sábado, 23 de março de 2013

Capitulo 12 – Perco uma coisa valiosa.


- Como você encontrou a gente? – Perguntou Brenda.
- Eu tive que vir na cidade pra comprar leite e Nescau; E então vi vocês, e não é sempre que alguém conversa com outro por um comunicador. E as pessoas pararam de entrar em Miami. Então... – Merly era um cara de mais ou menos 25 anos. Magro, blusa branca regata, calça jeans, botas de trabalhador e boné da Lacoste. Ele segurava uma sacola de papel. E tinha um sorriso estampado do rosto magro. Olhos castanhos brilhantes.
- É justo – E sorrindo eu apertei sua mão – É muito bom conversar com você sem ser por uma caixa – Guardei o comunicador dentro da mochila de Lola novamente, e começamos a andar – Pra onde vamos?
- Bom, moro com minha filha Sarah de 15 anos, minha sobrinha Laura de 18, e meu sobrinho DJ de 19. Encontramos algumas casas por aqui e as transformamos em fortalezas, não são perfeitas, mas até agora funcionam. A que estamos agora é uma mansão a uns 5 quilômetros daqui. Acho que vocês vão gostar dela. Tem lugar pra todo mundo – Ele passou os olhos pelo grupo. Me sentia mais fraco, desde que bati a cabeça do vidro. Vi um errante a mais ou menos 4 metros de distancia, o estranho foi que eu não o senti.
A mansão tinha três andares. Uma barricada de grade em volta de todo o perímetro da casa, que era mais ou menos 600 metros quadrados. Tinha um jardim por toda sua volta, um jardim incrível que contrastava com a paisagem destruída e devastada da rua. Flores por todo o jardim, uma piscina de 9 metros retangular feita de azulejos brancos, e um D gigante no fundo feito por azulejos azuis.
- Os donos da casa se chamavam Dunkley – Explicou Merly, olhando o que eu olhava – Vi nas contas de água.
A parte da frente da casa era toda de vidro. Teto triangular marrom. O resto da casa feita toda de tijolos. Móveis caros. Duas garotas saíram da cozinha, uma morena de cabelos pretos e roupa de jardineira, a outra era branca de olhos castanhos, cabelos de mesma cor, calça jeans e blusa branca, boné da New York, era assustadoramente parecida com Merly.
- Essa é minha filha – Explicou desnecessariamente Merly, apontando para a garota de boné – E essa é minha sobrinha, filha do Jessie – Jessie, o cara morto da van. Sua filha Laura. Um garoto desceu as escadas, era branco, bem magro, olhos castanhos,cabelo caídos de mesma cor, e um boné da Monster.  – E esse é DJ.
- Fecha a boca Matt... – Disse Brenda – Ta caindo baba.
- Ei queridinha... – Laura chegou perto de Lola,com um sorvete de palito na mão. A quanto tempo eu não vejo isso? A quanto tempo eu não como um desse? E eu pensei que nunca mais veria um desses – Quer? – Lola olhou para Brenda como se pedisse permissão. Ela assentiu, e Lola sorridente pegou o sorvete.

Depois de 15 minutos de conversa, todos foram ver seus quartos e guardar a bagagem.  Mas eu fui dar um volta na casa. Do outro lado da mansão tinha uma pista de skate. Tinha um skate do lado da porta de correr de vidro, que era a porta dos fundos da casa.
- Deita aqui – Brenda saiu da casa, e apontou para uma cadeira de pegar sol. Fixei ela com olhar indagador. E andei até a cadeira, deitei de bruços. Brenda sentou ao meu lado, e tirou meu boné, depois o pano. Mas não fez nada.
- No que você esta pensando?
-Porque você ainda está machucado?
- Como é?
- Depois que você foi mordido, e eu cortei seu braço você se curou sozinho. Em questão de segundos. Mas agora sua cabeça sangra, hemorragia talvez como uma pessoa normal. Eu notei que você também não está sentindo os zumbis.
- Onde quer chegar?
- Não sei. Só quero um resposta.
- Eu tenho um palpite.
- Estou ouvindo.
- Que parte do corpo – Comecei – A Cura afeta.
- O cérebro – Respondeu Brenda em quando injetava anestesia que pegou de Merly em mim.
- Exato. E como se mata um zumbi?
- Apunhalando a cabeça – Respondeu ela,em quanto tirava os pedaços de vidro da minha cabeça, e depois costurava.
-Em que parte da cabeça?
- Ué... Atrás é melhor – Olhei pra ela. E então ela entendeu.
- Vira – Virei a cabeça, e ela voltou a costurá-la – Ta me dizendo... Que quando você bateu a cabeça no vidro...
- Matei minha parte mutante.
- Então...
- Não sinto mais zumbis. Nem sei quantos são. Nada. Tudo... Acabou.
- E como você se sente? – Perguntou ela, passando carinhosamente a mão na minha cabeça, e limpando o sangue do meu cabelo.
- Normal.
- E isso é ruim?
- Depende do ponto de vista... Eu não sou mais forte. Não posso te proteger. Não posso saber o que vai acontecer, então eu sou fraco.
- Cala boca, nunca mais diga isso. Ouviu? – Disse ela – Você não é fraco. Você é mais forte do que pensa. Ser normal, não é tão ruim. Depende do ponto de vista... Agora nós dois nos protegemos, não precisa saber o que vá acontecer só precisamos ter cuidado. Justin, você pode ser qualquer coisa... Menos fraco. – Virei, e olhei pra ela.
- Acha?
- Claro – Eu me apoiei nos cotovelos na cadeira, e coloquei uma das mãos na nuca dela e a puxei para um beijo.
- E pessoal, agora entendi porque vocês sumiram – Matt entrou. Brenda o fuzilou com o olhar.
- Eae Matt, o que acha da gente dar uma andadinha?
- Ainda sabe Bieber?
- Claro Druman – Ele riu. Me levantei, ainda estava sobe os efeitos da anestesia então não sentia minha cabeça doer. Peguei um skate e Matt o outro, fomos para pista e começamos a andar.
Eles tinha geradores de energia própria na casa, então colocamos nossa comida na geladeira e a juntamos com a deles. Matt não parava de olhar pra Laura. A garota exibia aquele costumeiro olhar triste de alguém que perdeu um ente querido. Mas ainda sim parecia feliz, olhava timidamente para Matt, e depois desviava o olhar.
- Para de secar a menina Mattew... Ta deixando ela sem graça – Sussurrou Brenda. Matt parecia ter voltado de um transe, piscou, balançou a cabeça e voltou o olhar para o prato.
Estava tudo bem calmo. Lola estava se divertindo, e de noite ninguém precisava ficar de guarda, mas mesmo assim eu ficava por um tempo, não confiava mais em nenhum lugar já que eu voltei a ser normal. Brenda dormiu num sofá a minha frente, e Lola desceu as escadas no meio da noite:
- Ei... O que foi gatinha?
- Eu... Não consigo dormir. Tive pesadelos. – A pequena garotinha de 7 anos tremia – Posso ficar aqui com você?
- Claro, vem aqui – Bati no sofá, e ela andou até mim, com os braços enrolados e volta do polvo de pelúcia.
Tudo estava calmo no dia seguinte também. Nenhum ataque. Apenas nós, pessoas quase normais. Matt tinha mudado totalmente o que era, ajudava Laura a cuidar do jardim. Até Taylor estava se entrosando bem com a Sarah que estava cozinhando junto com ele, o que era muito bom pra mim. Caterine e Logan voltaram ao normal, ele até pegou o lugar de Daniel e a ajudou a lavar as roupas. Brenda estava a beira da piscina com Lola, que nadava alegremente. Ficar aqui era bom, não só pra nós que estávamos mais descansados do que nunca, mas para Lola também. Não é saudável ficar correndo de um lugar pro outro. Eu peguei o skate e dei um volta pela casa, não sei por que mas ainda não achava bom ficar parado tempo demais num lugar só. Não me sentia seguro. Até porque ao redor é grade, pode ser facilmente quebrado, sendo humano ou não.
- Ei queridinha, sai um pouco, está ficando tarde – Brenda enrolou Lola numa toalha, falou alguma coisa em seu ouvido, e ela correu rindo pra cima. Ela entrou também e eu fui atrás dela.  Coloquei o skate de lado e sentei no sofá do lado dela – É bom ficar aqui. Faz bem pra ela. Lola... Quero dizer, é bom ficar parado, quieto por um tempo.
- É... Merly é um cara legal.
- Foi gentil da parte dele deixar a gente vim pra cá.
- Foi –Disse eu, desviando o olhar do chão e olhando para Brenda nos olhos – A gente fica mais relaxado com uma boa noite de sono. – Coloquei a mão no ombro dela – Ficamos mais calmos, não?
- Senti falta de estar num lugar legal. Sabe? Um lugar assim. Como uma casa, como uma família.
- Sei. É bom pra... – E então foi ai que eu vi. Pelo canto do olho, percebi movimento vindo no lado de fora da porta de vidro. Virei o rosto a tempo de ver a grade – A volta inteira da casa – lotada de zumbis. – Abaixa – Disse a Brenda, mesmo sabendo que seria inútil. Porque eles já nos viram. Fiz sinal com a mão pra Brenda me seguir, e fomos engatinhando pra cima.
- DJ, onde é o próximo abrigo? – Sussurrei.
- A uns 7 quarteirões daqui porque?
- A casa da lotada de zumbis.
- Cabeças ocas aqui?
- Cabeças o que?! – Exclamou Brenda.
- É assim que chamamos por aqui – Respondeu DJ.
- Dane-se a droga do jeito que chama! –Disse irritado – Temos que sair daqui.
- Como? – Perguntou Megan. Ninguém respondeu. – Como?!
- Calma merda... Eu to pensando – Disse Brenda. – Ah... Não sei...
- Esgoto! – Disse – Logan vai lá em cima! No teto, e vê se a boca de lobo mais próxima tem zumbis. Rápido – Logan saiu correndo.
- Como você não sabia que eles estavam aqui? – Perguntou Tyler.
- Bom... É que... – Um barulho. Olhei pra baixo, a grade cedeu, caiu. Os zumbis batiam freneticamente com seus braços mortos, e sua fome voraz por carne humana – Não tem tempo pra isso!
- Tem alguns, mas estão virados para cá. Não estão olhando pra lá. – Disse Logan.
- É agora... Vamos! – Disse Brenda.
- Não, se a gente sair daqui eles vão ver a gente e vir atrás! – Respondi.
- Então o que você prepõe? – Perguntou Brenda desesperada. Não respondi, mas tive uma ideia.
- Vão embora.
- O que? Não, não vou te deixar!
- Não é hora pra isso, vai. Mattew tira ela daqui! – Matt olhou pra mim meio apreensivo e depois agarrou Brenda pelos braços, e a levou para baixo, todos os seguiram e desceram as escadas para o esgoto. Olhei pra trás. Desci correndo as escadas, e fui pra cozinha. Peguei um álcool e joguei pela cozinha e sala. Moveis, e a parede de vidro. CLACK, a porta rachou. Merda, pensei. Voltei pra cozinha e molhei um pano com álcool, CLACK, o vidro quebrou. Os... O que? 180 errantes? Entraram dentro da casa, num uníssono de grunhidos e gemidos. Liguei o fogo, e saí correndo, os mordedores corriam a minha direção, peguei a faca, abri a porta da cozinha e fechei, desci as escadas escuras. Não conseguia ver nada, ouvi o barulho dos errantes batendo na porta. Corri pelo túnel do esgoto, senti um calor vindo por trás. Olhei. O álcool e o fogo entraram em combustão, a casa explodiu. Fui arremessado a 4 metros de distancia. Voei. E caí em cima de alguém.
- Ai – Logan colocou a lanterna em direção ao meu rosto, olhei pra baixo. Caí em cima de Emma.
- Desculpa.
- Tudo bem. – Merly me ajudou a levantar. Andamos a mais ou menos 2 metros antes de Dj cair, agoniado e com dor. Logan colocou a luz da lanterna no tornozelo do garoto, que estava enrolado num arame farpado – Quem deixa um arame no esgoto?
- Qualquer um.  Vem cá – Ele se apoiou em mim. E continuamos a andar. Subimos as escadas, e saímos para o ar puro da noite, que foi interrompido pelo cheiro rançoso, e podre de carne morta. Alguns dos cabeças ocas estavam vindo para nossa direção. Saímos rápido do esgoto, e começamos a correr em direção a nova casa de abrigo.  Dj caiu de joelhos, paramos por um momento.
- Se não tirarmos esse arame ele pode prejudicar a perna dele – Disse Laura.
- Se fizermos isso sem as coisas de médico – Respondeu Merly – Ai sim pode piorar a situação.
- Ele pode morrer – Disse Sarah. DJ riu.
- Mortos voltando a vida – disse ele arfante – e David Jackson morre por causa de um arame na perna? Patético.
Ele se apóia em Merly e voltamos a correr, não importa o quanto a gente corra os zumbis ainda estão nos perseguindo. Não cansam, nós sim. Brenda pegou seu machado, e eu a faca. Matar os zumbis era a única coisa na minha mente, agora estou vulnerável, agora sou normal. E não sei se gosto disso.
Brenda decepou a cabeça de dois zumbis, eu afundei a faca no crânio de um errante que tinha a metade do cérebro exposto, ele caiu no chão com seus fluidos cranianos espirrando para todo lado. Recuamos um pouco mais, viramos uma esquina num beco, estava escuro era difícil ver. Enfiei a faca na garganta de um mordedor, ele caiu com seu queijo escorrendo sangue negro. Depois desferi um golpe na parte de trás de sua cabeça e ele caiu na sua própria poça de sangue.
Corremos. Lola estava próxima de Brenda, não sei por que sendo que ela estava matando zumbis, uma carnificina ao nosso redor e a garota ainda quer ficar ao nosso lado. Andrew caiu, escorregou no sangue de um zumbi. Como estávamos correndo, tive que voltar pra conseguir chegar nele. Ele estava com o pé preso dentro de um boca de lobo. Ele me lembrou a Daniel agora. Foi puxado para baixo por um mordedor que estava no esgoto. Um? Não. Cinco. Eles perambulavam pelo esgoto, e agora mordiam a perna do garoto.
- ANDREW! – Megan correu na direção dele, mas foi parada por Brenda – Me solta! Você não tem o direito de...
- Olha só garota, quer viver? Então anda! E não olha pra trás! – Respondeu Brenda friamente.  Megan olhou pálida para Brenda, e depois com raiva mas mesmo assim foi embora. Ela estendeu a mão para Lola, a menina olhou para mim e Brenda e não foi com a irmã. Megan ficou com ainda mais raiva. Brenda se agachou, e disse sussurrando para Lola – Paraíso – A garotinha que chorava – Não importa que ela tinha 7 anos. Sabia o que iria acontecer – se virou, fechou os olhos e tapou os ouvidos. Não consegui fazer nada, não tive reação. Era outro do nosso grupo que se ia. Brenda se virou, respirou fundo e sem hesitar atirou na cabeça de Andrew. Pegou Lola no colo e disse – Sinto muito.
- Tudo bem – Respondeu com voz tremula – Prefiro ele assim, do que virando um deles – Era incrível como ela tinha maturidade. Os zumbis se amontoaram em cima do corpo inerte de Andrew, e como entramos num beco escuro, eles não nos viram.

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