- Sorte que é bom a gente não tem, né? – Reclamou Robert,
mais tarde naquele dia. Zumbis andavam por todo lugar, e tinha uma aglomeração
a frente do mercado. Todos estavam acordados, os olhos de Caterine estavam
inchados. Eu posso jurar que ouvi ela chorar um boa parte da noite. Brenda
estava sentada, observando a rua por uma fresta nas cortinas pretas da janela.
- Acho que foi o tiro que eu dei ontem – Disse ela
vagamente, o tiro que ela deu em Daniel. Deve ter sido isso – A gente tem que
sair rápido daqui. E depois ir pra Miami...
- Miami? – Perguntou Matt.
- A... – Eu e Brenda nos entreolhamos – Bom... Ontem –
Contei toda a história da ligação do Merly.
- E como o walkie talkie dele está funcionando? – Perguntou
Logan.
-É da policia. Só tem uma freqüência. Eles tem um e nós
temos outro. A policia pagava sua própria freqüência de energia, então essa
coisa de apocalipse não interfere. – Explico – Mas eles tem que estar num lugar
bom, para... Digamos... Pegar sinal.
Por isso a ligação caiu.
- A ta – Disse Andrew – E devemos confiar num cara que não
conhecemos?
- O dono desse trailer iria para Miami também... – Disse –
Talvez devêssemos ir para lá.
- O que temos a perder? – Perguntou Emma – Esse lugar já era.
- O mundo já era – Disse Megan.
- Olha... Precisamos sair daqui, rápido – Disse Caterine.
- Ela tem razão. – Disse Logan.
- Qual o plano? – Perguntou Jake. Depois de Brenda explicar
tudo que deveríamos fazer, eu peguei minha faca ela o machado, abri uma fresta
pela cortina preta, e vi os errantes perambulando.
- Prontos? – Perguntei. Eles assentiram. Lola estava sentada
meio assustada no sofá. Todos se dirigiram para a porta, mas eu fui até a
menina – Ei gatinha, o que foi?
- Eu... – Seus pequenos e magros dedos tremiam. Como será
ser uma criança tão pequena num apocalipse? Mais medo, do que nós. É tudo pior – Eu... Queria ir com vocês...
Não quero aquelas pessoas me seguindo. Não quero morrer Justin. – Sua voz entre
sussurros.
- Você vai estar com seus irmãos.
- Eu sei, mas... Me sinto mais segura com vocês. – Seus
olhinhos azuis úmidos de lágrimas, cabelos pretos macios caiam sobre os ombros
tensos.
-O que foi? – Brenda chegou atrás de mim, colocou a mão no
meu ombro e se agachou ao meu lado.
- Posso ir com vocês? – Perguntou a menina com esperança –
Por favor – Brenda não respondeu. Olhou para mim, como se estivesse sem
palavras e depois voltou-se para a garota.
- Lola, querida sinto muito mas... É perigoso demais ir
conosco. Vocês poderia se ferir.
- Eu me sinto segura com vocês. Confio em vocês. Acredito em
vocês. Não vou me machucar. Eu sei que iram me proteger – Fazemos silêncio por
um tempo.
- Não consigo encontrar argumentos para isso – Digo – Vamos
– Brenda não descorda, apenas diz:
- Você vai ter que correr bem rápido, está bem? – Lola
assenti animada. Os irmãos dela entendem isso. Apesar de me parecerem
contrariados. Nos tempos melhores eu tinha uma irmã. Mas ela se foi no inicio
da Mudança. Lola repunha no meu coração o pedaço que minha irmã tirou. Ela é
como se fosse uma irmã pra mim, e aposto que para Brenda também.
Matt abriu a porta, e com os outros ele foi silenciosamente
para fora. Chegando na metade do percurso eles começaram a gritar coisas como
“VENHAM SUAS COISINHAS NOJENTAS! VENHAM ATRÁS DE NÓS”. Senti uma fúria imanando
de Caterine. Era insano. Toda aquela coisa doce e inocente que tinha dentro
dela se fora, junto com Daniel. Sua família, já era. Quando os zumbis se
afastaram, e correram atrás da nossa distração a porta do Walmart vazia, foi a
nossa deixa. Empurrei gentilmente Lola para minha frente, o que era para trás
de Brenda. Brenda segurava o machado na altura da cabeça, e eu mantinha a faca
na cintura. Com uma das mãos no ombro de Lola, para guiá-la. Brenda fez sinal
com a mão para segui-la.
Estávamos bem próximos do Walmart quando sussurrei.
- Lola, se vir um zumbi não grite. Me cutuque. O.K? – Ela
assentiu. Lola pegou uma lanterna e iluminou o mercado escuro. Sentia zumbis,
dois aqui dentro. 30 lá fora. Os de dentro, um estava atrás de mim Lola me
cutucou e foi bem rápido, apenas um movimento de faca e BAM,já era. O outro
Brenda deu cabo. Com seu machado agindo rápido. Cabeça rolando pelo chão,
sangue respingando e pingando das prateleiras, o barulho de corpos caindo no
chão – Aquele barulho de esponja molhada, coisa oca batendo em solo duro– e
depois disso apenas andamos entre a mercadoria. Pegamos energético que por um
milagre ainda estava na validade, porém estava quente, mas isso é o de menos.
Água, cigarros – Depois do acidente Taylor e Tyler tiveram uma recaída. Pelo
menos não estão se drogando, mas fumando... Megan também fuma. Como Taylor
disse quando está ansioso ou nervoso, ele tem suas recaídas . Não é a melhor
maneira de acabar com a ansiedade ou nervosismo, mas quem pode culpá-lo por
isso? Todos estamos com medo, só que cada um lida com isso de um jeito
diferente– Salgadinhos, hambúrguer, sopa descente, suco em pó, balas de goma e
chicletes. Pegamos também sabonete, e pasta de dente. Chocolate. Roupas. E uma
polvo roxo de pelúcia para Lola.
Ela se agarrou ao bichinho como se fosse sua vida.
- Cuidado – Sussurrou a miúda garotinha ao meu lado. Brenda
não olhou pra trás, mas vi um sorriso em seu rosto. Ela pegou uma corneta, e
fita adesiva. – Posso?
- Claro – Sussurrou ela em resposta – Mas tem que ser bem
rápido, está bem? – Lola assentiu. Brenda apertou a cabeça da corneta, Lola
começou a enrolar a fita adesiva no objeto, de modo a fazer o alarme soar mesmo
quando para de apertar. – Vamos – Lola jogou a corneta barulhenta no chão, e
saímos correndo pelos fundos da loja. Os zumbis começaram a se distanciar dos
outros e virem a nossa direção. Saímos do mercado, e corremos na direção do
trailer. Problema. Os zumbis ainda estavam passando por lá. Fomos para porta de
trás do mercado. Esperando até que todos saíam.
Mesmo estando escondidos, eu sabia. Os zumbis viriam por
trás também. Ficaríamos encurralados.
- Venham – E assim começamos a andar para a horda de
mordedores a frente. Lola ficou atrás de Brenda, escondida. Com as mãozinhas
nas costas dela, quase pisando no seu all star que deveria ser vermelho, mas
agora estava quase preto. Brenda pegou seu machado, e eu minha faca matando os
zumbis e tentando fazer o menos de barulho possível com a menor atenção.
Um errante quase obeso correu ao meu encontro. Enfiei a faca
no olho grudento dele, o zumbi não morreu. Mas deixou o olho cair junto com a
minha faca, sangue preto escorrendo pelo órbita vazia. Ouvi Brenda sussurrando
“paraíso” para Lola, segundos antes de arrancar a cabeça de um errante. Chutei
o mordedor grandalhão, ele cambaleou pouco, mas foi o tempo suficiente para eu
pegar minha faca, que ainda estava com o olho enfiado nele. Enfiei o olho na
boca de dentes podres e enegrecidos do zumbi, o olho se desmanchou como um ovo
cozinho apertado. Empunhei a faca na lateral do crânio do mordedor, e ele caiu
com o habitual barulho de esponja molhada.
Não tinham muitos deles aqui, só que mais cedo ou mais tarde
eles vão perceber que o barulho não era nada. E voltar para procurar comida.
Nesse tempo temos que voltar.O problema é que eu acho que esse tempo está
chegando. Vi os outros dobrando uma esquina, Matt me viu, fiz sinal com a mão
para eles pararem. Matt mandou eles irem de poucos para não chamar a atenção, e
eu disse para Brenda ir com Lola. Tudo ia bem, até chegar a vez de Caterine.
Ela ficou observando o mercado, atenta nos errantes e não percebeu que tinha uma
lata no chão, e tropeçou nela. Merda,
pensei. Os zumbis viraram as cabeças mortas para ver. Alguns entenderam
imediatamente o que estava acontecendo, outros ainda andavam pelo Walmart.
Agora que nosso disfarce estava estragado, eu gritei:
- CORRAM! – Eu sai numa velocidade incrível em direção ao
trailer. Caterine entrou dentro do trailer, e eu fui atrás. – RÁPIDO! – Gritei
um pouco antes de subir as escadas do auto móvel. Brenda virou a chave na
ignição, ligou o motor do trailer. A porta dele não fechava, os zumbis
colocaram seus braços nodosos para dentro do veiculo impedindo de fechar. – MAS
QUE MERDA! – Brenda pisou no acelerador no mesmo momento em que eu abri a porta
do trailer, os zumbis caíram no chão. Meus pés estavam pra fora do auto móvel, e
eu meio voava meio me segurava com todas as forças que a minhas mãos tinham na
porta do trailer. Matt me ajudou a entrar, me jogou no chão e fechou a porta.
Virou a chave e me olhou ofegante. – Valeu cara – Ele fez um gesto com a
cabeça.
- Desculpa Justin, eu não te vi.
- Tudo bem, relaxa – Coloquei a mão no ombro dela.
- Agora Justin me diga... Por onde vamos? – Peguei o mapa do
porta luvas do trailer.
- Em frente – Para um nova aventura.
HERE WE GO! BORA MIAMI! HAHA
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