Eu me senti em movimento. Abri os olhos, pisquei algumas
vezes até minha visão voltar ao normal. Eu estava deitada no banco de trás de
um carro grande preto – talvez uma picape- Nathan estava passando alguma coisa
gelada no meu rosto, que ardia quando tocava as feridas, e elas estavam pelo
rosto todo.
- Como você se sente? – Perguntou Ethan.
- Dolorida – Respondi.
- Caraca, foi muito maneiro – Riu Simas – Você tava cercada
e a gente estava ficando aflito, e então você correu pra fora, e BUM a casa já
era. Foi muito legal. Eu me senti num filme.
- É – Disse Mason – Mas era real. Eu deveria ter ficado e
ajudado você.
- Não, você deveria ter feito o que fez – Respondi me
sentando – Uma só é melhor. Dois traria problemas. Um de nós poderia não ter
voltado.
- Ela tem razão – Respondeu Link. Passamos um tempo sem
falar nada. Nathan estava bastante quieto em quanto colocava ataduras nos meus
machucados, band-aid, passava remédio e etc. Eu me sentia meio tonta, mas me
recusei e desmaiar de novo. Link olhava pelo horizonte, nas ruas cheias de
lixo, alguns pontos de incêndios, lugares quebrados, lojas saqueadas com suas
coisas que não foram roubadas caídas no chão. Será que da pra dizer assim?
Roubadas? Agora o único objetivo era o de sobreviver. Não importa como. Não
existe leis. Você entra e pega o que der – O mundo mudou muito.
- Não – Disse Ethan – o mundo é o mesmo que foi a muitos
anos atrás. Os humanos que fizeram dele a merda que é. O mundo seria o melhor
lugar para se estar. Mas fizemos o favor de estragar isso também. A gente mudou
– Alguns quilômetros a frente, Ethan diminuiu a velocidade da picape.
- Porque estamos parando? – Perguntou Link.
- Vamos ficar dias na estrada. A comida que tinha na casa da
Sarah não vai ser o suficiente. Temos que pegar mais – Ele parou na frente de
um super mercado Walmart. Tinham alguns carros estacionados a nossa frente, que
estavam até criando poeira. O mercado estava escuro, tudo que eu conseguia ver
era as coisas mais para frente que o sol iluminava. Ethan olhou para o resto de
nós – Prontos? – Eles assentiram. A rua estava cheia de carros, as casas
paralelas a rua em que estávamos estavam quebradas, não sei se por humanos ou
errantes. Nathan desceu, e quando fiz menção de fazer o mesmo Ethan me parou –
Você não vai Sarah.
- O que? Por quê?
- Porque precisamos de alguém para tomar conta do carro, e
você não vai aguentar andar. Vai desmaiar com o sol; Fez um ótimo trabalho
hoje, não precisa de mais nada – Ele colocou o braço no capo do carro.
- Mas eu consigo...
- Eu sei. Mas não precisamos arriscar, não é? - O sol bateu
de lado em seu rosto. Por um momento alucinante ele pareceu muito com Nathan.
Ethan sorriu – Sim, Nathan é meu irmão.
- Ethan! – Sussurrou Mason com urgência. Ele chamou Ethan
com a mão, e ele levantou a mão como quem diz “estou indo”.
-Se precisar falar comigo, tem um walkie-talkie dentro do
porta luvas – E fechou a porta. Eu suspirei, controlando o impulso de gritar.
Uns cinco minutos se passaram e eu não aguentava mais ficar
parada, sem fazer nada. Comecei a ficar inquieta, e eu não tinha cigarro nenhum
para acalmar minha agitação. Procurei pelo carro e encontrei um chiclete dentro
do porta luvas. Sentei no banco do motorista, e coloquei as pernas no banco do
passageiro, e apenas senti o gosto da menta se espalhando pela minha língua.
Olhei a hora “16:30” e essa foi a ultima coisa que vi, antes do tédio tomar
conta de mim e eu dormir.
- Sarah! Me ajuda! –
Jason gritava fora do carro olhei para ele pelo retrovisor, mas tudo que eu
conseguia enxergar eram as cabeças mortas em movimento. Dane-se merda, é o meu
irmão!
Parei o carro de lado
cantando pneu, e desci. Peguei um taco de baiseboll do porta malas, e usei na
cabeça de um errante que vinha lenta e bobamente na minha direção.
- JASON! JASON CALMA
EU VOU TE AJUDAR CARA, EU VOU TE AJUDAR!
- SARAH! – Eu só via
um amontoado de zumbis em cima do corpo do meu irmão – SEUS IDOTAS
INSIGNIFICANTES, EU VOU MANDAR TODOS VOCÊS PRO INFERNO! – Bati com o taco na cabeça do outro errante, até ela se explodir e
espirrar sangue para todo lado. Comecei a empurrar os corpos de cima de Jason,
mas tinham tantos não conseguia ver o rosto do meu irmão. Só uma ultima vez. Só
queria ver o rosto dele uma ultima vez, antes de ele virar o inevitável. Um
errante agarrou minha garganta, me derrubou contra o asfalto. Ele me olhou com
aqueles olhos leitosos e cinza, babando um liquido gosmento preto pronto para
me atacar. Ele me mordeu.
Cortei assustada, pulando do banco com o cinto de segurança
enrolado no meu pescoço. Meu coração batia com violência contra o peito. Fiz
uma bolha de chiclete. Olhei a hora “16:50”... Cadê eles? Encostei a cabeça na janela de novo, e olhei
em direção ao mercado. Vi algumas luzes de lanternas e fiquei um pouco mais
tranquila até que...
Movimento no retrovisor. Sentei, olhei para o vidro traseiro.
Uma horda dos errantes vinha para cá. “eles não podem voltar. Não agora”
Pensei. Peguei o walkie-talkie.
- Alô? Você estão me ouvindo, câmbio? – Estática – Ethan,
Ethan por me responde cara – Estática – Mas que porra Ethan – Estática. Olhei
pra trás, estavam se aproximando. Fechei as janelas do carro. Fui para parte de
trás dele sentei no assoalho e torci para que eles não me vissem. Os primeiros
começaram a passar sem olhar para o carro
- Sarah... Sarah ta me
ouvindo? – A voz de Ethan me assustou.
- Ai graças a Deus, pensei que vocês...
- Eu sei... Você está
cercada – Engoli o bolo que se formava na minha garganta.
- Muito obrigada Sherlock.
-De nada Watson–
Sorri.
- Não acredito que você me faz dar risada no momento como
este.
- Fazer alguém sorrir num
dia normal é bom. Mas a sensação é bem melhor quando a situação é difícil –Suspirei,
tentando fazer minha respiração voltar ao normal, mas ela estava descontrolada.
- Ethan... O que eu faço? – Ele não respondeu. Estática. Um
errante ouviu. Virou o olhar para o carro, se aproximou e me viu. Colocou suas
mãos em cima do carro chacoalhando a picape. Outros se juntaram ao primeiro,
todos derramando sua gosma preta pela janela, grunhindo.
-Sarah...
-Oi? – Tentei parecer
calma, mas a verdade é que eu não sabia o que fazer.
- Sai daqui.
- O que?
- Vai embora.
-Mas e vocês?
- A gente da um jeito.
Vai embora – Não. Eu não vou deixar eles aqui. Me levantei e sentei no
banco do motorista.
-Não. Me esperem eu vou voltar.
-Não, Sarah vai
embora! Não tem como você...
- Não me
subestime. Eu já volto – Liguei o carro. E dirigi, atropelando qualquer um dos
errantes a minha frente. No final da rua, subi uma avenida. Liguei o rádio,
deixei a adrenalina subir a cabeça mais uma vez, me tornar inconsequente de
novo. Olhei pelo retrovisor – Olá pessoal – Peguei a única bolsa do carro, abri
a porta com ele ainda em movimento e rolei pra fora. O carro desgovernado andou
enlouquecido e bateu contra um poste. Corri até um beco. Esperei um pouco,
olhei pra trás os zumbis estavam entrando no carro. Eles são idiotas, mas não
burros. Uma hora ou outra eles vão notar que não tem ninguém dentro o carro e
voltar para o mercado. Corri pelo beco, procurando por um carro que tenha
gasolina. Não, não, não, não, sim. Achei um. Uma Honda Civic preta. Tem
gasolina só que não chaves. Ainda bem que eu era irmã do Jason. Meu irmão uma
vez foi preso por roubar um carro e dirigir com ele bêbado. Fiz ligação direta
na Honda, e dirigi com ela até o mercado.
- Ora, ora, ora bom trabalho... – Disse Mason.
- Carro bacana – Simas passou a mão na Honda com os olhos
brilhando, e o sorriso faiscando.
- Quem diria – Link entrou no carro.
- Eu não te subestimo – Ethan sorriu. Nathan andou até o meu
lado e me abraçou.
- Já perdemos dois até agora. Perder mais um não é opção.
Não faça mais essas besteiras – Ele me soltou – O.K? – Eu assenti. Ele sorriu,
e segurou no meu ombro me guiando para dentro do carro. Andamos por dois quilômetros
até que houvesse outro empecilho. E este estava vivo.
- ESPERA!
Nenhum comentário:
Postar um comentário