terça-feira, 30 de abril de 2013

Capitulo 9 – O homem.


A vida consegue nos enganar direitinho. Você pensa que está fazendo tudo certo, e de repente a situação da uma guinada incrível e... Tudo pelo o que você lutou, vai pra lama. Perdemos mais um amigo, mais uma parte se foi. Conseguia ver a felicidade evaporando do corpo de cada um de nós. Eu sentei no sofá do lado do corpo de Simas, seu corpo frio e inerte no esquecimento obscuro da alma. Sua cabeleira castanha, e seus olhos de mesma cor que eu não voltaria nunca mais a ver. Aquele fio de felicidade maliciosa encontrada em seus olhos, aposto que esse garoto era uma peste na escola. Nós sabíamos o que iria acontecer, ele mais cedo ou mais tarde iria voltar. Ninguém queria estar aqui quando acontecesse. Todos foram para o jardim da casa cavar sua sepultura.  Ethan ficou, sentado numa poltrona com as mãos cruzadas e a cabeça baixa. Ele parecia estar mais com raiva de si mesmo, do que triste pela perda. Embora eu ache que os dois estão ligados.
Quando Simas voltou, eu já estava determinada a fazer o certo. Peguei a faca da meia.
- Você não tem que fazer isso – Ethan se levantou.
- Eu tenho sim – Simas levantou a cabeça, eu abaixei seu tórax com a mão. Enfiei rápido a faca na lateral de seu crânio. E ele se aquietou rapidamente. Ethan me ajudou a levar o corpo dele, para fora. Para enterrar. Quando minhas amigas da escola faleceram minha mãe disse “Deus sempre sabe o que faz querida” essa frase veio a minha mente agora, e tanto hoje quanto naquele dia eu fiquei pensando “será mesmo que ele sempre sabe o que faz? ”  Enquanto a bíblia falava sobre ressurreição eu tinha uma ideia diferente do que seria... Mas fazer o que... Em quanto não houver mais lugar no inferno, os mortos andaram sobe terra, buscando um espaço pelo purgatório. Acho que hoje não vamos mais viajar. Entramos, sentamos a mesa e comemos. Em silêncio... E o silencio responde até aquilo que não foi perguntado. E isso significa que ninguém precisava falar nada, pra sabermos que todos sentíamos muito.
- Então... – Começou Link, engolindo macarrão abolonhesa – O que aconteceu no hospital?
- Prenderam os pacientes dentro das salas – Respondeu Ethan.
- E esses cortes? – Perguntou Link, tentando manter a conversa ativa.
- A gente pulou pela janela – Respondi.
- Normalzinho – Disse Link, dei um sorriso sem graça pra ele. Boa Link, mas não deu certo.
- Acho melhor a gente prosseguir, não é bom ficar parado – Comentou Ethan.
- Bom, minha barriga ta cheia agora – Link passou a mão circularmente pela barriga.
- Ainda temos gasolina?
- Não temos nem carro – Não aguento mais ficar quieta. Fui até a sala e peguei um cigarro. Cigarros fazem mau, mas pra mim é uma puta terapia. Sai, soprei a fumaça. Olhei ao longo da rua, mais ao longe vi um engarrafamento de carros. Um deles tem que ter gasolina
– Me faça um favor? – Nathan apareceu atrás de mim tão inesperadamente que eu me assustei.
- O que?
- Não saia sozinha.
- Preciso ficar sozinha um pouco. Pensar.
- Sabe que não foi sua culpa, não é? – Nathan me parou, me torturou obrigando-me a olhar em seus olhos verdes, parecia até que ele conseguia me ver por dentro quando olhava nos meus olhos – deve ser a genética... Ethan também é assim - seu olhar de compreensão queimava minha alma. Não sei o que eu quero, não sei se quero gritar, bater em alguém, matar um errante, tocar guitarra, ou apenas ouvir música só para extravasar a frustração; mas acho que tudo que tenho no momento, é Nathan. E conversar nunca foi meu forte.
- Será? Será mesmo? – Desviei o olhar, mas Nathan me forçou a voltar pra ele.
- Não foi. Vocês estavam presos dentro daquele hospital. Pelo amor de Deus pularam de uma janela! Ora isso vale de alguma coisa.
- Não chegamos a tempo, e é isso que importa. Se tivéssemos chegado antes ele... – Como odeio isso, lágrimas escorreram dos meus olhos, não era pra isso ter acontecido, mas agora já era, comecei então termino – A verdade é que foi tudo em vão. Quase morri... Ta mais idai?  Se eu fosse mais rápida. Se eu tivesse conseguido puxar a escada sozinha. Se eu tivesse impedido Ethan de ir comigo, ele não correria perigo. Se... Se eu tivesse ido sozinha, quem sabe não tivesse deixado Ethan quase morrer também.
- Tem muitos "se" nessa fala... Não acha? Primeiro nada disso é culpa sua, aceite a realidade e pare de se torturar. Segundo: Ethan sabe se virar muito bem sozinho, passado é passado não dá pra voltar atrás então viva o agora.
- Mas se eu pudesse mudar, eu..
- De novo esse "se". Não teve nada haver com você, não se culpe por uma coisa que foi desenvolvida pelo Destino. Essas coisas acontecem - Senti mais lágrimas rolarem pelo meu rosto - Hey.... Não chora. Tudo bem? Melhorou? - Nathan passou a mão pelo meu rosto, secando as lágrimas. Nathan parecia Jason em muitos aspectos, mas o melhor é o "levanta moral", tanto meu irmão quanto ele são ótimos pra fazer você se sentir melhor. Abracei Nathan - não é tão bom quanto o de Ethan, mas é gostoso - você não sabe como é bom um abraço de um amigo quando se está deprimida. As vezes em alguns momentos a vida, faz você mudar. Ficar fria. Isso pode ser muito bom ou muito ruim, depende da situação.
- Agora eu to bem melhor. Obrigada - Joguei o cigarro no chão e pisei em quanto soprava a fumaça.
- O que está acontecendo aqui? - Ethan apareceu com três latas de Red Bull.
- Nada, por quê? - Ethan não respondeu, ele se aproximou e entregou uma latinha para cada um de nós.
- Acharam algum carro?
- Tem um engarrafamento mais a frente.
- Podemos checar - Tomei mais um gole do Red Bull e andei atrás deles.  Engarrafamento? Não... Isso ta mais pra entulho de carros. Um carro chocado contra o outro, no que parece ser a maior batida de carros da história... Uns 60 carros, todos presos na traseira do outro. Andamos entre eles procurando gasolina, alguns minutos depois Nathan chamou a mim e Ethan com os braços.
- Acho que esse está cheio.
- Vamos ver - Fiz uma ligação direta - Está certo. Está lotado.
- Legal, vamos na casa pegar algumas garrafas pra pegar essa gasolina ai - Disse Ethan parando mais a frente. Nathan colocou a mão no volante e disse baixo:
- A gente pode pegar aquela ferrari ali - Eu sorri.
-É... Em dias comuns, aquilo seria meu sonho de consumo.
- Então é nós - Tocamos as mãos com um soco, e rimos baixo.
- Nathan é pra hoje caramba - Reclamou Ethan.
- Tudo bem - Fiquei observando os dois se afastando no horizonte. Olhei em volta pelo carro e vi um celular no chão. Na parte de trás a janela respingada de sangue seco escorrido e que tinha pingado numa cadeirinha de bebe. Voltei o olhar para o celular "50 % da bateria" e a playlist era incrível, coloquei o fone de ouvido e liguei ''Best of you - Foo Fighters". Sai para fora do carro, amassei a latinha vazia do energético e joguei no chão e abri a bomba de gasolina, Click:
- Não se mova gatinha - Uma voz masculina surgiu das minhas costas, e ele estava armado. Dica: É apenas uma questão de senso não discutir com um homem armado- Bom... Bom... Vem cá. Não tenha medo...
- O que você quer? – Passei tanto tempo com errantes que esqueci que além de nós ainda existiam pessoas, e também esqueci o fato de não sermos tão diferentes dos zumbis.
- Sobreviver – Ele me virou bruscamente pelo braço, fazendo o celular cair no chão, vi seus olhos pretos sem vida, barba por fazer, grisalho, caucasiano. Tinha duas mulheres atrás dele. Parte boa: Elas não estavam armadas. Parte ruim: Ele estava – Tem alguma coisa pra mim?
- Não, estou sozinha – Rezando para nenhum dos dois voltar.
- Porque será que não acredito nisso? Odeio mentiras. Esse carro é seu?
- Não, só estou tentando sobreviver como vocês – Ele gargalhou friamente.
- Vadias sempre mentem – Olhei no fundo daqueles olhos sem alma, frios e percebi que não tinha volta. Ou eu lutava pelo o que eu consegui. Ou deixo eles levarem tudo. Ou morro tentando. Ouvi sussurros vindos ao longe, é hora de agir. Chutei ele nas partes baixas, ele gritou e se curvou. Corri e pulei nas costas dele, coloquei meu braço envolta do seu pescoço enforcando-o. Uma das mulheres veio por trás, e eu chutei ela. Estiquei meu braço.
- SOLTA! – Os paços aumentaram, e os dois vinham correndo a nosso encontro. Segurei a arma. Um tiro acidental, o homem já ficara vermelho, não respirava direito. Apertei o enforcamento, e estiquei mais o braço. Peguei a arma. Soltei o homem. Ele caiu de joelhos. Os passos cessaram, apontei a arma pra ele e as mulheres fugiram. Ele se levantou: Acredite é mais difícil matar um vivo, do que um morto. O homem agarrou os braços e apontou pra cima segundos antes de eu atirar. Segurou minha garganta com força e me ergueu no ar.
- Sarah? – Ouvi a voz de Ethan vindo para nós.
-É seu namorado? – Não conseguia respirar direito, o sangue pulsava na minha testa. Senti movimento vindo de trás, Nathan e Ethan voltaram ao meu campo do visão, o homem me levou para o meio da estrada e me largou no chão, tossi aliviada por conseguir respirar de novo. O homem recarregou a arma – Então ele vai amar ver isso. Ei garotos, sua ultima chance! O que vocês tem?
- Pra você nada – Respondi sem fôlego – VÃO EMBORA!
- Resposta errada.
- SARAH! – A voz de Ethan pairou alguns segundos do ar antes dele atirar na minha coxa.
Pensei ter sentido toda dor do mundo mas isso com certeza ganha de qualquer coisa que eu já senti. Um tiro na perna, é como se você pegasse uma agulha em chamas e fizesse um buraco na própria carne, depois colocasse gelo em cima. Só que a dor continua alucinante, enchendo seu cérebro com ela. Soltei um grito involuntário. Senti lágrimas de pura raiva e repulsa arderem nos meus olhos. Pressionei o ferimento na coxa, sangrava pra caramba. E a dor só piorou, cai. Olhei pra frente, Ethan pulava sobre os carros para chegar até nós, ele dei impulso na traseira de um carro amarelo, e pulou no vidro dianteiro de um carro vermelho. Ele veio correndo muito rápido até nós o homem atirou, mas não pegou nele. Ethan agarrou ele pela cintura e o derrubou no chão. Nathan vinha correndo abaixado por trás dos carros, ele veio até mim e me tirou na linha do perigo, me arrastando com ele para trás do carro.
- Muito bem, muito bem, calma. Calma Sarah, respira, respira.
- O pânico está se instalando em você Nath. Eu que levei o tiro. - Olhei por cima do capo do carro, Ethan socava sem piedade o rosto do homem cujo o tiro, ainda arde na minha perna. Ethan estava vermelho pela raiva, desferindo cada golpe sem nenhuma piedade. Descarregando toda frustração, ele sempre me pareceu calmo. Vê-lo se descontrolando desse jeito é muito assustador. O homem agarrou a garganta de Ethan, e ele o pulso do homem abaixou o braço dele pro chão e com a mão livre golpeou o cotovelo quebrando o braço do homem. Ethan pisou com força no tórax dele, e chutou seu rosto. O homem parou de se mover, no entanto toda essa movimentação atraiu a atenção de outros vivos – por assim dizer – cujo a presença não é tão aclamada. Tiros, gritos, luta, qualquer um ouviria. Um grupo pequeno de 20 errantes vinha dobrando a esquina. Consegui ver mais um grupo atrás mais ou menos 30 errantes em cima de dois corpos – as mulheres que estavam com aquele homem – temos que sair daqui. E muito rápido.
- LINK! LINK! – Berrei, já estamos bem ferrados. Se é pra nos salvar foda-se.  Link estava escondido atrás de um carro junto a Lisa e DJ– VENHAM LOGO A GENTE VAI SAIR DAQUI!  Cadê as garrafas? – Perguntei a Nathan. Senti a bala se mover, ela foi mais a dentro no meu músculo, a dor passava pelo meu cérebro, o sangue derramava pela perna, quase me forçando a desmaiar e eu me forçando a não desmaiar.
- Ethan achou um carro mais a frente com gasolina, já transferimos ela pra Ferrari – Nathan me levantou a me pegou no colo. Ethan pegou uma faca e enfiou na cabeça do errante, o homem recobrou a consciência e quando se deu conta do que estava acontecendo gritou. Pediu ajuda para todo mundo, no fundo me senti mal por tê-lo deixado ali. Mas eu sabia que se fosse ao contrário ele nem hesitaria. Segundos se passaram e meus ouvidos apenas se tamparam para os gritos de dor agudos e desesperados do homem, meu coração se fechou a isso, e eu deixei Nathan me levar para o carro, abracei forte o pescoço dele alheia ao sofrimento do outro. Entramos na ferrari, a blusa de Nathan estava ensopada pelo meu sangue. E ele estava em pânico, lívido porém firme e determinado, pegou uma pinça. Link acelerou. Ethan estava do meu lado, Nathan me deitou e eu coloquei a cabeça no colo de Ethan, estiquei a perna, Nathan pegou uma pinça e tentou tirar a bala do buraco. Puta merda, isso dói muito. Ethan tremia, era assustador ver ele desse jeito. Queria ajudá-lo mas nem sei qual é o problema dele. Ele passava a mão no meu cabelo tentando me reconfortar, como se quisesse arrancar a dor, mas nós sabíamos que ele não podia. Minha visão ficou embaçada. E eu desmaiei. 

domingo, 28 de abril de 2013

Capitulo 8 – Hospital Sant Los Angeles.


Andamos duas quadras e já conseguimos chegar até o restaurante. Não tem cheiro mais torturante do que de comida, pra quem está morrendo de fome. Nathan pegou duas bolsas na cozinha do restaurante, entregou uma pra mim e levou uma com ele. Nos espalhamos pelo lugar, Ethan me ajudou a colocar comida dentro da bolsa. Não sei por que, mas não conseguia olhar no rosto dele. Não deveria estar assim... Quer dizer, a respiração boca a boca salvou a vida dele. Então, porque eu nem consigo olhar pra ele?
Ninguém disse nada. Estávamos molhados, com frio, cansados e com fome. Estava tudo tão quieto que se caísse uma pena todos iriam ouvir. A comida ainda está quente, peguei uma garrafa de água da geladeira desligada, minha garganta seca foi invadida pelo alívio. Peguei cigarros, isqueiro, energético – Monster, Red Bull - chocolate, chicletes, pirulitos e balas do balcão.
DJ voltou correndo dos fundos do restaurante, desesperado. Mancado, deixando um rastro de sangue por onde passava.
- Se escondam – Sussurrou ele. Antes de eu entender o que estava acontecendo, Ethan me puxou pro chão. Eu conseguia ver algumas coisas por de baixo do balcão. Dez errantes com roupas de cozinheiros manchadas de carne e sangue, que provavelmente não eram de animais, vinham rastejando com suas línguas pretas lambendo o chão pingado de sangue. Lisa estava atrás de um mini sofá junto com Simas. Link estava atrás de uma poltrona atrás de mim, Ethan estava na minha frente. Nathan estava atrás de uma mesinha, junto com DJ. Os errantes se separaram, alguns vinham para minha direção. E alguns continuaram no rastro do sangue que DJ tinha deixado. Eu conseguia sentir o calor da respiração de Ethan, ele estava a centímetros de mim. Eu me sentia tão vulnerável, me escondendo assim em quanto eles passeiam pelo restaurante, e nos encontrem a qualquer minuto. Deslizei minha mão até a meia do tênis, e tirei minha faca de lá. Segurei ela pelo cabo, com a lamina virada pra baixo, minha mão tremia. Não sei se de medo, ou de frio. Muito provavelmente os dois. Ethan colocou sua mão quente em cima da minha.
- Calma...Calma – Sussurrou ele. Foi a primeira vez que eu tinha olhado em seus olhos desde a prisão. Aqueles olhos azuis – assustadoramente parecido com os de Jason - que sempre que encontravam a luz do sol brilhavam. Era tranquilizador olhar pra ele. Eu gostava disso. Parei de tremer.
Olhei por de baixo do balcão de novo. Os errantes estavam chegando muito próximos de Nathan e DJ. E tinham dois acima do balcão. Minha respiração parou, tudo correu em câmera lenta. O errante com o avental com pedaços de carne grudado nele, colocou as mãos em cima do balcão, arreganhou os dentes, e grunhiu. Deixando sangue preto escorrer da sua boca, caindo no avental como se fosse um babador.  O zumbi cheirou o ar, como se fosse um animal casando sua presa e depois saiu.
- Temos que ajudar seu irmão – Sussurrei.
- Ele sabe se virar sozinho.
- Ele não está armado – Levantei a cabeça, pronta para sair correndo e atacar, mas Ethan abaixou ela.
- Não seja idiota, temos que fazer isso em silencio.
- Ou não... – Ethan não entendeu nada. Olhei ao redor, peguei uma garrafa de Wisky – Link abra a porta – Link esticou o pé, e abriu um fresta na porta, me arrastei até perto dela e joguei a garrafa contra a parede da cozinha. A garrafa se espatifou, derramando Wisky por todo chão. Eu, Link e Ethan corremos agachados para o outro lado da sala, os errantes passaram por trás de nós e entraram na cozinha. Pegamos as mochilas e corremos escada acima. Subimos as escadas mais rápido que pudemos e fechamos a porta – Eu não vou cumprir aquele pacto tão rápido... – Disse eu a Nathan. Ele sorriu.
- Que pacto? –Perguntou Ethan, olhando de Nathan pra mim. Nenhum de nós respondeu – Que pacto?
 -Nada.
- Não, agora eu quero saber. Que pacto?
-Nada Ethan.
-Olha pessoal temos um problema maior. – Disse Simas – Como saímos daqui?
- Acho que tem uma escada de acesso, por aqui... – Disse andando até a beira do telhado. – Achei – Agachei e empurrei a escada, nada – Não consigo desprender.
- Eu te ajudo – Fui pro lado, Simas agachou e se debruçou contra a escada, empurrou ela a escada rolou pra baixo, e quando chegou ao final deu um tranco, Simas que ainda a segurava foi levado com ela e ficou pendurado.
- Simas! Segura minha mão! Segura! – A escada continuava travada no meio do caminho. Simas estava a cinco metros do chão, Eu me segurei no parapeito do telhado, estiquei a mão, a escada desprendeu. Simas despencou do alto, e caiu no chão com força com a escada prensada contra seu peito. Sangue jorrou para fora de sua boca, ele segurou no degrau da escada e levantou ela o suficiente para que ele pudesse sair de baixo e respirar. Eu desci rápido – Simas você está bem? – Ele desmaiou em cima dos meus braços. Eu cai no chão, Nathan sentou ao meu lado e levantou a blusa dele. Um corte profundo no meio do tórax dele. Sangue pra todo lado.
- Precisamos rápido costurar isso aqui.
- Você não tem mais nada no seu kit – Disse.
- Eu sei – Ele olhou ao redor – A mais ou menos duas quadras daqui tem um hospital. Vê?  - Ele apontou, olhei pra trás e assenti.- Precisamos de tudo que tem lá.
- Então vamos levar ele pra lá.
-Ele não pode viajar por duas quadras. Ele tem que ficar parado. Se não piora – Disse Nathan.
-Vocês ficam naquela casa ali – Eu apontei para uma casa do outro lado da rua – Eu vou pro hospital. Só me diz o que eu tenho que pegar.
- Eu vou com você – Disse Ethan.


Levei minha arma, uma faca e machado. Ethan só levou uma arma. A rua estava vazia, mas o hospital...
Pensem comigo, quando você fica muito doente o que seus pais fazem? Te levam pro hospital. No inicio no tempo da epidemia, todo mundo ia pro hospital. E provavelmente ainda estão lá. Ethan abriu com o ombro a porta do hospital que fez um rangido daqueles filmes de terror. Depois fechou a porta com um pedaço de madeira do chão, caso tenha algum errante perdido ele não vai sair. Logo na entrada o cheiro invadiu minhas narinas e pulmões, quase me sufocando e me fazendo vomitar. Eu e Ethan colocamos a blusa no nariz. A luz que entrava no hospital só eram as das janelas. E os únicos sons que eu ouvia eram dos nossos passos. Tinha sangue nas paredes e janelas. Um braço aqui, uma cabeça com os olhos ainda se mexendo ali, uma perna lá.
- Onde tem aquelas coisas que o Nathan falou? – Sussurrei.
- Na sala principal. – Ele olhou pelo corredor – Aqui – Abriu a porta e fechou com a mesma rapidez – puta que pario, sorte que é bom... Passou longe – Ele não precisou nem explicar pra eu entender. Eles prenderam os pacientes dentro das salas.
- O que você sugere?
- Não faço ideia – Não temos tempo pra pensar, a gente entra e pronto – Temos que agir logo.
- O que você acha? A dupla Sherlock e Watson entram e acabam com eles? – Lembrei do dia em que eu estava presa dentro do carro com medo, falando com Ethan pelo walkie-talkie em quanto um horda de zumbis passava por mim. Sherlock e Watson eram os nossos nomes na conversa. Eu adoro os filmes, e acho que pensar racionalmente tranquiliza.
- Pronta Sherlock? – Perguntou ele colocando a mão na maçaneta, e sorrindo.
- Claro Watson. – Ethan abriu a porta, tinha apenas cinco errantes. Atirei na cabeça do primeiro – erro número um - e ouvi o som ecoando por todo hospital. Os errantes dos outros quartos grunhidos, e batendo suas mãos mortas na porta. Decapitei outro zumbi com o machado. Foi bem mais simples do que eu pensava. Ethan pegou os aparelhos e colocou dentro da mochila, a porta dos fundos caiu errantes correram pra nós. – Vai logo com isso Watson, não temos tempo. – Fui ganhar tempo pra gente na porta. Arranquei a cabeça do primeiro, afundei o machado no meio do crânio do outro. Afundei a faca no estomago de um, e ele caiu em cima de mim, com dois atrás dele empurrando. Minha mão esquerda estava presa em baixo do meu corpo. Com a mão na faca do estomago do errante eu afastava ele no meu pescoço.Tirei minha mão de baixo do meu corpo, e coloquei em volta do pescoço dele, tirei a faca no estomago dele e senti seu frio sangue preto escorrendo pela minha blusa e short. Enfiei a faca na cabeça dele. Escorregou mais sangue pelo meu pescoço e um pouco no rosto. Peguei a arma e mirei na cabeça do cadáver já morto e atirei. Não fez barulho. A bala passou por todos os crânios. Mais sangue em cima de mim.  Me levantei, o ultimo errante parecia confuso comigo. Não sabia se eu era ou não uma zumbi. Ele arreganhava os dentes, e depois recuava. Tentava sentir meu cheiro. Eu fui até ele, e enfiei a faca no testa. O cheiro era alucinante, carne podre, corpo em decomposição, sangue vencido, vermes sobe o corpo do errante. Eu nunca teria imaginado nem no meu pior pesadelo uma cena assim. Sempre vi filmes de zumbis – achava muito maneiro – mas sentir o medo na pele é bem pior. Você não sabe se morre agora, ou daqui a dois segundos. Mas se pensar bem sempre foi assim. Você poderia sair na rua e meterem uma bala na sua cabeça, ou ser atropelado por um carro. Eu juro que já mandei muito motorista ir se foder no transito, mas agora eu daria tudo para ouvir o barulho dos carros. Os gritos irritados das pessoas. Ou minha mãe brigando comigo porque não lavei louça. De qualquer forma, se olhar direito o mundo não mudou tanto. O mundo na realidade sempre foi um purgatório. Você fica nele apenas esperando o dia em que vai ser mandado pro paraíso ou pro inferno. Até lá você continua no purgatório, ou seja, mundo. Agora é a mesma coisa. A única diferença é que mesmo se morrer você não morre.
Uma porta se abriu, caraca saíram muitos. Eu recuei.
- Temos um problema Sherlock? – Perguntou Ethan de dentro da sala.
- Elementar meu caro Watson, problemas são obstáculos que encontramos no caminho para onde queremos chegar, isso que temos agora não são obstáculos é um apocalipse.
- Estamos fodidos?
- E como – Ethan correu para fora, olhou. O corredor começou a se encher  com os mortos em movimento. Outra sala se abriu, e outra. Parte boa: A porta principal está trancada, eles não podem sair pra fora. Parte ruim: A porta principal está trancada, nós não podemos sair pra fora.  Desferi o primeiro golpe com o machado, uma faixa negra de sangue espirrando pela parede. Ethan enfiou a faca no meio da cabeça do outro.
 – O que a gente faz Sarah?
- Bom... Esperava que você tivesse uma ideia – Eu recuei e olhei pra trás, vi uma maca. Minha mãe dizia que andar de skate era perda de tempo, não concordo. Corri até a maca, dei impulso e pulei em cima. A maca atropelou 10 zumbis, eu dei um giro de 360º graus, atropelando mais. E afundando a rodinha na cabeça de alguns. Acho que quebrar o braço andando de skate valeu a pena. Pulei da maca, empurrei ela contra os corpos em movimento. Ethan me ajudou. Prensamos os corpos contra a parede com tanta força que a cabeça de um explodiu para fora do pescoço.
Ouvi barulho de pés arrastados, cheiro de carne rançosa e grunhidos vindos de trás. Mais zumbis vindo de baixo.
- Ethan...
- Eu tenho uma ideia... Mas é loucura...
- Antes ideias loucas, do que ideia nenhuma.
- Segura aqui?
- Eu tenho escolha?
- Não – Ethan correu até a sala, e eu ouvi coisas caindo no chão, outras quebrando. Os errantes prensados contra a parede estavam se agitando. Eu segurei a maca com o cintura, e peguei o machado. Um movimento brusco e rápido. Cortei a cabeça dos quatro de uma vez. Os errantes que subiam a escada até nós se aproximando com cada vez mais rapidez.
- ETHAN! – Ele bateu a porta da sala fazendo um errante colidir contra ela e cair no chão.
- Vem – Corri para a sala, Ethan fechou a porta. Ele estava com uma corda na mão. Não me pergunte onde ele conseguiu uma dessas... Ou melhor, porque tem uma corda no hospital? Pros pacientes se suicidarem? Ethan enrolou a ponta da corda, como se fosse laçar um boi. Os errantes batiam feroz e violentamente a porta. Conseguia até ver rachaduras no meio dela. Pensei em Simas... Quanto mais perdemos tempo aqui, pior a situação dele fica. Mas... O que podemos fazer? Estamos numa fria pior ainda agora. Ethan laçou um gancho de ferro – aqueles ganchos que quando engessam seu pé, eles prendem para ficar com o pé pra cima – e prendeu firme. Ele abriu a janela, e olhou pra baixo.
- Não... Você ta de brincadeira comigo. Não... Eu não vou.
- Porque não? Tem medo de altura?
- Talvez – Não, eu não tenho medo. Eu tenho horror, pânico, loucura, sei lá. Odeio. Ethan segurou minha mão, e me puxou para perto dele.
- É a nossa única esperança no momento. Se segura em mim, faz o que eu digo, a gente vai sair dessa fácil. – Ele me ajudou a subir na mesinha de madeira na frente da porta. – Confia em mim? – Que escolha eu tenho se não confiar?
- Confio.
- Então segure firme– Eu abracei Ethan com força. Balançamos por um momento como pêndulos no ar, vi os errantes entrando no quarto segundos antes de passarmos pela janela quebrando-a com a colisão dos nossos corpos.  Alguns zumbis correram atrás de nós, caindo nos chão e se explodindo quando colidem com ele. Ethan me segurou com mais força, e com o braço preso a corda deslizou até o fim dela. Depois disso fomos escalando pela estrutura danificada do hospital.
- Foi divertido – Disse. Ele sorriu. Ethan estava com vários cortes rasos pelo rosto e braços, eu também. Peguei a mochila dele, e corremos para a casa.
Tarde demais.
Nathan pegou todos os medicamentos com pressa, injetou o remédio no corpo já inerte de Simas, e isso não adiantou de nada. Não acredito que não conseguimos. Foi tudo uma total perda de tempo
- ONDE VOCÊS ESTAVAM?! – Link se levantou – SE TIVESSEM CHEGADO CINCO MINUTOS ATRÁS...
- Fizemos o possível cara – Respondeu Ethan. Foi nessa hora, em que Link furioso e triste com a gente e Ethan respondendo derrotado,  que a voz voltou a minha cabeça “você nunca vai ser suficiente para todo mundo,mas com certeza vai ser perfeito para alguém”  e nesse caso eu não fui o suficiente para mim, talvez tenha feito o possível aos olhos de Ethan ou Nathan ou Lisa não sei... A verdade, talvez a pior verdade, aquela que eu não vejo, mas ainda sim a verdade é que nós tentamos. Fizemos de tudo. Quase morremos naquele hospital, mas pra que? Pra deixar Simas morrer. Não fui rápida o bastante. Não fui boa o bastante. Falhei. De novo.


Foda-se merda. Coloca fogo nessa porra. Coloca fogo no mundo. Acaba com isso. Agora”

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Capitulo 7 - Dangerous Water


- Não podemos entrar ai dentro – Comentou DJ – Vamos morrer afogados...
- É a única saída – Respondi.
- E se jogássemos uma bomba dessas neles? – Lisa pegou uma bomba da prateleira e mostrou.
- Colocaríamos toda a estrutura pra baixo – Respondi, Ethan estava pensando com o dedão no lábio e concordou com a cabeça. Peguei um tanque de ar – A gente reveza isso aqui.
- Um tanque? – Perguntou DJ incrédulo.
- É melhor do que nada – Respondi.
- Não... – Disse Nathan, os grunhidos dos errantes aumentaram junto com a força das batidas na porta. As dobradiças da porta rangiam, quase se quebrando. Não temos tempo – Temos que... Temos que planejar isso aqui. Não podemos simplesmente pular e pensar que...
- Está ouvindo isso? É Deus rindo em quanto você planeja! – Gritei irritada – Lembra disso? Você mesmo disse!
- Isso é diferente.
- Diferentes situações, o mesmo contesto.
- Caramba isso é muito azar sabia? – Sussurrou Simas. Azar. Carma. Destino, diferentes palavras que significam a mesma mentira. Não existe azar, isso é uma questão psicológica. Acredite nessa coisa de azar e ela o perseguirá. Siga sua vida que nada te acontece. Na verdade tudo isso... É simplesmente a vida fazendo das nossas escolhas consequências.
- Não temos tempo pra essas babaquice temos que ir logo! – Disse.
- Não podemos...
- Vamos – Disse Ethan – em duplas, DJ e Simas por ultimo. Nathan e Lisa. Sarah você vem comigo, ao meu lado e não saia de perto de mim. Link você nada melhor, vai na frente com a lanterna, ok? – Link assentiu. Pegou a lanterna, ascendeu, pois na boca e pulou. Coloquei o tanque de oxigênio nas costas – Pronta? – Ethan olhou pra mim, eu assenti, peguei uma faca de uma prateleira e coloquei no tênis,  ele pulou e eu logo atrás dele. Tudo que eu ainda conseguia ver, eram os objetos iluminados por Link. Parecia que isso era um corredor sem fim.
Peguei um pouco de ar, e passei a Ethan. Meu olhar se fixou na frente, tentei não pensar que não podia respirar. Mas isso era impossível. A lanterna foi caindo no chão. Link sumiu. Tudo que eu via era o negro, escuro sem fim.  Senti um movimento um movimento brusco atrás de mim. E do lado. Tateei da esquerda a procura do corpo largo de Ethan, mas não achei. Nadei até a lanterna, peguei-a. Sangue. Desde quando sangue é um bom sinal? Me agarrei a parede da direita, mas eu toque alguma coisa mole como tecido de ceda. Não era como, era na verdade tecido de ceda. Uma pessoa, eu me assustei, dei impulso para trás. Soltei todo ar da minha boca, e engoli água. Um homem com um gancho agarrado ao coração, sem os braços e se debatendo loucamente para chegar até mim. Subi, peguei um pouco de ar e passei para Simas. Peguei a lanterna, olhando para todo lado. Link sumiu, Ethan também. Boa, talvez má noticia. Descobri que o sangue era meu. A gazzy soltou meus machucados expeliram o sangue da minha mão. É... Má noticia. O boiando na água atrai atenção dos errantes como de tubarões. Vi dois nadando até mim. Tirei a faca do tênis e afundei-a no crânio do errante. Dei impulso numa grade de cela fui em frente, Simas passou o tanque pra mim. Peguei um pouco, acabou.  Sacudi o objeto de metal com raiva e depois soltei. Eu conseguia sentir o sangue latejar na minha cabeça. Procurei por Ethan e Link, não achei. A portinha de saída estava trancada. Peguei o cabo da lanterna e bati com força na porta. Meu oxigênio estava acabando, o pouco que eu ainda conseguia ver estava desaparecendo. Um errante agarrou Nathan. DJ veio até mim, me ajudou a socar a porta. Chutamos, as coisas estava desaparecendo. A porta abriu. Puxei ar pro pulmão, como nunca tivera puxado antes. Você não da valor a sua vida até estar prestes a perde-la. Tossi, e cuspi água. Meu coração batia acelerado. Ethan, Link e Nathan não tinha voltado. Peguei a faca e a lanterna e voltei. Eu conseguia ver Nathan se debatendo e lutando contra o errante, nadei rápido até ele, enfiei a faca por trás da cabeça do zumbi, ele afundou. Não olhei para Nathan, simplesmente o empurrei para cima. Fui mais para o fundo, e vi Link. Ethan estava ao seu lado. Link estava com sua pulseira de pano presa a um prego da grade, Link segurava Ethan que estava desacordado pelo braço com uma mão. Matei três errantes a caminho de lá. E tinham cinco dentro da cela na qual Link tinha prendido a pulseira, tentando morder seu braço. Cortei a pulseira com a faca. Link estava pálido. E quase desmaiando. Segurei seu braço e ele com Ethan no outro. Ajudei-os a submergir. Ethan não acordava de jeito nenhum. DJ fechou a porta.
- Ethan, cara fala comigo – Coloquei meu ouvido em seu peito, ouvi seu fraco coração batendo lentamente. Nathan corre para o lado do irmão, colocou as duas mãos sobre o peito dele e pressionou.
- Um, dois, três quatro, vamos lá cara... Vamos – Ele colocou o ouvido no peito de Ethan, e recomeçou a pressionar. – Sarah, eu preciso que você...
- Você ta brincando né?
- Não... Por favor – Formou um bolo na minha garganta. Eu sabia muito bem o que eu tinha que fazer. E sabia que era necessário. Só não sabia se eu queria... Acho que sim. É errado querer?
Tampei o nariz dele, e me aproximei de seu rosto. Seus lábios estavam úmidos, mas estavam quentes e macios. Respiração boca a boca não é tão ruim...
Senti a respiração dele vindo mais ofegante pelo nariz, me afastei e ele se levantou abruptamente, tossindo e cuspindo água. Ofegou um pouco.
- Quem me tirou de lá? – Perguntou ele.
- Eu.
- Muito obrigado – Ele sorriu. Eu assenti.
- Obrigado também, eu não conseguia tirar a arma – Comentou Nathan.
- Eu nunca mais vou por pulseira... – Disse Link. Eu levantei minha visão ficou escurecida por um instante, mas depois voltou ao normal. Meu estomago rugiu de fome, mas o som que eu ouvia era do meu coração. Ainda conseguia sentir o gosto de chiclete de menta da boca de Ethan. Fiquei em silencio por alguns minutos. Mas como meu pai dizia “quanto mais quieta a pessoa fica, mais barulhenta sua mente está”  agora essa frase faz sentido pra mim.
- Precisamos sair daqui – Disse.
- Eu to com fome – Reclamou Simas.
- Você está sempre com fome – Respondeu Link.
- Mas eu não como a três dias...
- Nenhum de nós – Disse Nathan.
- Vamos – Ethan se levantou, cambaleou pra trás e sacudiu a cabeça. Abrimos a porta, deixando a luz fria do dia iluminar todo o ambiente escuro. E apenas esperando por mais uma aventura, que provavelmente vai acabar comigo. 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Capitulo 6 – A arte do improviso.


Isso é um sonho? Quem dera se fosse... É estranho como a gente se apega as pessoas com tanta rapidez e facilidade. Ainda mais quando ela saúva sua vida. Me sentei no sofá com a visão escurecendo e turva. Ninguém falava uma só palavra. Uma loucura. Ontem Ethan quase morreu e eu atirei... Eu atirei? Atirei agora também. Meu Deus... Me levantei e sai da casa. Olhei pros lados, nada. Nada? Entrei de novo. Isso não é bom.
- Você matou minha prima... – Murmurou Lisa. Será possível que ela não viu o que aconteceu aqui?
- Como é que é?
- Você sua louca, matou minha prima! – Ela se levantou e olhou pra mim – Como você pode? – Ela apontou com o dedo indicador pra mim – Você não tinha o direito de...
- Salvar sua vida? Se ela continuasse “viva” mataria você, sem nenhuma hesitação – Tirei o dedo dela da minha frente - Mary não era mais ela, era um monstro.
- Como você se atreve? – Perguntou Lisa. DJ veio entre nós.
- Sabe que ela tem razão – Lisa olhou indignada pra ele, e depois se virou e sentou. Fui até a janela... Nada.
-O que foi? – Perguntou Link com voz falhada.
- Não tem nenhum zumbi lá fora. Nenhum.
- Isso é bom, não é? – Perguntou ele.
- Não. Atirei agora, e ontem. Barulhos atraem qualquer coisa, incluindo eles. Porque eles não estão aqui?
- Talvez não tenham ouvido – Disse Nathan.
- Não... Eles ouviram – Disse Ethan, entendendo o problema.
- Não tem problema – Disse Nathan – Eles não estão aqui.
- Não é porque o problema não esteja visível, que ele não esteja presente – Murmurou Ethan.
- Vamos sair daqui agora – Disse.
- Temos que enterrá-los primeiro – Disse Simas pela primeira vez desde o “acidente”.
- Não dá tempo – Disse Ethan.
- Eles demoraram a noite toda pra chegar aqui! Uma hora a mais não faz diferença! – Exclamou Simas irritado.
- Tudo bem cara... Calma – Disse Ethan. Ele se aproximou, e com a ajuda de Nathan ele levantou o corpo de Mason, e o levou para o jardim de fora. Eu peguei uma pá e os ajudei a cavar.
Quando acabamos, ninguém disse nada. Simas, estava com os olhos fechados, talvez rezando. Mas rezando pelo o que? Que ele vá para o paraíso? Será que isso existe mesmo? Bom... No inferno ele não vai. E sabem como eu sei? Porque já estamos nele.
Ou será que estamos no Purgatório? Apenas esperando para ver qual destino levaremos. Virar um errante, e ficar aqui, ou seja, inferno. Ou morrer e ir pro paraíso. Isso eu posso saber a qualquer minuto. Será que morrer é tão ruim? Já vi tanta coisa ruim que morrer parece ser a parte boa da vida. A verdade é que a vida não é complicada, nós somos. É interessante viver a base de: Viva cada dia como se fosse o ultimo. É mais emocionante, eu não sei como, mas nunca me senti mais viva. Mesmo no meio de tanta merda.
Pouco a pouco todos foram entrando. Apenas Simas ficou, andei até ele.
- Ei... Simas você está bem?
-Ele era meu melhor amigo desde que eu tinha 10 anos. É como se todos que eu um dia conheci, não existissem mais. Vocês são tudo que eu tenho.
- E vocês são tudo que eu tenho também – Ele me olhou.
- É bom ver como você me entende. Nenhum deles saberia como é.
- Eu sei – Eu segurei o braço dele, e o ajudei a se levantar. A alguns anos atrás teve um assalto na minha escola, parece que Deus me ama muito, porque quatro das minhas melhores amigas foram mortas naquele dia. Pra quem nunca perdeu ninguém apenas saiba: Sua alma se fecha. É como se pedaços da sua vida, fossem tiradas de você, até que você nunca mais é o mesmo. Você meio que morre por dentro. E eu... Eu passei tantos anos morta, que não sei o que é se sentir viva. Você se fecha pro mundo, é como se seu corpo estive aqui, mas sua alma não. Até você amar de novo, e amar... Não uma coisa simples de se fazer.
- Precisamos sair daqui rápido – Nathan estava desesperado.
- O que aconteceu? – Não precisei da resposta. “Meu deus o que é isso? Saíram errantes do esgoto?” Tinham tantos que eu nem consegui contar. Eles tampavam toda luz do sol que passava pelas janelas, seus grunhidos, e barulhos de passos arrastados vinham simultaneamente atacando meus ouvidos. Eu olhei para todos pensando no que fazer.
- Eu também não sei – Ethan, como você sabe o que eu estou pensando, quando nem mesmo eu sei? Olhei nos olhos dele, incrível. Não consigo ver nada. Apenas o desespero pela sobrevivência. Não sei o que ele está pensando. A mente humana é cheia de surpresas. Você nunca pode saber exatamente no que uma pessoa está pensando, ou sentindo, você só pode supor. Legal é que isso... Não se aplica a Ethan.
E agora? Olhei pra fora, vi o carro.
- Vão! – Eles olharam para mim como se eu fosse louca. E talvez seja. Correram pros carros. Ethan abriu a porta do passageiro pra mim – Não. Eu não vou agora.
- Como é que é? Não, entra logo. Vai!
- Não Ethan – Fechei a porta – Vai.
- Não vou sem você.
- Uma vida ou muitas? Vai logo. Isso não é um pedido – Ethan não se móvel. Eu corri para fora da casa, isso já deu certo uma vez. Pode dar duas... Não é? – EI! OLHEM AQUI! EI! – Os errantes começaram a correr a minha direção. Corri de volta para dentro da casa, Ethan não teve outra opção se não sair com o carro, com Lisa e DJ no carro atrás dele.  Alguns zumbis correram atrás deles, se eu não tivesse gritado todos iriam atrás de nós e estaríamos muito perdidos. Uma parte do plano funcionou. Mas e agora? Olhei ao redor, procurando qualquer coisa para me ajudar. Saibam: As vezes o improviso salva sua vida. Mas as vezes ele fode tudo. Então muito cuidado quando usar. Bem... A casa é feita de madeira, podre e velha... Queima fácil. Vai ter que servir.
Corri para dentro da cozinha, os errantes vindo em jorradas atrás de mim, peguei uma caixinha de fósforo, ascendi e joguei na cozinha, corri para as escadas subi correndo por ela, uma degrau quebrou. Puxei, mas não soltava de jeito nenhum. Meu coração batia com tanta força e vivacidade que pensei que fosse pular pela boca. Pisei no degrau até quebrar – o que não precisou de muito esforço – e me apoiei na pilastra que tem ao lado da escada para continuar a subir. Cheguei no corredor de cima, senti um calor por trás, o que significava que as chamas do fósforo já estava devorando a casa. A estrutura começou a chacoalhar – Não tenho tempo para pensar, caralho só corre – Janela aberta. Tem uma árvore de sabugueiro bem aqui ao lado, corri pelo corredor e joguei um fósforo no chão. O fogo se alastrou. Alguns errantes flamejantes, e com seus rostos em decomposição derretendo vieram atrás de mim pelo fogo. Dei impulso no chão e parapeito da janela e pulei. Segurei no tronco da podre arvore de sabugueiro, que quebrou me jazendo deslizar pelo tronco da árvore como um bombeiro. Não esperei para ver a casa em chamas atrás de mim, apenas corri para a rua. Não sabendo para onde ir, ou para onde me localizar. Só me dei conta de onde estava quando Ethan quase me atropelou com o carro.
Ele parou a centímetros da minha perna. Entrei no banco de trás do carro. Minhas mãos ardiam, por causa do tronco no qual acabei de escorregar. Nathan pegou seu kit primeiros socorros, não tinha mais quase nada. Tudo estava acabando, e não eram apenas suprimentos, e coisas medicinais...
- Não temos munição. Precisamos – Nathan passou um algodão com álcool nos machucados. Você não sabe o significado da ardência até sentir isso aqui.
- Primeiro – Disse Ethan – Você está bem?
- Sim. Eu... AI NATHAN!
- Desculpa – Nathan passou o utimo algodão, e depois enfaixou minha mão com gazzi.
- Ta, precisamos de munição. Não temos nada. Precisamos de comida também.
- E eu não sei? Só não faço ideia de onde conseguir...
- A gente poderia ir no shopping – Disse Link – Lá tem comida.
- Shopping deve estar entupido de zumbis – Sensurou Simas.
- Meu pai era policial – Disse – Ele estava comentando um dia antes do... “Acidente” ele teve que fechar um restaurante, por estar contrabandeando drogas... A comida ta lá até agora. E não está estragada, ainda.
- ótimo! – Disse Simas.
- Antes de pegar comida, precisamos de armas – Disse Ethan.
- E combustível. Porque o nosso, não vai durar pra sempre – Disse Link.
- Na casa dos nossos amigos no Tenneesse, não vai precisar de combustível. É só pegar um cavalo – Comentou Nathan.
- Não estamos no Tenneesse – Respondi.
- Ainda – Completou Nathan.
- Tem armas a dois quarteirões de lá– Comentei.
- Você acha que ainda estão lá? – Perguntou Ethan.
- Acho.
- Mas e os policiais que estavam lá? Devem ter pegado – Disse Simas.
- Não pegaram.
- Como sabe? – Perguntou Simas.
- Porque no final, tinham mais armas do que pessoas para  pegar.

Parece que milagres acontecem... Porque nossa gasolina durou mais 5 quilometros, que foi o suficiente para chegarmos até a prisão para pegar as armas. Tínhamos uma pistola 9 milimetros com uma bala no pente. Um machado. Meu machado. E um taco de baseboll, que ficou com Nathan.
Abrimos o fortão de latão e entramos na escuridão. Lisa e DJ ligaram as lanternas, descemos as escadas abrimos a porta. Grunhidos. Lisa se assentou e quase caiu em cima de Nathan. Quase.  E lógico ele teria adorado isso. Os presidiários foram deixados pra trás... Pra morrer. Estavam todos como errantes presos nas celas inferrujadas. Ouvi um gorgolejar de água a baixo de mim. Não sei porque, não espero não descobrir.
Fomos até o final do corredor a abrimos a porta.
-EITA QUE EU TO NO PARAÍSO! – Exclamou Ethan abrindo os braços feliz da vida e colocando as armas dentro da mochila. São 56 fileiras, 35 delas lotadas de munição e armas. Enchemos nossas mochilas. Tinha até dois tanques de gasolina. Mas como sorte dura pouco...
- O que foi isso? – Perguntou Lisa. As grades das celas cederão e os errantes estavam socando a porta para entrar. Não da pra voltar por lá.
- Como vamos sair daqui agora? – Perguntou DJ.
- Por aqui – Simas apontou para um portinha no chão. Ele abriu, água saiu de dentro.
- Mas o que...
- As caixas de água ficavam ai embaixo... – Lembrei.
- Que ótimo, elas quebraram. Vamos ter que nadar pra sair daqui, não é? – Perguntou Link. São 2 quilometros, isto é, 5 minutos sem respirar. Estamos ferrados. 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Capitulo 5 – Os fortes, também caem.


- O que aconteceu? – Mary estava pressionando um ferimento em seu braço.
- Tinham duas daquelas coisas lá fora... Ela acabou com eles – Respondeu Simas.
- E o sangue? – Perguntei.
- Me machuquei no arame farpado do portão.
- Ah – Ela não me olhava nos olhos, e alguma coisa em seu tom tremulo e baixo não me deixou acreditar.
- Quer – Começou Nathan- Que eu...
- Não tudo bem. Eu mesma faço isso, obrigada.
- Tudo bem – Nathan empurrou com o pé o kit primeiro socorros. Ela agachou não deixando ninguém ver seu ferimento e enrolou um pano gazzy nele.
- Alguém tem que ficar de guarda hoje a noite – Enúnciou Ethan.
- Eu fico – Respondi. Não quero dormir, porque não quero sonhar. Não se os sonhos forem iguais ao ultimo que tive. Tento tentar não pensar muito nele, mas sempre penso. Penso em como poderia ser diferente. Você não sabe o quanto ama uma pessoa, até ela não estar mais ao seu lado.
- Tem certeza? – Perguntou Link.
- Tenho – Eles se deitaram, e deixaram apenas uma vela acessa, na mesa que fica no centro da sala. Sentei no sofá, na frente de Mary. Ela deitou em posição fetal com o ferimento pra cima, A noite foi passando e todos adormeceram. Peguei uma lanterna e sai da casa. Acendi a luz baixa da lanterna, movimento. Virei, ninguém. Continuei andando, movimento mais uma vez, virei. Nada. Andei, movimento de sombra, virei pra direita, uma mãe tampou minha boca pela esquerda, me arrastou para dentro da casa.
- O que você estava fazendo?
- Caramba Nathan precisava me arrastar desse jeito. Quase me matou de susto.
- Desculpa, mas o que você estava fazendo?
- Checando...
- O que?
- No que a Mary disse que se machucou?
- Arame farpado do portão.
- Estranho...
- Porque?
- Não tem arame farpado no portão.
- Então ela mentiu...
- É.
- Não acredita nela?
- Não confio nela. Ela ta escondendo alguma coisa.
- Não acho que tenha motivos para se preocupar.
- Isso foi o que Ethan disse antes do chão quebrar.
- É... Mas meu irmão diferente de mim, é azarão – Nathan deitou a cabeça de lado, o brilho da vela pegou na lateral de seu rosto fazendo seus olhos brilharem iguais ao do meu irmão. Me deu uma pontada no coração. Respirei fundo, pigarreei e pisquei várias vezes para dissipar as lágrimas – Você acha Lisa bonita?
- Como é?
- Lisa – Ela a apontou com a cabeça – Acha ela bonita?
- Ah... Sim. Sim, ela é uma moça bonita.
- É... Gosto do nome dela também. Eu era viciado nos Simpsons – Eu ri,
- Eu também.
- Jura? – Ele tirou os olhos de Lisa, e olhou pra mim – Qual seu personagem favorito?
- Bart.
- Bart Simpson?
- Aham. Adorava o Bart, eu meio que... Me identificava com ele. Espera... Você está afim da Lisa?
- Eu? Não eu... Eu... Não.
- Hmmmm, Nathan gosta da Lisa – Cantarolei - Nathan gosta da Lisa.
- Fica quieta.
- Nathan gosta da Lisa, Nathan gosta da Lisa.
- Meu Deus, você tem quatro anos?
- Talvez menos. – Ficamos quietos por um bom tempo. Provavelmente pensando a mesma coisa. Não adianta irmos pro Tennessee. Não vamos estar seguros lá. Não estamos seguros em lugar nenhum
- Sabe... Meu maior medo seria: Virar uma coisa daquelas – Disse Nathan.
- É... Mataríamos nossos amigos, sem nem ao menos termos consciência disso.
- Bom... Podemos fazer um pacto.
- Um pacto?
- É... Olha: Se eu morrer, ou for mordido, por favor... Me mate antes que eu volte – Olhei nos olhos verdes de Nathan, bem no fundo consegui ver a tristeza e o peso que esse pedido fazia sobre ele, mas também consegui ver o desejo pela resposta.
- Só se você prometer o mesmo por mim.
- Combinado? – Ele ergueu três dedos.
- Combinado – Ergui três dedos também, e toquei a ponta dos meus com a ponta dos dele.
- Só não conta nada pro meu irmão não – Ele voltou o olhar para a luz da vela – Ele jamais entenderia porque eu pedi isso a você e não a ele... Quer dizer, ele nunca faria isso.
- Tem vezes que a vida de dá duas opção: Ou você vai junto com o outro, ou você livra o outro dele mesmo, e vive sua vida.
- Provavelmente ele escolheria morrer comigo... Não conte a ninguém, é melhor,
- Tudo bem – A noite passou e Nathan dormiu. Era mais ou menos cinco horas, e a única coisa que ouvia era o ronco da minha barriga. Normalmente quando não posso comer eu fumava, mas agora nem isso eu posso. Perdi literalmente tudo em um dia apenas... Pais, irmão, casa, carro, cigarros...
Meu cansaço foi me dominando, o tédio me corroendo por dentro, e o sono me dopou.

Chuva, a chuva castigada as janelas do meu quarto. Acordei com um barulho insuportável de mastigação. Tentei dormir de novo, mas com esses ruídos não dava. Me levantei para dizer para Jason comer mais baixo, mas quando sai do quarto o que eu encontrei foi Jason sendo mastigado.
Acordei com tanta violência que cai do sofá. Estava ensopada de suor. Por um instante pensei ainda estar no sonho, porque o barulho de mastigação continuava. Mas então, olhei pro lado e vi Mary. Ela era uma deles. E ela estava mastigando o pulmão, de algum pobre coitado que estava deitado no sofá. Me levantei cambaleante, era muito nojento. Anciã de vomito subiu a minha garganta. Fiquei tonta por um momento, e cambaleei. Tropecei na mesa de centro, e chamei a atenção de Mary. Ela largou o pedaço do fígado do anônimo no chão, e veio lentamente em minha direção. Chutei o tórax dela, e ela caiu em cima de Simas
- MAS O QUE... – Gritou ele acordando assustado. Arranquei ela de cima dele, com as mãos na garganta enforcando-a, vi um brilho de baixo do sofá. Larguei Mary-Zumbi, e me joguei no chão, peguei a arma, Mary se jogou em cima de mim, eu coloquei o cano em sua boca e apertei o gatilho. A cabeça dela explodiu. Lisa correu para mim... Para me ajudar? Não. Para pegar o cadáver de Mary. DJ chegou depois dela. Me apoiei na mesa para levantar.
Apenas para ter um segundo choque. O anônimo em que Mary estava comendo as partes, era... Mason. O sol estava no topo, deveria ser nove e meia da manha, Mason veio cambaleante até nós com aqueles olhos leitosos... Ele se jogou para cima de Simas tentando abocanhar seu pescoço, Simas o empurrou fungando, e  piscando para não chorar. Ethan pegou um canivete, e cuidadosa, calma e friamente enfiou a ponta dele na nuca de Mason. Depois na parte de trás da cabeça, Mason cambaleou pra trás, e depois caiu.
 Sabe a pior parte?  É ver um cara incrível, de um metro e noventa de altura, braços enormes, cair. Isso só mostra, que... Todos um dia vão ceder. Mostra que até mesmo os fortes, caem. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Capitulo 4 – Tudo que sobe, tem que descer.


- Por favor, por favor nos ajudem! Espera! – Um garoto branco, duas garotas negras, muito magros, machucados, desesperados. Ethan desceu do carro, se apoiou com o braço na porta. Eu desci também. O sol da tarde castigando meus olhos.
- No que posso te ajudar cara? – Perguntou Ethan amigavelmente, mas com um leve tom de raiva. Provavelmente por eles atrapalharem nossa viajem.
- Por favor, nos deixe seguir viajem com vocês. Sabemos lutar contra os bichos, temos nosso próprio carro, não somos pessoas ruins.
- O grupo já está grande demais – Respondeu Ethan, andando até o garoto e se virando para nós com as mãos na cintura pensando.
- Olha cara, estamos a semanas viajando. Não sabemos pra onde ir, não temos com quem ficar por favor. Faremos de tudo para ajudar vocês, só... Nos deixe ficar junto – Ethan olhou pra mim.
- O que você acha?
- O que? – Não consegui acreditar no que ouvia, ele está pedindo minha opinião? Como eu posso ajudar?
- O que você acha? – Eu olhei para eles. Pareciam pior que a gente, respirei fundo pensando: E se fosse eu? Eu costumava fazer isso. Mas sempre foi um grande erro, fazer o que... É  um defeito.  Eu dei de ombros e assenti – O.K, podem vir com a gente – Eles sorriram as meninas se abraçaram. – Como são seus nomes?
- David Jackson, mas pode me chamar de DJ – Disse o garoto.
- Lisa e essa é minha irmã Mary.
- Prazer – Taylor se virou e andou de volta pra Honda, meus olhos estavam cerrados por causa do sol, coloquei a mão para proteger – Aqui. Um presente – Ethan me estendeu seus óculos de sol Ray ban RB de lentes pretas e armação dourada. Ergui a sobrancelhas, e estendeu mais o braço, eu preguei o óculo.
-Muito obrigada.
- De nada – Ele sorriu e entrou no carro. Os outros três estavam de carro nos seguindo.
- Você acha que foi uma boa ideia tê-los deixado entrar no grupo? – Perguntou Simas.
- Eles podem ser perigosos – Disse Mason.
- Perigosos como? – Perguntei.
- Assassinos.
- Eu matei meus pais.
- Matar por piedade não te torna uma assassina – Respondeu Link.
- Tem razão – Disse Ethan – Mas você viu a cara deles? Um monte de carros devem ter passado por eles sem nem ao menos tê-los olhado no rosto. Se fosse eu, eu não acharia legal essa atitude não acham? – Uau, ele faz o mesmo que eu. Isso é um duplo defeito.
- Não sinta tanta pena irmão – Retorquiu Nathan – Não se coloque no lugar deles. Não se coloque no lugar de ninguém, porque se fosse ao contrário eles provavelmente passariam com o carro em cima de você – Ethan não respondeu.  Quando o céu já estava escurecendo, Ethan passou a observar a rua para ver onde iríamos ficar. Não ligou os faróis do carro para não chamar a atenção. Estacionou na frente de uma casa velha, com a pintura descascada.
- Acho que dá pra gente ficar aqui essa noite – Descemos do carro, entramos na casa. Eu ouvi alguns ruídos, e caiu poeira do teto, varri a casa com o olhar – Não. Não é seguro – Incrível como Ethan consegue saber o que eu estou pensar apenas olhando nos meus olhos. Isso não é o que eu chamo de legal – Mas vai ser o suficiente por uma noite – Olhei de novo pra cima – Ficaria mais tranquila se eu desse uma olhada?
- Só se eu fosse junto – Ele me olhou, respirou fundo e me entregou uma arma e um walkie talkie.
- Vamos então – Peguei a arma, e uma lanterna.
- Sarah – Chamou Nathan. Me virei, ele jogou um segundo pente de balas eu agarrei, e coloquei na meia do tênis.
- Valeu – Me virei e subi as escadas. Ethan iluminava o caminho com a lanterna, os ruídos vinham do sótão. A escada é feita de madeira, madeiras velhas, roídas por cupins, mofadas e que fazem barulho quando você pisa. Os ruídos ficaram mais altos quando chegamos na porta do sótão.
Ethan olhou pra mim, contando até três com os dedos... Abriu a porta.
Nenhum errante a vista, o ruído vinha de trás de uma mesa empoeirada. Ethan levantou a arma, e eu também. Andou lentamente até a mesa e a empurrou pra trás, fazendo um rato sair correndo. Eu me assustei. Olhei para Ethan, e nós dois rimos.
- Ta vendo? Não tem com o que se pre... – O chão cedeu.
- ETHAN! – Ele caiu dentro de um armário no andar de baixo. Ethan gritou, tinha um errante preso dentro do armário, ele prendeu o errante contra a lateral do armário depois atirou na cabeça dele. Alguns errantes saíram das sombras. Vantagem: O armário é alto, o teto ta muito em cima os errantes não vão conseguir passar. Desvantagens: O armário é alto, o teto ta muito em cima Ethan não vai conseguir passar.  Tentei andar, o piso de madeira velha rangiu, não ia me aguentar. Olhei pra baixo tentando pensar nas possibilidades, Ethan pode quebrar o armário. Mas tem dez errantes, e ele não tem todas essas balas. Se ele ficar ali ele vai morrer lá dentro.
Dei dois passos pra trás, e sentei no chão empoeirado.
- Cara... Você ta cercado – Sussurrei pelo walkie-talkie.
- Obrigado Sherlock – Sussurrou Ethan de volta.
- De nada Watson.
- Troca de papeis?
- As vezes é necessária.
- Sarah... Tem alguma ideia? – Pensei por um instante, pensar e fazer loucuras quando a adrenalina está no sangue é fácil. Difícil é fazer o certo quando se está sóbria. Os passos lentos e arrastados no andar de baixo se aglomerando, me apreçando. A única coisa que eu conseguia pensar era “tire Ethan de lá” e é o que eu iria fazer.
- Eu vou te tirar daí.
- Eu sou pesado. Não dá pra você me tirar daqui sozinha.
- Mas eu vou.
- O chão vai ceder, e você vai se juntar a mim.
- Se isso acontecer, a gente vai matar esses zumbis e saímos juntos – Respondi.
- Isso não vai funcionar.
- Quer parar de ser pessimista?
- Olha... Só diga ao meu irmão que eu tentei ser bom, não fui o melhor, e peça para ele desculpas... Por não ter lutado por ele.
- Diga isso você mesmo pra ele.
- Sarah...
- Cala boca Ethan – Eu me deitei no chão de barriga pra baixo. E me arrastei até o buraco no chão, Ethan é bem mais pesado do que eu. Não vou conseguir puxar ele pra cima. Não posso gritar os outros, caso tenham mais deles pela casa. A única opção é...
Desci para o andar de baixo.
- O que você pensa que está fazendo Sarah?! – Exclamou Ethan. Atirei num errante e no outro, tinham três amontoados no mesmo canto, atirei em suas cabeças. Nunca tinha segurado uma arma na vida, mas o conceito é simples: Mantenha a calma, destrave e mire na cabeça. As balas acabaram – Muito boa, e agora? – Tinham ainda quatro deles. Senti um incomodo na meia, não dá tempo de colocar... Mas dá tempo de pegar. É simples: Lei da gravidade. Tudo que sobe – Joguei o pente pra cima, dei um soco no rosto em decomposição do primeiro errante, ele cambaleou e voltou, chutei o rosto dele e ele caiu – Tem que descer – Peguei o pente e pluguei na arma. Um tiro na cabeça. O outro chegou, acertei o cabo da arma na lateral da cabeça dele, girei a arma pela alça de ferro com o dedo e apertei o gatilho. O ultimo me empurrou e eu bati as costas contra o armário, mirei a arma na cabeça dele, e ele agarrou meu braço tentando me morder. Isso me lembrou de um momento bizarro na infância quando eu e Jason disputávamos o controle da TV, só que agora é sério. Joguei a arma pra cima, e a agarrei com a outra mão, segurei a nuca do errante e o virei deixando o topo de sua cabeça em baixo do meu queixo e atirando a queima roupa, fazendo assim espirrar sangue no meu rosto.
Acabou. Minha respiração estava ofegante. Bati no puxador do armário com o cabo da arma, quebrou e Ethan saiu de dentro. Olhou ao redor. E me abraçou. O abraço dele era gostoso. O jeito quente em que seus braços musculosos envolviam minhas costelas, e meus braços sua nuca. Seu cabelo macio encostava no meu rosto. Senti meu coração bater com violência contra o peito, espera que isso não seguinifique o que eu acho que seguinifica porque... Eu o conheço a um dia.
- Nunca mais vou duvidar de uma Idea sua – Disse ele me soltando, e sorrindo – Muito obrigado.
- De nada – Sorri pra ele. Saímos do quarto e descemos as escadas.
- A partir de hoje, eu sou caustrofóbico... – Eu ri.
- Imagino.
- O que aconteceu lá em cima? – Perguntou  Nathan.
- Eu quase morri. Mas ela salvou minha vida.  Agora estamos quites – Disse Ethan.
- Estamos – As cortinas estavam fechadas, DJ, Mary e Lisa ascenderam velas. A noite caíra como veludo sobre o céu. Não consigo imaginar ainda a causa disso tudo. Vírus? Um trabalho para Deus? Será que ele transformou as pessoas assim, para que os sobreviventes limpassem o mundo? Eu estou sendo usada ou será que estou trabalhando pra ele? O único problema é que... Eu não trabalho pra ninguém.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Capitulo 3 – Uma ultima vez.


Eu me senti em movimento. Abri os olhos, pisquei algumas vezes até minha visão voltar ao normal. Eu estava deitada no banco de trás de um carro grande preto – talvez uma picape- Nathan estava passando alguma coisa gelada no meu rosto, que ardia quando tocava as feridas, e elas estavam pelo rosto todo.
- Como você se sente? – Perguntou Ethan.
- Dolorida – Respondi.
- Caraca, foi muito maneiro – Riu Simas – Você tava cercada e a gente estava ficando aflito, e então você correu pra fora, e BUM a casa já era. Foi muito legal. Eu me senti num filme.
- É – Disse Mason – Mas era real. Eu deveria ter ficado e ajudado você.
- Não, você deveria ter feito o que fez – Respondi me sentando – Uma só é melhor. Dois traria problemas. Um de nós poderia não ter voltado.
- Ela tem razão – Respondeu Link. Passamos um tempo sem falar nada. Nathan estava bastante quieto em quanto colocava ataduras nos meus machucados, band-aid, passava remédio e etc. Eu me sentia meio tonta, mas me recusei e desmaiar de novo. Link olhava pelo horizonte, nas ruas cheias de lixo, alguns pontos de incêndios, lugares quebrados, lojas saqueadas com suas coisas que não foram roubadas caídas no chão. Será que da pra dizer assim? Roubadas? Agora o único objetivo era o de sobreviver. Não importa como. Não existe leis. Você entra e pega o que der – O mundo mudou muito.
- Não – Disse Ethan – o mundo é o mesmo que foi a muitos anos atrás. Os humanos que fizeram dele a merda que é. O mundo seria o melhor lugar para se estar. Mas fizemos o favor de estragar isso também. A gente mudou – Alguns quilômetros a frente, Ethan diminuiu a velocidade da picape.
- Porque estamos parando? – Perguntou Link.
- Vamos ficar dias na estrada. A comida que tinha na casa da Sarah não vai ser o suficiente. Temos que pegar mais – Ele parou na frente de um super mercado Walmart. Tinham alguns carros estacionados a nossa frente, que estavam até criando poeira. O mercado estava escuro, tudo que eu conseguia ver era as coisas mais para frente que o sol iluminava. Ethan olhou para o resto de nós – Prontos? – Eles assentiram. A rua estava cheia de carros, as casas paralelas a rua em que estávamos estavam quebradas, não sei se por humanos ou errantes. Nathan desceu, e quando fiz menção de fazer o mesmo Ethan me parou – Você não vai Sarah.
- O que? Por quê?
- Porque precisamos de alguém para tomar conta do carro, e você não vai aguentar andar. Vai desmaiar com o sol; Fez um ótimo trabalho hoje, não precisa de mais nada – Ele colocou o braço no capo do carro.
- Mas eu consigo...
- Eu sei. Mas não precisamos arriscar, não é? - O sol bateu de lado em seu rosto. Por um momento alucinante ele pareceu muito com Nathan. Ethan sorriu – Sim, Nathan é meu irmão.
- Ethan! – Sussurrou Mason com urgência. Ele chamou Ethan com a mão, e ele levantou a mão como quem diz “estou indo”.
-Se precisar falar comigo, tem um walkie-talkie dentro do porta luvas – E fechou a porta. Eu suspirei, controlando o impulso de gritar.
Uns cinco minutos se passaram e eu não aguentava mais ficar parada, sem fazer nada. Comecei a ficar inquieta, e eu não tinha cigarro nenhum para acalmar minha agitação. Procurei pelo carro e encontrei um chiclete dentro do porta luvas. Sentei no banco do motorista, e coloquei as pernas no banco do passageiro, e apenas senti o gosto da menta se espalhando pela minha língua. Olhei a hora “16:30” e essa foi a ultima coisa que vi, antes do tédio tomar conta de mim e eu dormir.

- Sarah! Me ajuda! – Jason gritava fora do carro olhei para ele pelo retrovisor, mas tudo que eu conseguia enxergar eram as cabeças mortas em movimento. Dane-se merda, é o meu irmão!
Parei o carro de lado cantando pneu, e desci. Peguei um taco de baiseboll do porta malas, e usei na cabeça de um errante que vinha lenta e bobamente na minha direção.
- JASON! JASON CALMA EU VOU TE AJUDAR CARA, EU VOU TE AJUDAR!
- SARAH! – Eu só via um amontoado de zumbis em cima do corpo do meu irmão – SEUS IDOTAS INSIGNIFICANTES, EU VOU MANDAR TODOS VOCÊS PRO INFERNO! – Bati com o taco na cabeça do outro errante, até ela se explodir e espirrar sangue para todo lado. Comecei a empurrar os corpos de cima de Jason, mas tinham tantos não conseguia ver o rosto do meu irmão. Só uma ultima vez. Só queria ver o rosto dele uma ultima vez, antes de ele virar o inevitável. Um errante agarrou minha garganta, me derrubou contra o asfalto. Ele me olhou com aqueles olhos leitosos e cinza, babando um liquido gosmento preto pronto para me atacar. Ele me mordeu.
Cortei assustada, pulando do banco com o cinto de segurança enrolado no meu pescoço. Meu coração batia com violência contra o peito. Fiz uma bolha de chiclete. Olhei a hora “16:50”... Cadê eles?  Encostei a cabeça na janela de novo, e olhei em direção ao mercado. Vi algumas luzes de lanternas e fiquei um pouco mais tranquila até que...
Movimento no retrovisor. Sentei, olhei para o vidro traseiro. Uma horda dos errantes vinha para cá. “eles não podem voltar. Não agora” Pensei. Peguei o walkie-talkie.
- Alô? Você estão me ouvindo, câmbio? – Estática – Ethan, Ethan por me responde cara – Estática – Mas que porra Ethan – Estática. Olhei pra trás, estavam se aproximando. Fechei as janelas do carro. Fui para parte de trás dele sentei no assoalho e torci para que eles não me vissem. Os primeiros começaram a passar sem olhar para o carro
- Sarah... Sarah ta me ouvindo? – A voz de Ethan me assustou.
- Ai graças a Deus, pensei que vocês...
- Eu sei... Você está cercada – Engoli o bolo que se formava na minha garganta.
- Muito obrigada Sherlock.
-De nada Watson– Sorri.
- Não acredito que você me faz dar risada no momento como este.
- Fazer alguém sorrir num dia normal é bom. Mas a sensação é bem melhor quando a situação é difícil –Suspirei, tentando fazer minha respiração voltar ao normal, mas ela estava descontrolada.
- Ethan... O que eu faço? – Ele não respondeu. Estática. Um errante ouviu. Virou o olhar para o carro, se aproximou e me viu. Colocou suas mãos em cima do carro chacoalhando a picape. Outros se juntaram ao primeiro, todos derramando sua gosma preta pela janela, grunhindo.
-Sarah...
-Oi? – Tentei parecer calma, mas a verdade é que eu não sabia o que fazer.
- Sai daqui.
- O que?
- Vai embora.
-Mas e vocês?
- A gente da um jeito. Vai embora – Não. Eu não vou deixar eles aqui. Me levantei e sentei no banco do motorista.
-Não. Me esperem eu vou voltar.
-Não, Sarah vai embora! Não tem como você...
- Não me subestime. Eu já volto – Liguei o carro. E dirigi, atropelando qualquer um dos errantes a minha frente. No final da rua, subi uma avenida. Liguei o rádio, deixei a adrenalina subir a cabeça mais uma vez, me tornar inconsequente de novo. Olhei pelo retrovisor – Olá pessoal – Peguei a única bolsa do carro, abri a porta com ele ainda em movimento e rolei pra fora. O carro desgovernado andou enlouquecido e bateu contra um poste. Corri até um beco. Esperei um pouco, olhei pra trás os zumbis estavam entrando no carro. Eles são idiotas, mas não burros. Uma hora ou outra eles vão notar que não tem ninguém dentro o carro e voltar para o mercado. Corri pelo beco, procurando por um carro que tenha gasolina. Não, não, não, não, sim. Achei um. Uma Honda Civic preta. Tem gasolina só que não chaves. Ainda bem que eu era irmã do Jason. Meu irmão uma vez foi preso por roubar um carro e dirigir com ele bêbado. Fiz ligação direta na Honda, e dirigi com ela até o mercado.
- Ora, ora, ora bom trabalho... – Disse Mason.
- Carro bacana – Simas passou a mão na Honda com os olhos brilhando, e o sorriso faiscando.
- Quem diria – Link entrou no carro.
- Eu não te subestimo – Ethan sorriu. Nathan andou até o meu lado e me abraçou.
- Já perdemos dois até agora. Perder mais um não é opção. Não faça mais essas besteiras – Ele me soltou – O.K? – Eu assenti. Ele sorriu, e segurou no meu ombro me guiando para dentro do carro. Andamos por dois quilômetros até que houvesse outro empecilho. E este estava vivo.
- ESPERA!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Capitulo 2 – Queime, no inferno.


O homem é assombrado pela vastidão da eternidade.  E este assombro, se tornou mais acentuado agora.  Agora que não se sabe o que irá se encontrar na esquina. Durante a guerra fria Estados Unidos e Rússia lutavam para ver quem ganhava em questão de tecnologia. Cada um luta com a mão que tem. Cinema, música, ciência.  Cada um usava a população para mostrar quem manda, a população fazia tudo em quanto o presidente sentava e recebia sua glória, agora... Imagine só um rei que trava as própria batalhas, isso sim seria uma novidade. Acho que um cientista sedento por atenção criou um vírus, não sei que merda de utilidade teria este vírus, mas com certeza ele deu errado. E agora quem se ferra? Exato. Todos nós.
- É... Estamos todos bem ferrados pessoal – Disse Simas.
- Ethan... Ela vem com a gente né? – Perguntou Nathan.
- Claro, acho que não podemos deixa-la aqui...
- Me levar pra onde?
-Bom... No momento Tennessee
- Como é?
- Eu e os caras saímos da Califórnia ontem, e viemos para Los Angeles ante ontem, mas acho que aqui está tão ruim quanto lá.
- O inferno é aqui... – Sussurrou Link.
-A comunicação não existe mais. O pessoal da rede elétrica não trabalha mais, ninguém trabalha mais. Não temos água quente. Luz, bateria pro celular, computador, telefone, rádio nada. Não tem mais pra onde correr.  Mas tem um grupo de amigos meus que moram no Tennessee. Não vai ser seguro em lugar nenhum, mas estar num lugar é melhor do que estar na rua. E como... Seus pais... E sua casa... Acho que você poderia se juntar ao grupo. Se quiser.
- Porque não? – Disse. Desde que esses cinco homens me salvaram de virar zumbi a quinze minutos atrás eu adquiri uma certa... Fidelidade com eles.
- Tudo bem então... – Sorriu Mason, ele veio com sua arma ainda na mão até mim – Podemos pegar as coisas... Comida, água? – Estiquei a mão em direção a cozinha, de modo a dizer “vai lá” Mason assentiu e ele, Link, Simas e Ethan foram olhar a casa. Eu fui até a varanda da frente da casa, e sentei um pouco na cadeira de balanço que um dia fora da minha mãe, e observei a rua detonada. Todas as janelas estavam fechadas, todos trancados em suas casas. Não tinha sinal nem de vivos, muito menos de mortos.
- Pensando? – Nathan sentou na cadeira ao lado, a do meu pai.
- Sempre.
- Quer? – Nathan tirou um maço de cigarros do bolso. Ele sacudiu o maço, fazendo quatro dos cigarros saírem 5 centímetros para fora.
- Obrigada – Peguei um. Ele ascendeu com um fósforo.  Hoje de manha eu acordei, saí de casa peguei meu carro e dei uma volta pelo quarteirão com ele. Fingindo estar procurando emprego por causa da minha mãe. Vi três “pessoas” em cima de um corpo, sangue espalhado ao redor dos corpos. Balancei a cabeça, e segui em frente; Vi mais dois casos depois disso, mas não dei muita bola. Quem dera eu não tivesse feito isso.
- Loucura não é?  - Eu assenti com a cabeça.
- Eu estava planejando viajar mês que vem para Las Vegas, trabalhar por um tempo nos cassinos, e depois voltar cheia de dinheiro para cá. Minha mãe ia ficar orgulhosa, e depois que a grana acabasse ai sim eu iria planejar um emprego de verdade – Nathan riu. Vários grunhidos surgiram um pouco mais além.
- Está ouvindo este barulho? – Ele apontou para onde os grunhidos vinham – É Deus rindo em quanto você planeja. Não planeje muito, já que agora não a nada para se esperar, nada a planejar.O apocalipse é como um incêndio descontrolado. Nada vai acontecer, não tem como parar, apenas se acostumar – Eu assenti.
- Qual sua história Nathan? – Ele demorou alguns segundos para responder, respirou fundo e disse:
- Bom, quando eu tinha 12 anos sai com meus pais para uma pizzaria. Foi incrível sabe? Eu nunca comi tanta pizza na minha vida, fiquei tão cheio que pensei que se respirasse vomitaria. Então na volta para casa, um idiota cruzou o farol vermelho, ouve um acidente, meus pais morreram. Eu não. Depois disso passei minha adolescência inteira com minha avó Gertrude.  Era legal, mas... Não eram eles. Eu não lembrava o que era ter uma família até ir pra escola e me conhecer esses idiotas – Ele apontou com o dedão para dentro da casa, sem tirar os olhos do horizonte vazio. Ele tomou fôlego, pigarreou e continuou – Mês passado, quando os ataques dos zumbis chegaram na Califórnia, eu comecei a guardar mantimentos para sobreviver em casa. Um dia eu fui no mercado, e quando voltei minha casa estava igual a sua. Minha avó tinha sido atacada. Foram apenas dois zumbis, mas a velha tinha 82 anos. Ela não aguentaria nem dois minutos. A minha história não foi tão forte quanto a sua porque... Não sobrou nem uma parte dela para contar a história. Pelo menos não tive que vê-la como um monstro.
- Uau Sinto muito pelo seus pais. E por sua avó.
- Pelos meus pais eu não sinto. É melhor eles terem morrido, e não terem visto essa merda acontecendo. A minha avó era velha demais. Não é saudável viver assim, correndo, se escondendo, lutando para sobreviver.
- Sempre foi assim – Ele olhou para mim – Pessoas matando pessoas. A diferença é que antes alguém tentava deter isso. Agora, é cada um por si.
- Tem razão – Fizemos uma longa pausa – Sabe, não sei porque te disse isso. Acabei de te conhecer. Nunca contei essa história pra ninguém.
- Jura?
- É... Não sei, senti que podia confiar em você.
-Então continue assim – Soprei a fumaça do cigarro, e joguei no chão; Pisei em cima. Eu continuava com meu short jeans, blusa branca, e tênis all star vermelho sujo e surrado. Senti meu nariz escorrer, era sangue. Me levantei e olhei no espelho quebrado que fica na parede da sala. Nariz, ouvido, braço sangrando. Eu estava suja. Toda ralada. Com um hematoma no pescoço – Por eu ter batido no volante – eu estava horrível.
- Eu posso cuidar disso. Tem um kit primeiro socorros no carro.
- Você sabe de enfermagem? – Peguei um pano, e passei no nariz.
- Não porque eu queira, mas porque minha avó me obrigou – Ele sorriu. O sol pegou de lado no rosto de Nathan, fez seus olhos brilharam mais do que antes estavam. Ele tinha a cabeleira preta bagunçada, e isso era um charme maior. Não tinha notado antes como ele era bonito. E agora pensando bem, os outros também eram. Os grunhidos se elevaram me tirando do meu mundinho.
- Más noticias – Simas voltou – A casa ta cercada por trás. Não da pra chegar até o carro.
- A que ótimo – Resmungou Nathan
- O que aconteceu com seu ouvido? –Perguntou Link.
- O meu carro explodiu – Respondi. Ele ergueu as sobrancelhas, eu dei de ombros – Normal.
- A gente – Começou Ethan – Tem que pensa em como sair...
- Pera ai – Interrompeu Mason – Você disse... Explodiu?
- Ah não – Link revirou os olhos - lá vem ele de novo com...
- Cala boca Lincon – Me controlei da vontade de rir. Lincon? Nome legal – É sério. Da pra gente sair daqui, vocês confiam em mim? – Eles demoraram alguns segundos para responder.
- Sim – Disseram simultaneamente.
- Ótimo, Sarah pode me ajudar?
- Claro – Mason tirou um machado de dentro da mochila preta e me deu. Ele fez sinal com a cabeça para o acompanhar, ele foi para rua. Não precisava se afastar muito para ver os errantes. Eles estavam por toda parte. Provavelmente pelo barulho dos tiros, na minha casa.
- EI! AQUI! EI! – Gritava Mason.  Não entendi imediatamente, mas depois entendi. Chame atenção.
- EIII!!! OLHA AQUI! – Os errantes se viraram para nós – Distração humana? – Perguntei.
- Pegou rápido – Eles vinham do seu jeito lento, a nossa direção. Parecia uma corrida em câmera lenta, de quarenta mordedores nojentos e dois humanos. Mason e Eu corremos para dentro da casa. Os fundos estavam livre, a frente estava cheia – Vão pro carro! Rápido!
- Mas e...
- VÃO! – Simas olhou para ele, e depois correu pelos fundos. Os outros foram logo atrás – Sarah, vamos...
- Eu acho que eu já sei – Uma adrenalina que droga nenhuma me traria subiu minha garganta. Era como se eu soubesse do que fosse acontecer, e soubesse como fazer – Vai com eles. Eu faço isso.
- Não, eu disse...
- Eu estou no grupo agora não é? E isso significa proteger uns aos outros, eu te protejo, vai. Eu sei o que eu to fazendo – Não a tempo para ele pensar muito. Os errantes começaram a entrar na casa, Mason colocou a mão no meu ombro, me olhou nos olhos e disse:
- Cuidado – E correu. Olhei pra trás eles já tinham entrado. Fui para a cozinha dar continuidade ao plano de Mason, procurei. Tinha uma caixa de fósforo que eu e Jason escondíamos para quando mamãe saísse fumar. Coloquei o machado na mesa e subi nela abri a porta do armário do alto. Peguei a caixinha, fui puxada para baixo. Os zumbis agarravam meu tornozelo com seus dedos mortos. Eu pisei o pulso dele com a outra perna, o pulso quebrou esparramando sangue preto e viscoso por toda mesa e chão, a mão que se agarrara no meu tornozelo continuava ali, sem corpo. Segurei a mão e joguei no chão, no outro eu chutei sua cabeça para a quina da mesa, e depois pisei duas vezes em cima. Partes do cérebro do errante se espalhou pelo chão, e ele caiu. Peguei o machado e desci.
Liguei o gás do fogão. Os errantes estavam bem aqui “como eu saiu daqui?” Olhei em volta “porta dos fundos” um chegou muito perto, cortei a cabeça com o machado, peguei o pano da pia e joguei álcool, empurrei um segundo no peito com o pé, ele cambaleou e quando voltou enfiei a lamina do machado no meio da cabeça. Coloquei o pano na pia e ataquei álcool por todo chão, e mesa. “Bota fogo nessa porra, acaba com isso, bota fogo no mundo” a voz de novo, sacudi a cabeça como se pudesse arrancar a voz de dentro dela. Um errante veio “correndo” para mim, e escorregou no álcool. Liguei o fósforo, e joguei no chão. Começou a queimar.
Corri até a porta da cozinha, e entrei. Fechei e corri pelo corredor. A porta dos fundos estava trancada “ora, não está na hora disso porcaria. ABRA!”  chutei a porta um vez e nada, ouvi alguns passos arrastados e a adrenalina começara a se transformar em pânico. Chutei mais duas vezes, a porta abriu. Sai de casa, e corri até o carro. A casa explodiu. Eu voei, e depois cai em cima de outro carro. O impacto fez ele soltar o alarme.  A minha visão ficou turva, e eu apaguei.


terça-feira, 16 de abril de 2013

Capitulo 1 - E é assim que o mundo acaba.


- Ascende aqui – Jason ligou o isqueiro e ascendeu meu cigarro, soprei a fumaça que encheu o carro com o cheiro dela, abri a janela – Você não deveria estar na faculdade agora não?
- Deveria – Jason abriu a janela dele também, deu de ombros com sua cara de despreocupado – Mas eu tenho um programa melhor...
- Aé? O que?
- Ficar com a minha amada maninha – Diz ele sorrindo.
- Não mente garoto.
- É só que... hoje eu não tava afim.
- Pelo menos você trabalha, a mamãe me mandou procurar emprego hoje. Mas você sabe, ela quer que eu trabalhe no mesmo que você, mas o que ela não entende é que eu não quero.
- É... Não é para qualquer um trabalhar no posto de gasolina a um metro da casa da mãe – Eu ri. Eu amo meu irmão, Jason é o melhor cara que eu já tive o prazer de conhecer. Ele faz faculdade de direito, quer ser advogado. Mas falta na metade das aulas, e não é muito de ir com a lei. Minha mãe gosta que Jason trabalhe no posto de gasolina, exatamente por ser perto da casa dela, e assim ela pode envergonhá-lo levando almoço no trabalho dele e dizendo “a então esses são os amigos do meu menininho? A que lindo, venham ver uma foto dele bebe na banheira” E é este exato motivo que eu não quero trabalhar ali – Ta afim? 
- Hoje não – Ele abaixou o saco de cocaína – Eu tenho que estar sóbria se quiser achar um trampo.
- Mas você não quer.
- Disso você tem razão – Bati o cigarro no parapeito da janela do carro, deixando as cinzas caírem no chão.
- Você pensa que é um saco a mamãe falar para você ter um emprego? Espera pra ver quando você conseguir um. Ela não vai te deixar em paz – Eu ri. E bati no braço dele. Jason se contraiu.
- O que você fez? – Perguntei. Ele não respondeu, olhou janela a fora – Jason? 
- Nada – Apalpei seu braço, e apertei a jaqueta, ele fez uma careta de dor e se contraiu mais uma vez – A não, você não fez isso.
- É pequena.
- Jason, a mamãe vai te matar!
- Não conta pra ela.
- Não conto. Me mostra – Ele olhou em volta, na rua deserta e tirou a jaqueta. Uma tatuagem de um fênix que começava no ombro e terminava na terceira costela. Era vermelha, com contornos pretos. – Incrível. 
- Valeu – Ele vestiu a jaqueta de novo. Peguei o cigarro com o dedo indicador e o dedão, e joguei no chão. Estávamos parados no acostamento, do lado do Jason a calçada, na calçada um jardim que rodeava a casa ao lado. Do meu lado, mais casas. O sol estava bem no auge no momento. A brisa suave passava meu rosto – Sarah? Você ta ai?
- O que? Foi mau.
- Tudo bem. Você ouviu sobre esse vírus? Uma loucura não é?
- É, eu vi no noticiário. Eles pareciam zumbis.
- Pareciam mesmo – Ele estreitou os olhos, e olhou mais além – Ai merda – Olhei para onde ele estava olhando, não sei... Talvez trinta? Eu diria que sim. Trinta daquelas coisas que eu penso serem zumbis, vindo na nossa direção. Eu apenas entrei em pânico.
- O que... O que a gente faz?
- Vamos embora – Eu assenti. Girei a chave, nada. Girei de novo, nada.
- Vamos lá, não me deixa na mão – Girei, girei, girei, eles estavam chegando estavam chagando. Ouvi na televisão que quando você se deparar com um deles, acaba com ele. Na cabeça. 
- Anda logo com isso! Eles estão chegando!
- EU TO TENTANDO! – Girei a chave, o motor ligou. Pisei no acelerador, fechei a janela. Passamos por eles, atropelando todos. Atropelando o que? Pessoas? São pessoas? Não sei o que são. Ninguém diz nada.Tudo o que sei, é que querem me matar. Eles ou nós. Eu escolho eles. Virei a esquina, ouvi um grito – JASON! – Um deles agarrou o pescoço do meu irmão, puxando ele pra fora, agarrei a jaqueta bege de Jason e tentei puxá-lo, usei toda força que uma mão tinha, mas não foi o necessário. O bicho mordeu a nuca de Jason – NÃO! – Puxaram ele para fora me distrai olhando pelo retrovisor – JASON! – Perdi o controle do carro. Virei o volante pra esquerda com força, bati no poste. Alguns dos bichos ficaram ali amontoados em cima do corpo do meu irmão. A maioria veio até meu carro. Bati a cabeça com força no vidro dianteiro, minha nuca no volante. Meu nariz estava sangrando, minha visão estava turva. Balancei a cabeça. Tirei o sinto de segurança, a parte de trás do carro estava em chamas. Quando elas chegarem no tanque de gasolina, já era.
Abri o porta luvas, nada. Banco de trás? Nada. Com o que eu vou me proteger então? 
Me apoiei no banco, chutei a porta duas vezes, as dobradiças cederam e a porta quebrou. Me arrastei para fora do carro, tentei levantar porém minhas pernas estavam bambas. Grunhidos, olhei pra trás. Eles estavam chegando. Me agarrei com tanta força no retrovisor de um carro, que ele quebrou com meu peso. Segurei no teto, e me dei impulso a continuar andando. Olhei pra trás bem a tempo de ver o carro explodindo. Levando com ele todos os bichos e me lançando no ar. 
Meus ouvidos sangravam e zuniam. Eu mal podia sentir meus braços, me agarrei a um poste e olhei ao redor. 
- Jason – Sussurrei, meu irmão estava sem uma das pernas. Coloquei a cabeça dele no meu colo e passei a mão pelo cabelo. Lagrimas desciam pelo meu rosto, em quando o sangue fervilhava de ódio e subia pela minha garganta. Mas que merda, Bota fogo nessa porra, acaba com isso, bota fogo no mundo. Essa voz ficava soando na minha cabeça. Respirei fundo, tentei pensar direito. Olhei ao redor, tudo que tinha era lixo. Pedaços de corpos. Partes do carro despedaçada. Fogo crepitando. Voltei meu olhar para Jason, não precisava ser assim. Só não precisava. E é assim que o mundo acaba. A voz voltou. Jason abriu os olhos, mas não eram mais os dele. Eram cinza opacos, ao em vez de azuis. Sua pele estava pálida, ele estava frio. Os braços dele subiam da minha cintura para minha garganta me puxando para sua boca, de onde ele babava liquido preto, gosmento. – Não... – Dizia mais para mim mesma do que pra ele, as lágrimas continuavam a arder nos meus olhos. Os dedos mortos de Jason, começaram a pesar na minha garganta, não dava pra respirar. Eu cambaleei, e cai pra trás com ele em cima de mim, tentando me morder de qualquer maneira. Tateei o chão, peguei o vidro do carro “caso encontrem algum desses bichos pela rua, não hesite” Disse o repórter “apenas, ataque-o na cabeça” Segurei o caco de vidro, com tanta força que machucou minha mão fazendo pingar sangue no chão. Mas nada me machucava mais do que o que eu iria fazer agora. Enfiei o caco por trás da cabeça dele. Sangue preto, pingou na minha camiseta e rosto. Ele caiu em cima de mim, e eu o joguei para o lado. Respirei fundo, tossi, funguei. O que eu iria falar pra minha mãe agora? Que eu matei meu irmão? Que eu estava fumando ao invés de procurar trabalho? Que Jason estava matando aula comigo, e foi mordido por uma pessoa que não é mais uma pessoa?
Andei mancando em direção a minha casa. As ruas estavam desertas. A única pessoa que eu vi estava dentro de casa, e quando me viu a moça fechou as cortinas. Não paravam de aparecer, corpos atrás de corpos caídos no chão. Eu ainda estava com o caco de vidro na mão que ainda tremia. 
Vi uma viatura com o policial ainda dentro. Só que ele estava morto. Eu peguei o walkie-talkie dele.
- Alô? Alguém na escuta, câmbio? – Estática – Por favor, alguém pode me ouvir câmbio?
- Com quem eu falo? Cambio – Ouvi uma voz chiada, de um homem que eu não faço ideia de quem é. Mas estava me ajudando muito agora.
- Oi, aqui é a Sarah Birmigam, com que eu falo, câmbio?
- Olá Sarah, aqui é o oficial John, porque eu estou falando com você? Câmbio.
- John o que está acontecendo? O que são essas pessoas? – John respirou fundo, e falou comigo não como um policial, mas como um confidente. 
- Olha Sarah, não sabemos o que estava acontecendo. Pelo o que eu sei é um vírus desconhecido, que enlouquece as pessoas. Se você encontrar um infectado não deixe ele te morder – Nossa John, grande ajuda valeu – Ah Sarah, mais uma coisa – Ele começou a sussurrar – Eu já vi pessoas que não foram mordidas virarem – Eu parei de andar.
- O que?
- Pelo o que me disseram... Estamos todos infectados. Não importa como você morre. Se for por balas ou dentes, você vira. 
- Meu deus... Alguma dica?
- Claro, não se desespere. Estamos buscando a cura, vamos conseguir contornar a situação. Está tudo sobre controle – Uma coisa que com a vida eu aprendi é: Quando uma autoridade diz “está tudo sobre controle” ou “não se desespere” está é a hora perfeita para se desesperar.
- Tudo bem, obrigada John.
- Disponha – Estática. Joguei o walkie-talkie na rua. Balancei as mãos, nem quando eu fumava maconha, cheirava cocaína e tomava wisky um atrás do outro tremia tanto, ok eu já fiquei com medo do meu coração parar fazendo isso mas... Tanto faz. Cheguei na minha rua. Tava tudo detonado. Folhetos de pizzaria, caixas de papelão tudo espalhado pela rua. Minha casa estava aberta. A porta quebrada. Manchas de sangue nas janelas, marcas de mãos ensangüentadas nas paredes. Cadeiras, sofás revirados, quadros quebrados, e a pior parte. Minha mãe na escada. Com o sangue preto pingando pelo canto da boca. 
Meu coração bateu com violência contra meu peito. Minha mãe – ou o que um dia foi ela – desceu a escada mancando, com o que um dia foram olhos verdes como os meus, acolhedores, amorosos e felizes agora cinzas, opacos e mortos. Sua roupa de jardineira rasgada. Eu andei pra trás “Isso não pode estar acontecendo. Mãe, você ta viva ainda. Não... Não está. Você é um deles agora. Mãe...” Não queria que fosse eu a fazer isso, mas se não fosse eu... Quem seria?
Não dava, eu não ia conseguir. Ela investiu contra mim. Eu a empurrei. Ela cambaleou, depois voltou. Tudo que eu via quando olhava pra ela, era um monstro. Um monstro que prendia minha mãe, num corpo que não era o dela, e eu tinha que libertá-la. Ela investiu contra mim mais uma vez, e eu a risquei com o vidro pelo rosto todo, uma cortina de sangue caindo do machucado e se espalhando no chão. Como se o ferimento nunca tivesse existido ele veio mais uma vez contra mim, e eu segurei o vidro com as duas mãos e enfiei na cabeça dela. Ela caiu. 
Um outro saiu da cozinha. 
- Pai? – Sussurrei. A não, você também? Eu perdi tudo? Olhos azuis, familiares, felizes, orgulhosos, não existem mais. Agora só o cinza opaco – Não, não, NÃO! – Cortei a cabeça dele. Fez um barulho de esponja molhada quando a cabeça dele bateu no chão. O corpo caiu depois, barulho oco, opaco, cheiro rançoso de corpo podre em decomposição. Deixei o vidro cair, o sangue do meu irmão, da minha mãe e pai nas mãos e roupas. Sentei no chão frio, e fiquei um pouco no escuro apenas com o barulho de mim mesma fungando e chorando. Até que eu ouvi barulho vindo dos fundos da casa, levantei os bichos que atacaram meus pais ainda estavam aqui. Eu não tive tempo de registrar o que estava acontecendo. E tudo aconteceu muito rápido. Eu mal respirei e eles já estavam no chão. 
- Ei garota? Você ta bem? – Cinco homens entraram na minha casa e balearam todos eles. O loiro que parecia ter minha idade, uns 20 anos tinha olhos azuis penetrantes que me lembrava dolorosamente aos de Jason falou comigo. Eu não respondi – Foi mordida?
- Não – Minha voz saiu rouca – Quem é você?
- Meu nome é Ethan – Disse o Loiro, ele apontou para um rústico, com pelo menos 28 anos, cicatrizes pelo rosto, branco, barba mal feita, olhos pretos e cabelo da mesma cor – Ele é o Simas. Aquele – Ele apontou para um magrelo, de olhos pretos, cabeludo, uns 18 anos – Mason. Aquele – Um de cabelo loiro escuro, olhos verdes, pele clara – é o Link e por ultimo aquele – Ele apontou para o outro de olhos verdes, cabelos pretos, robusto – Nathan. E você?
- Sarah Birmigam. 
- Prazer Sarah – Ele estendeu a mão, eu a segurei ele me ajudou a levantar – Estes eram...
- Meus pais.
- Sinto muito.
- Eu também. Vocês sabem o que está acontecendo aqui?
- Sabemos tanto quanto você. Sei que tem algum vírus que deu epidemia, e faz as pessoas ficarem com o cérebro inchado, a dor de cabeça enlouquece, a pessoa morre. E volta. Mas volta diferente. Não é o mesmo. E isso provavelmente não tem cura.
- O que as autoridades disseram mesmo? – Perguntou o que seria Nathan.
- Que está tudo sobre controle – Respondi.
- Bom, então temos que nos descontrolar – Respondeu o Simas.
- Com toda certeza. Mas o que temos que fazer? – Pergunta Mason. Ta ai uma boa pergunta. “O que fazer?” E Ethan responde:
- Sobrevivemos – “E é assim que o mundo acaba”. A voz vem e volta na minha cabeça. Mas ela está certa.
É assim que o mundo acaba.