acompanhei. Ela
pegou a espada e saiu de casa. Foi então que eu os vi. Um bando com dois
carros, 10 pessoas. Um homem grande, forte, careca, com uma tatuagem de militar
no ombro direito andava na frente do grupo.
- Quem são vocês? – Perguntou Lola, apoiando a espada nas
costas.
- E isso importa? – Respondeu o homem.
- O que estão fazendo aqui? – Perguntou ela.
- Vim tomar este lugar.
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