Eu tomei um susto. Virei a cabeça rápido, sem acreditar no doce
som da rouca e baixa voz entrando pelos meus ouvidos. Lentamente Brenda virou a
cabeça para mim.
- Justin?
- Oi, oi – Eu sorri, um sentimento quente de felicidade
passando pelo meu estomago.
- Eu conseguia te ouvir – Sua voz não passava de um breve
sussurro – Eu via o que estava acontecendo. Sinto muito por não poder ajudar no
ataque de ontem.
- Não sinta. Resolvemos tudo.
- Eu vi – Ela tossiu. Os aparelhos de infermagem bipando,
dava ao quarto um ar de hospital, ela respirou fundo – A... Eu também te amo –
Eu sorri ainda mais.
- Como você se sente?
- Mau – Ela engoliu com dificuldade – Não podemos ficar
aqui. Sabe disso.
- Sei, mas no momento não dá pra sair daqui também.
- Tem razão, mas se você quer continuar vivo precisa de
armas.
- É, eu tava pensando nisso.
- E o que pretende fazer?
- Não sei. Esperava que você fosse me ajudar.
- Bom... A cidade é o único lugar que eu saiba que tem armas
por aqui. Pergunte a Merly, se não tiver mais nenhum outro...
- O.K – Silencio.
- Sabe... Não é culpa sua – Acho que já está mais do que na
hora de falarmos sobre isso. Eu e ela não conversamos sobre o acidente ainda.
- Não tenho tanta certeza.
- Você é humano Justin. Erra. Falha. Sente medo. Perde e
recupera a esperança, não tem como mudar isso. É a vida. Ele se foi, mas se foi
do inferno. Indo pro paraíso. Ele está bem melhor agora. Acredite.
- Acredito nisso. Mas não consigo me conformar com o fato de
eu não ter feito nada.
- Não se culpe. Isso não foi culpa sua. Se ele tivesse
escutado... Ficado quieto. Mas agora já foi. Passou. O jeito é se conformar com
a realidade porque ela não vai mudar – Ela tem razão. Gosto de conversar com
Brenda, porque as coisas podem estar indo de mau a pior, ela sempre mantém o pé
no chão, a cabeça fria, e acaba me deixando do mesmo jeito. Assenti.
- Ele faz falta.
- Faz. Claro que faz. Mas... Ele sempre vai estar aqui –
Lentamente ela bateu de leve com a mão no meu tórax – onde está o coração –
segurei sua mão fraca e fria, e beijei-a de leve. Ela estremeceu.
- Você acha que vai ficar bem?
- Acho que sim – Ela tossiu de novo.
- É bom ouvir sua voz de novo.
- Também acho – Ela deu um meio sorriso, tossiu de novo, seu
rosto ficou meio mole e depois ela voltou a dormir. Olhei seus batimentos cardíacos
na tela do computador, normais. Fiquei com medo dela dormir e não acordar mais.
Mas ela vai, sei que vai.
Não consegui dormir mais, fiquei pensando no que fazer. O
dia rapidamente clareou. E eu levantei.
- Ela acordou – Disse enquanto descia as escadas.
- Quem? – Perguntou Matt – Brenda? Ela ta acordada? O que
disse? Perguntou da gente? Ela ta bem? Vou lá falar com ela.
- Não – Coloquei a mão no tórax dele. Matt me olhou – Ela voltou
a dormir já – Ela pareceu decepcionado. Desceu os quatro degraus que tinha
subido – Acho que ela vai ficar bem.
- Você me parece bem melhor Justin – Disse Sarah – Mais relaxado.
Mais feliz, não sei.
- Obrigado – Disse sorrindo – Mas temos um problema.
- E quando não temos? – Disse DJ.
- Boa pergunta – Completou Tyler.
- Qual problema? – Perguntou Taylor.
- Armas. Não temos. Vamos ter que ir na cidade – Respondi.
- Quando saímos? – Perguntou DJ.
- O mais rápido possível. Se arrumem e vamos.
- O.K – Disse Laura – Só vou pegar...
- Não. Vocês ficam.
- O que?!
- Não podem deixar a casa completamente sozinha.
- A casa ou ela? – Laura apontou pra cima.
- Os dois. Você, Sarah, Lola, Merly e Taylor ficam – Taylor me
olhou indignado, depois com raiva – aquele olhar de raiva que um filho da a um
pai que não o deixa sair com os amigos – e por fim revirou os olhos, e subiu as
escadas. Sarah foi atrás dele.
- Tem certeza? – Perguntou Merly- Não é melhor que eu vá
junto? – Merly é o mais velho do grupo e mesmo assim deixa nós – meras crianças
– tomarmos conta de sua família.
- Não, - Sussurrei, puxei o braço dele e o levei para o
canto da sala – Preciso que fique e tome conta de Brenda – Ele sorriu. Balançou
a cabeça com um olhar de “ai, ai essas crianças apaixonadas” e assentiu –
Prontos? – Matt estava na cozinha com Laura, e morena parecia estar com medo de
deixá-lo ir. E Matt parecia estar gostando da atenção dela. “Fala sério Matt...”
Pensei sorrindo. Matt olhou pros lado, puxou ela para dentro – De todo modo eu
vi eles beijando – E depois abraçou ela, beijou sua mão e veio até mim tentando
parecer normal, mas mau contendo o sorriso. Balancei a cabeça – Merly, onde
você acha que podemos encontrar armas?
- No centro da cidade, tem 3 lojas lá com o mesmo nome... “Gunland”
... Armamento pesado. Mas está trancado, por isso ninguém entrou. E ninguém
saiu. Cuidado.
- Pode deixar – Respondeu DJ – Vamos?
- Cuidado irmão – Ouvi Taylor falar. Tyler acenou.
O dia estava frio, a única fonte de calor eram os finos
raios de sol que tocavam a pele. Encontramos alguns mordedores vagando pela
cidade, mas o problema mesmo foi quando chegamos no centro. A loja foi trancada
com chave, e cadiados nas maçanetas. Tyler andou de um lado pro outro olhando
no chão. E pegou um pinça de ferro.
- Com licença – Ele se agachou na frente da loja, cinco
minutos depois ele tinha aberto o cadiado – Eu não era uma pessoa muito direita
não.
- Já foi preso? – Perguntei de repente.
-Não, mas Taylor já. Duas vezes. E as duas foi porque ele
entrou na casa do diretor da minha escola.
- E pra que ele fez isso?
- Pra pegar a prova que ele tirou F, e apagar a detenção que
ele tinha marcada no computador dele. Aprendi o que sei com ele. – Ergui as
sobrancelhas, e não disse nada. Nos posicionamos atrás nas paredes. Contei até
três com os dedos e entramos.
Cinto errantes.
Um movimento com o machado, menos um zumbi.
Tinham armas, cartuchos de balas, cinto para balas,
metralhadores, uma Ruger, tinham tantas que perdi a conta. Colocamos tudo
dentro de duas bolsas. Fomos para outra loja, nos separamos. DJ e Tyler numa.
Eu e Matt na outra. Sete errantes na loja, Matt enfiou a faca na cabeça de um,
eu recuei tomei fôlego.
- Matt abaixa – Girei o machado na mão, e joguei. Decapitou
3 mordedores, e depois se prendeu numa pilastra de concreto.
- Muito maneiro – Matt deu risada. Tirei o machado da
pilastra, girei decapitei um zumbi – Você tem que me ensinar a fazer isso.
- Qualquer dia desses... – Matt matou o ultimo – Quem sabe,
enchemos a bolsa. Saímos.
Um tiro.
Eu e Matt nos entreolhamos. Corremos.
- O que foi?! Cadê o DJ?
- Ele foi mordido. Se matou. – Tyler estava tremendo.
Pálido. Pegou a arma que estava na mão morta de DJ e guardou. Ouvi grunhidos.
Os errantes de outros lugares vinham ao nosso encontro. Não tem tempo, para
cuidar de Dj.
- Vamos – Corremos. Nos escondemos atrás de uma casa.
Mordedores lá. Matt virou a faca, e
afundou no crânio do errante, com tanta força que fincou na parede. Corremos,
não podemos ir pra lá. Não podemos voltar para a casa, eles vão nos seguir.
Um vinha da direção da casa. Ele andava estranho. Não andava
como um zumbi, parecia mais uma pessoa com a perna fraturada. Não espera. Era uma pessoa com a perna fraturada.
Tiro.
Tyler atirou nele. Mas errou o alvo, acertou no ombro.
Corremos até ele. Era Taylor.
- Meu deus. Meu Deus, desculpa cara. Desculpa mesmo – Se desesperou
Tyler, Matt e eu ajudamos Taylor a se levantar.
- Tudo bem – Disse Taylor com a mão no ombro sangrando – Mas
da próxima vez que atirar em mim, torça para que eu tenha morrido.
- Porque você está aqui? –Perguntou Matt.
- O buraco da casa cedeu. Mais errantes entraram. Fomos
atacados. Eu cai da escada, torci o tornozelo. Me mandaram trazer vocês;
- E você deixou eles sozinhos???? – E com “eles” eu quis
dizer “Brenda”
- Foi necessário, Justin – Corremos na direção da casa, com
os mordedores atrás de nós. Eu vi uma fumaça preta vindo do horizonte mas nem
me preocupei. Só queria saber como eles estavam; Espero que ninguém mais tenha
morrido. DJ morreu, e como vou contar isso para Merly e Sarah?
Taylor caiu, estremecendo. Com o braço pingando sangue, que
descia do ferimento passava para a mão, para a ponta dos dedos e pingando no
chão, fazendo assim os errantes virem mais rápido a nossa direção. Respirei fundo. Não podia ficar bravo com
Taylor por sentir dor.
- Respira Taylor, respira fundo. Precisamos continuar. Vamos
cuidar de você quando as coisas acalmarem.
- Eu sei. Eu sei.
- Ele está perdendo muito sangue, Justin – Disse Tyler.
- Eu sei e é por isso que temos que continuar, vamos! – Matt
ficou por trás, matando os zumbis perto de mais. Mas paramos. E olhamos
boquiabertos para a fonte da fumaça preta.
A casa... Estava em chamas.
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