Era de madrugada, estavam todos dormindo enquanto eu dirigia,
começou a nevar. Flocos pequenos e suaves de neve. Provavelmente já é dezembro.
Quinze minutos depois, a neve ficou mais constante, mais intensa, questão de
minutos e estava tudo coberto de neve. A rua, os corpos caídos na rua, os
carros abandonados, as árvores, casas, prédios, tudo.
500 quilômetros se passaram, e começamos a entrar em “floresta”,
mata meio fechada. Uma placa escrita “Você acaba de sair de Nevada. Volte
sempre”, passaram-se vinte minutos e a gasolina acabou. Já tava demorando, pensei. Estamos a tanto tempo rodando, que eu
fiquei pesando quando a gasolina iria acabar. Nos nossos dois lados tinham árvores,
e a estrada começava a fechar.
-Ei, acordem.
- O que aconteceu? –Perguntou Link.
- Acabou a gasolina.
- Então vamos pegar outro... Puta merda que frio é esse? –
Perguntou ele.
- Ta nevando. Saiam do carro – Disse. Saímos. Peguei tudo
nosso, dei duas jaquetas a Dylan, e luvas. Coloquei gorro, e mais duas
jaquetas.
- O que vamos fazer? – Perguntou Mike. Meu primeiro
pensamento era começar a andar, pegar um carro e cair fora. Mas eles pareciam
tão cansados, exaustos na verdade. Não estava sendo fácil esses dias, pra
nenhum de nós, acho que merecemos uma trégua.
- Vamos entrar na mata e ficar lá por hoje, amanha andamos
pra tentar achar um carro. Tudo bem? – Disse. Ele assentiram. Começamos a andar
floresta a dentro, tudo estava complemente branco. Eu tinha que tomar cuidado
pra não escorregar, o que era difícil. Andamos por dez minutos, em silencio.
Para não chamar atenção indesejada, até que – ta bom aqui – Dylan suspirou e
sentou no chão, se encostou na arvore e ficou – Mike, da uma ajuda aqui? – Ele
veio até mim.
- O que quer que eu faça, chefe? – Eu ri.
- Só quero que você pegue alguns galhos e deixe aqui. Não
muitos, para não levantar fumaça.
- Tudo bem – Ele se afastou.
- Não vá longe – Ele fez positivo com o dedão. Olhei pra
trás e fui até um tronco. Fui empurrando ele, até a dor na costela ser demais
para eu ter que parar e tomar um fôlego. Austin se aproximou e empurrou o resto
do caminho – Obrigada.
- Por nada – Eu sentei no tronco, Mike chegou com alguns
galhos, peguei duas pedras e como no tempo das cavernas esfreguei uma na outra
até fazer fogo. Amora sentou perto da fogueira e deitou no chão com a cabeça na
mochila. Link tava com luvas, gorro, jaqueta, deitou com a cabeça no tronco e
voltou a dormir. Phil disse:
- Só falta mashmallow, e história de terror.
- Para que histórias quando temos a realidade? – Perguntei,
ele sorriu.
- Foi mau, pelo que disse mais cedo.
- Não esquenta com isso – Respondi. Passou cinco minutos e
ele tinha deitado sobe uma jaqueta e dormido. Austin estava cansado também,
dentou na grama no meu lado, com a cabeça no tronco em que eu sentava. Mike
sentou no tronco ao meu lado.
- Gosto dele – Disse Mike, sobre Austin – é um cara legal,
cheio de atitude, ajuda muito, apesar de me odiar e eu nem sei o motivo.
-Deve ser porque você é bonito e ele se sente ameaçado –
Respondi.
- Obrigado pela parte do bonito, mas ameaçado porque? – Não respondi,
só peguei um graveto e mexi no fogo – a entendi, ele gosta de você. E pensa que
eu gosto de você também – Olho pra ele – não, eu gosto de você. Mas, não desse
jeito.
- Eu entendi – Eu ri – e eu pensei que homens não entendiam
nada.
- Homens entendem homens, e isso é o suficiente – Disse ele.
Olhei para Austin – mas sei o suficiente de garotas para saber quando uma está
apaixonada – Olhei para Mike – eu sei, é estranho pensar assim, mas...
- Não. Não vou, e não posso me apaixonar por uma pessoa no
meio de toda essa tragédia de mundo.
- Na minha humilde opinião, nessa tragédia de mundo é a
melhor hora para se apaixonar. Ver a luz, no meio de desgraça. Achar amor na
guerra. Guerra não pode ser combatida com guerra só o amor pode fazer isso – Os
olhos de Mike cintilavam a luz da fogueira – eu vou me aliviar – Ele se levanto
eu foi atrás da arvore. Eu não consegui agüentar e tive que rir, ele do nada sendo
todo Shakespeare e de repente volta ao bom e velho Michael. Voltei o meu olhar
para Austin, que estava dormindo com meu lado. Eu passei a mão cuidadosamente
em seu rosto para tirar a neve, depois do cabelo. E depois só fiquei observando
seu rosto, pensando com o que ele estava sonhando, e se estava sonhando, e com
quem. Ele parecia tão tranqüilo e sereno. Era bom o observar dormir. Porque eu
não to conseguindo. Tirei um cigarro da mochila e ascendi na fogueira, traguei
uma vez e soprei. Tava tudo bem quieto.
Respirei fundo,
deixei o ar congelante entrar no meu pulmão e sair sereno. Faz tempo que eu não
ouvia o silencio, e só agora percebi como sentia falta do silencio. Clack. Olhei pra trás. Alguém\alguma
coisa quebrou um graveto. Joguei neve em cima do cigarro. Outro clack.
- Mike? –
Sussurrei. Mike apareceu e sentou no meu quarto, e ficou quieto. Muito quieto.
-Eu vi zumbis aqui – sussurrou ele.
- Fica parado – Respondi. Vinham barulhos de trás e da
esquerda. Fechei meus olhos, fazendo com que meu cérebro absorvesse cada
barulho por toda floresta. Abri os olhos – Uns 10 – Ficamos quietos por momento,
pensando que talvez, só talvez, os zumbis achassem que estávamos mortos, ou
coisa do tipo. Mas quando um saiu das sombras, já era tarde.
- Acordem! – Exclamou Mike. Austin acordou assustado, quando
Link acordou levantou e escorregou. Joguei neve na fogueira e comecei a correr,
correr floresta a dentro. Os zumbis mais lentos por causa da neve tanto quanto
nós. Olhei pra trás, Dylan, Amora Link. Do outro, Austin, Mike, Phil, olhei pra
frente, zumbi. Brequei com o pé, peguei a faca. Escorreguei, mas não cai.
Enfiei a faca na cabeça dele, que ficou presa na arvore. Não deu tempo de
tirar. Droga, minha faca favorita.
Continuei correr, a vida é isso não? Corrida. Uma corrida
pela vitoria, não importa o quão difícil seja a vida uma hora ela sempre da um
jeito de te ferrar. Mas se você souber exatamente como cuidar da sua vida, uma hora,
no final, você consegue alcançar a linha de chegada.
Tropecei num tronco,
cai de barriga no chão. Soltei um grito insuportável.
- DALLAS – Ouvi Austin berrando. Não conseguia me mexer,
olhei pra baixo, a neve estava vermelha. Eu comecei a sangrar, o ponto se
rompeu, eu comecei a sangrar – GRITA! EU PRECISO TE ACHAR! – Eu não conseguia
gritar, estava perdendo o foco das coisas – NÃO FAZ ISSO COMIGO! POR FAVOR – A voz
de Austin estava perto, mas eu não conseguia falar nada, nem me mexer. O frio
invadia meu corpo, e eu passei a perder mais sangue – DALLAS POR FAVOR! –
Desmaiei.
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