terça-feira, 16 de abril de 2013

Capitulo 1 - E é assim que o mundo acaba.


- Ascende aqui – Jason ligou o isqueiro e ascendeu meu cigarro, soprei a fumaça que encheu o carro com o cheiro dela, abri a janela – Você não deveria estar na faculdade agora não?
- Deveria – Jason abriu a janela dele também, deu de ombros com sua cara de despreocupado – Mas eu tenho um programa melhor...
- Aé? O que?
- Ficar com a minha amada maninha – Diz ele sorrindo.
- Não mente garoto.
- É só que... hoje eu não tava afim.
- Pelo menos você trabalha, a mamãe me mandou procurar emprego hoje. Mas você sabe, ela quer que eu trabalhe no mesmo que você, mas o que ela não entende é que eu não quero.
- É... Não é para qualquer um trabalhar no posto de gasolina a um metro da casa da mãe – Eu ri. Eu amo meu irmão, Jason é o melhor cara que eu já tive o prazer de conhecer. Ele faz faculdade de direito, quer ser advogado. Mas falta na metade das aulas, e não é muito de ir com a lei. Minha mãe gosta que Jason trabalhe no posto de gasolina, exatamente por ser perto da casa dela, e assim ela pode envergonhá-lo levando almoço no trabalho dele e dizendo “a então esses são os amigos do meu menininho? A que lindo, venham ver uma foto dele bebe na banheira” E é este exato motivo que eu não quero trabalhar ali – Ta afim? 
- Hoje não – Ele abaixou o saco de cocaína – Eu tenho que estar sóbria se quiser achar um trampo.
- Mas você não quer.
- Disso você tem razão – Bati o cigarro no parapeito da janela do carro, deixando as cinzas caírem no chão.
- Você pensa que é um saco a mamãe falar para você ter um emprego? Espera pra ver quando você conseguir um. Ela não vai te deixar em paz – Eu ri. E bati no braço dele. Jason se contraiu.
- O que você fez? – Perguntei. Ele não respondeu, olhou janela a fora – Jason? 
- Nada – Apalpei seu braço, e apertei a jaqueta, ele fez uma careta de dor e se contraiu mais uma vez – A não, você não fez isso.
- É pequena.
- Jason, a mamãe vai te matar!
- Não conta pra ela.
- Não conto. Me mostra – Ele olhou em volta, na rua deserta e tirou a jaqueta. Uma tatuagem de um fênix que começava no ombro e terminava na terceira costela. Era vermelha, com contornos pretos. – Incrível. 
- Valeu – Ele vestiu a jaqueta de novo. Peguei o cigarro com o dedo indicador e o dedão, e joguei no chão. Estávamos parados no acostamento, do lado do Jason a calçada, na calçada um jardim que rodeava a casa ao lado. Do meu lado, mais casas. O sol estava bem no auge no momento. A brisa suave passava meu rosto – Sarah? Você ta ai?
- O que? Foi mau.
- Tudo bem. Você ouviu sobre esse vírus? Uma loucura não é?
- É, eu vi no noticiário. Eles pareciam zumbis.
- Pareciam mesmo – Ele estreitou os olhos, e olhou mais além – Ai merda – Olhei para onde ele estava olhando, não sei... Talvez trinta? Eu diria que sim. Trinta daquelas coisas que eu penso serem zumbis, vindo na nossa direção. Eu apenas entrei em pânico.
- O que... O que a gente faz?
- Vamos embora – Eu assenti. Girei a chave, nada. Girei de novo, nada.
- Vamos lá, não me deixa na mão – Girei, girei, girei, eles estavam chegando estavam chagando. Ouvi na televisão que quando você se deparar com um deles, acaba com ele. Na cabeça. 
- Anda logo com isso! Eles estão chegando!
- EU TO TENTANDO! – Girei a chave, o motor ligou. Pisei no acelerador, fechei a janela. Passamos por eles, atropelando todos. Atropelando o que? Pessoas? São pessoas? Não sei o que são. Ninguém diz nada.Tudo o que sei, é que querem me matar. Eles ou nós. Eu escolho eles. Virei a esquina, ouvi um grito – JASON! – Um deles agarrou o pescoço do meu irmão, puxando ele pra fora, agarrei a jaqueta bege de Jason e tentei puxá-lo, usei toda força que uma mão tinha, mas não foi o necessário. O bicho mordeu a nuca de Jason – NÃO! – Puxaram ele para fora me distrai olhando pelo retrovisor – JASON! – Perdi o controle do carro. Virei o volante pra esquerda com força, bati no poste. Alguns dos bichos ficaram ali amontoados em cima do corpo do meu irmão. A maioria veio até meu carro. Bati a cabeça com força no vidro dianteiro, minha nuca no volante. Meu nariz estava sangrando, minha visão estava turva. Balancei a cabeça. Tirei o sinto de segurança, a parte de trás do carro estava em chamas. Quando elas chegarem no tanque de gasolina, já era.
Abri o porta luvas, nada. Banco de trás? Nada. Com o que eu vou me proteger então? 
Me apoiei no banco, chutei a porta duas vezes, as dobradiças cederam e a porta quebrou. Me arrastei para fora do carro, tentei levantar porém minhas pernas estavam bambas. Grunhidos, olhei pra trás. Eles estavam chegando. Me agarrei com tanta força no retrovisor de um carro, que ele quebrou com meu peso. Segurei no teto, e me dei impulso a continuar andando. Olhei pra trás bem a tempo de ver o carro explodindo. Levando com ele todos os bichos e me lançando no ar. 
Meus ouvidos sangravam e zuniam. Eu mal podia sentir meus braços, me agarrei a um poste e olhei ao redor. 
- Jason – Sussurrei, meu irmão estava sem uma das pernas. Coloquei a cabeça dele no meu colo e passei a mão pelo cabelo. Lagrimas desciam pelo meu rosto, em quando o sangue fervilhava de ódio e subia pela minha garganta. Mas que merda, Bota fogo nessa porra, acaba com isso, bota fogo no mundo. Essa voz ficava soando na minha cabeça. Respirei fundo, tentei pensar direito. Olhei ao redor, tudo que tinha era lixo. Pedaços de corpos. Partes do carro despedaçada. Fogo crepitando. Voltei meu olhar para Jason, não precisava ser assim. Só não precisava. E é assim que o mundo acaba. A voz voltou. Jason abriu os olhos, mas não eram mais os dele. Eram cinza opacos, ao em vez de azuis. Sua pele estava pálida, ele estava frio. Os braços dele subiam da minha cintura para minha garganta me puxando para sua boca, de onde ele babava liquido preto, gosmento. – Não... – Dizia mais para mim mesma do que pra ele, as lágrimas continuavam a arder nos meus olhos. Os dedos mortos de Jason, começaram a pesar na minha garganta, não dava pra respirar. Eu cambaleei, e cai pra trás com ele em cima de mim, tentando me morder de qualquer maneira. Tateei o chão, peguei o vidro do carro “caso encontrem algum desses bichos pela rua, não hesite” Disse o repórter “apenas, ataque-o na cabeça” Segurei o caco de vidro, com tanta força que machucou minha mão fazendo pingar sangue no chão. Mas nada me machucava mais do que o que eu iria fazer agora. Enfiei o caco por trás da cabeça dele. Sangue preto, pingou na minha camiseta e rosto. Ele caiu em cima de mim, e eu o joguei para o lado. Respirei fundo, tossi, funguei. O que eu iria falar pra minha mãe agora? Que eu matei meu irmão? Que eu estava fumando ao invés de procurar trabalho? Que Jason estava matando aula comigo, e foi mordido por uma pessoa que não é mais uma pessoa?
Andei mancando em direção a minha casa. As ruas estavam desertas. A única pessoa que eu vi estava dentro de casa, e quando me viu a moça fechou as cortinas. Não paravam de aparecer, corpos atrás de corpos caídos no chão. Eu ainda estava com o caco de vidro na mão que ainda tremia. 
Vi uma viatura com o policial ainda dentro. Só que ele estava morto. Eu peguei o walkie-talkie dele.
- Alô? Alguém na escuta, câmbio? – Estática – Por favor, alguém pode me ouvir câmbio?
- Com quem eu falo? Cambio – Ouvi uma voz chiada, de um homem que eu não faço ideia de quem é. Mas estava me ajudando muito agora.
- Oi, aqui é a Sarah Birmigam, com que eu falo, câmbio?
- Olá Sarah, aqui é o oficial John, porque eu estou falando com você? Câmbio.
- John o que está acontecendo? O que são essas pessoas? – John respirou fundo, e falou comigo não como um policial, mas como um confidente. 
- Olha Sarah, não sabemos o que estava acontecendo. Pelo o que eu sei é um vírus desconhecido, que enlouquece as pessoas. Se você encontrar um infectado não deixe ele te morder – Nossa John, grande ajuda valeu – Ah Sarah, mais uma coisa – Ele começou a sussurrar – Eu já vi pessoas que não foram mordidas virarem – Eu parei de andar.
- O que?
- Pelo o que me disseram... Estamos todos infectados. Não importa como você morre. Se for por balas ou dentes, você vira. 
- Meu deus... Alguma dica?
- Claro, não se desespere. Estamos buscando a cura, vamos conseguir contornar a situação. Está tudo sobre controle – Uma coisa que com a vida eu aprendi é: Quando uma autoridade diz “está tudo sobre controle” ou “não se desespere” está é a hora perfeita para se desesperar.
- Tudo bem, obrigada John.
- Disponha – Estática. Joguei o walkie-talkie na rua. Balancei as mãos, nem quando eu fumava maconha, cheirava cocaína e tomava wisky um atrás do outro tremia tanto, ok eu já fiquei com medo do meu coração parar fazendo isso mas... Tanto faz. Cheguei na minha rua. Tava tudo detonado. Folhetos de pizzaria, caixas de papelão tudo espalhado pela rua. Minha casa estava aberta. A porta quebrada. Manchas de sangue nas janelas, marcas de mãos ensangüentadas nas paredes. Cadeiras, sofás revirados, quadros quebrados, e a pior parte. Minha mãe na escada. Com o sangue preto pingando pelo canto da boca. 
Meu coração bateu com violência contra meu peito. Minha mãe – ou o que um dia foi ela – desceu a escada mancando, com o que um dia foram olhos verdes como os meus, acolhedores, amorosos e felizes agora cinzas, opacos e mortos. Sua roupa de jardineira rasgada. Eu andei pra trás “Isso não pode estar acontecendo. Mãe, você ta viva ainda. Não... Não está. Você é um deles agora. Mãe...” Não queria que fosse eu a fazer isso, mas se não fosse eu... Quem seria?
Não dava, eu não ia conseguir. Ela investiu contra mim. Eu a empurrei. Ela cambaleou, depois voltou. Tudo que eu via quando olhava pra ela, era um monstro. Um monstro que prendia minha mãe, num corpo que não era o dela, e eu tinha que libertá-la. Ela investiu contra mim mais uma vez, e eu a risquei com o vidro pelo rosto todo, uma cortina de sangue caindo do machucado e se espalhando no chão. Como se o ferimento nunca tivesse existido ele veio mais uma vez contra mim, e eu segurei o vidro com as duas mãos e enfiei na cabeça dela. Ela caiu. 
Um outro saiu da cozinha. 
- Pai? – Sussurrei. A não, você também? Eu perdi tudo? Olhos azuis, familiares, felizes, orgulhosos, não existem mais. Agora só o cinza opaco – Não, não, NÃO! – Cortei a cabeça dele. Fez um barulho de esponja molhada quando a cabeça dele bateu no chão. O corpo caiu depois, barulho oco, opaco, cheiro rançoso de corpo podre em decomposição. Deixei o vidro cair, o sangue do meu irmão, da minha mãe e pai nas mãos e roupas. Sentei no chão frio, e fiquei um pouco no escuro apenas com o barulho de mim mesma fungando e chorando. Até que eu ouvi barulho vindo dos fundos da casa, levantei os bichos que atacaram meus pais ainda estavam aqui. Eu não tive tempo de registrar o que estava acontecendo. E tudo aconteceu muito rápido. Eu mal respirei e eles já estavam no chão. 
- Ei garota? Você ta bem? – Cinco homens entraram na minha casa e balearam todos eles. O loiro que parecia ter minha idade, uns 20 anos tinha olhos azuis penetrantes que me lembrava dolorosamente aos de Jason falou comigo. Eu não respondi – Foi mordida?
- Não – Minha voz saiu rouca – Quem é você?
- Meu nome é Ethan – Disse o Loiro, ele apontou para um rústico, com pelo menos 28 anos, cicatrizes pelo rosto, branco, barba mal feita, olhos pretos e cabelo da mesma cor – Ele é o Simas. Aquele – Ele apontou para um magrelo, de olhos pretos, cabeludo, uns 18 anos – Mason. Aquele – Um de cabelo loiro escuro, olhos verdes, pele clara – é o Link e por ultimo aquele – Ele apontou para o outro de olhos verdes, cabelos pretos, robusto – Nathan. E você?
- Sarah Birmigam. 
- Prazer Sarah – Ele estendeu a mão, eu a segurei ele me ajudou a levantar – Estes eram...
- Meus pais.
- Sinto muito.
- Eu também. Vocês sabem o que está acontecendo aqui?
- Sabemos tanto quanto você. Sei que tem algum vírus que deu epidemia, e faz as pessoas ficarem com o cérebro inchado, a dor de cabeça enlouquece, a pessoa morre. E volta. Mas volta diferente. Não é o mesmo. E isso provavelmente não tem cura.
- O que as autoridades disseram mesmo? – Perguntou o que seria Nathan.
- Que está tudo sobre controle – Respondi.
- Bom, então temos que nos descontrolar – Respondeu o Simas.
- Com toda certeza. Mas o que temos que fazer? – Pergunta Mason. Ta ai uma boa pergunta. “O que fazer?” E Ethan responde:
- Sobrevivemos – “E é assim que o mundo acaba”. A voz vem e volta na minha cabeça. Mas ela está certa.
É assim que o mundo acaba.

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