sexta-feira, 19 de julho de 2013

Capitulo 6 – Dude, I’m locked.

Eu e Austin corremos de volta para o carro, Dylan tinha conseguido um porche vermelho.
- Cadê o Dick? – Essa foi a primeira pergunta que a Amora fez quando voltamos. Seus cabelos ruivos caiam nos ombros, fazendo ela parecer fofa na maior parte do tempo. Mas agora parecia mais preocupada e nervosa do que fofa. Eu abri a boca pra falar, mas Austin começou antes de mim.
- Ele caiu.
- O que?
- Nós fomos de um prédio para outro fazendo uma passarela de madeira – Respondi, Austin olhou pra mim e depois abaixou a cabeça. Acho que não deveria ter falado nada – a madeira cedeu e ele caiu – Amora ficou vermelha.
- De quem foi essa ideia?
- Minha – Sussurrei me sentindo pequena e insensata.
- E você não pensou que Dick era grande demais pra madeira? Esse foi o pior ideia do mundo – Eu abaixei a cabeça – Pra que explodir o prédio?
- Pra impedir que os zumbis viessem atrás de nós – Respondeu Austin.
- Aé? Deixasse eles presos dentro do prédio!
- Pega leve Amora – Disse Austin.
- Pegar leve? – Eu dei as costas pra ela, e passei a mão no cabelo – Por culpa dela o Dick ta morto! Não temos mais família Austin! Como você fez o prédio explodir?
- Combustão espontânea – Sussurrei.
- Combustão espontânea? 
- É, olha... – Virei pra ela de novo – Sinto muito Amora, mas abaixa o tom e temos que sair daqui porque...
- Não me interessa!  Cansei de você dar ordens! Cansei de seguir ordens! Cansei dessa porra! Não vou deixar nossas vidas na suas mãos mais! Você não consegue nem cuidar do seu irmão vai cuidar do meu pai? – Olhei pra ela.
- Amora – Austin sabia que agora ela pegou pesado.
- Chega – Continuou Amora - Eu...
- CHEGA DIGO EU! – Respondi – Cansou? Não estou te segurando aqui, pode ir. Eu disse pra ele despejar o óleo a trinta centímetros na madeira, ele despejou a dez, os zumbis tiveram mais força do que eu imaginei a porta cedeu mais cedo. A madeira explodiu, eu segurei ele e ele caiu. Eu tentei, eu juro que eu tentei. E eu não iria soltar ele. Mas ele se soltou.
- Como é? – Perguntou Lola.
- Ele disse “você vai soltar, de um jeito ou de outro” ele foi soltando a mão e caiu.
- E porque ele desistiria? – Perguntou Amora, mais calma.
- Não sei. Acho que estava cansado de se esconder, fugir. Queria que tudo acabasse?
- Pode ser – Disse Lola.
-Mas quer saber? Não importa o que eu fale não vou convencer nem vocês nem a mim de que não foi minha culpa – Ouve uma pausa, e então Dylan disse.
- Dallas, o que aconteceu com Bryan? – Olhei pra ele – Já tem dois dias... Eu tenho o direito de saber o que aconteceu com meu irmão... – Eu me encostei no carro. Respirei fundo, e olhei pra frente. Além dos olhares curiosos de todos, mas além. Dentro da minha própria cabeça, num mundo só meu. Onde ninguém pode entrar. A não ser dor. Contei a ele o que tinha acontecido, e no final Dylan parecia ter perdido o fôlego. Não conseguia falar nada, ele se segurava para prender as lágrimas mas no final não conseguiu. Amora foi a primeira a falar:
- Sinto muito pelo seu irmão.
- Eu também – Respondi.
- Sabe, tudo piora muito antes de melhorar – Disse Austin – Vamos ficar bem.
- Você me perguntou: Se eu não tomo conta do meu irmão, como tomarei do seu pai? Eu faço essa pergunta todo dia.

O tempo foi passando e eu troquei com Lola de motorista, por ela estava com dor na perna e mancando depois de proteger Dylan pra pegar o carro, passando a noite dirigindo.
- To com fome – Comentou Dylan. Olhei ao redor, e parei o carro. Eu ia acordar o Austin pra me ajudar, mas chega disso. Não vou deixar que mais ninguém saia em “missão” comigo, e morra no processo.
- Fica aqui, e toma conta do carro. Ta? – Dylan assentiu. Peguei o machado,a faca e sai do carro. A lanterna estava na minha cintura, peguei e liguei. Entrei numa loja pequena de beira de estrada. Tem errantes aqui, eu sinto. O cheiro, o movimento próximo. Peguei uma sacola e alguns salgadinhos, biscoitos, água, energético, cigarros... Eu geralmente não fumo, mas em momentos como este as vezes faço isso. Me virei, ai está o primeiro. Passei o machado no pescoço dele, e quando caiu ouvi o barulho de esponja molhada que o corpo faz quando cai no seu próprio e negro sangue podre. Barulho, olhei pra trás, zumbis saíam por de trás da porta, de baixo da mesa, cadeira. Sentei rápido do chão apoiando minhas costas na parede, eles não me viram só ouviram barulho. Eles começaram a andar cheirando o ar, me farejando. Fiquei me perguntando se poderiam sentir o cheiro do meu medo. Eles estavam chegando perto, a porta estava aberta e se eles me achassem? Ou pior, saíssem. Eles iriam atrás do carro, não posso deixar verem Dylan. Olhei ao redor, peguei um bombom no chão e joguei na porta dos fundos. Eles olharam pra trás e foram atrás do barulho. São trouxas, mas não otários. Quando perceberem que não era ninguém, vão voltar. Fui engatinhando até a entrada e sai correndo. Abri o porta malas e tirei de dentro minha faca, e então percebi que uma das bolsas do kit primeiro socorros estava aberta, olhei dentro. Tinha uma caixinha de analgésicos pela metade, gazzi e bandagens faltando.  Fechei o porta malas e entrei no carro.
- Onde você tava? – Austin acordou.
- Oi pai.
- To falando sério – Olhei pra dento da loja, dei partida e sai com o carro. Peguei a sacola com as coisas dentro e joguei pra trás.
- Toma Dylan. Não come tudo de uma vez.
- Obrigado.
- O que aconteceu?
- Dylan estava com fome, e eu entrei na loja e peguei o que ele precisava – Respondi. Eu ri – O que?
- Porque não me acordou?
- Cara, são 3:30 da manha. Você precisa dormir – Disse.
- Você também – Respondeu Austin sério – Para o carro.
- O que? Não – Balancei a cabeça – Eu consigo dirigir.
- Você precisa descansar.
- Eu não consigo.
- Você já tentou? – Eu olhei pra ele, e depois voltei pra estrada.
- Olha, uma pessoa que você ama acaba de morrer, você precisa dormir um pouco ou então enlouquece.
- Uma pessoa que você ama também morreu – Olhei pra ele de novo e depois voltei o olhar para estrada escura.
- Eu já me recuperei, não tem nada a ver com Bryan – Ele riu.
-Deixa eu te perguntar: Você está mentindo pra mim ou para si mesma? – Olhei rapidamente pra baixo e depois pra ele – Porque se for esse o caso, uma hora você vai acabar acreditando na mentira e quando perceber o que fez vai acabar se destruindo – Ficamos em silencio por um tempo, eu virei pra pegar um cigarro e percebi que tinha uma bolinha de sangue na calça de Lola, olhei seu rosto. Ela estava dormindo, e então lembrei das minhas coisas faltando. Voltei meu olhar pra frente – O que foi?
- Se uma das suas irmãs fosse mordida o que você faria? – Perguntei.
- O que isso tem hav...
- Responde. – Ele me olhou e depois:
- Mataria como humana antes que vire um monstro – Eu assenti, ele não fez perguntas.
O sol já estava nascendo quando eu parei o carro na frente de uma prisão, não era o lugar mais convencional mas eu já estava de saco cheio de prédios. Todos entraram, eu demorei um pouco e fui logo a trás; Lola estava horrível, parecia com febre, gripe. Agachou e procurou alguma coisa nas mochilas.
-Procurando por isso? –Ela se virou assustada pra mim, e me viu com o pote de analgésicos – Quando você pretendia contar?
- Eu... Eu não...
- Contar o que? – Perguntou Amora.
- Você acha que eu tenho cara de idiota? – Perguntei me aproximando dela ela, ela se levantou.
- Dallas, por favor tenta entender.
- Não, entenda você. Você é uma pessoa legal Lola, realmente legal. Não queria que terminasse assim, mas você não me deu escolha. Não vou deixar Dylan junto com uma aberração.
- NÃO ME CHAMA DISSO – Isso que eu queria, que ela ficasse irritada. Só assim eu vou ter uma desculpa pra conseguir descarregar minha raiva eu gente viva. Ela chutou minha perna e eu cai ajoelhada no chão.
- LOLA! – Gritou Amora – PARA – Segurei o pulso dela com força, ela gritou e caiu no chão. Ela deu um soco no meu rosto fazendo minha boca sangrar, ela tentou levantar mas eu a prendi. Segurei a parte de baixo da calça dela e rasguei.
- DALLAS! – Sai de cima dela. Peguei minha arma da cintura e apontei pra ela.
-O que está acontecendo aqui? – Três homens subiram, apontei a arma pra eles – Ei amiga, não precisa disso.
- Quem são vocês? – Perguntei.
- Meu nome é Michael, pode me chamar de Mike – O mais velho deles, devia ter uns 21. Alto, cabelo preto e olhos azuis cintilantes como os meus.
- Meu nome é Lincon, pode me chamar de Link – Parecido com Mike, apenas com os olhos que são verdes.
- E eu sou Philip, me chame de Phil. A gente chegou aqui antes.
- Tudo bem – Disse – Podem ficar onde estavam, não vamos incomodar vocês – Eles assentiram e desceram, Mike piscou pra mim. Eu atirei na porta de entrada, Lola estava saindo – Não me obrigue a atirar em você pelas costas - Amora, Dylan e Austin ficaram olhando a mordida na perna de Lola, cuspi sangue no chão. Olhei para Austin, tinham lágrimas escorrendo de seus olhos mas ele assentiu. Destravei a arma, fui atingida na lateral direita caindo com o braço quebrado no chão.
- AMORA, SAI DE CIMA DELA! – Gritou Austin.
- Você ta do lado dessa louca? – Não queria machucar Amora, mas ela queria me machucar. Me deu um soco bem onde Lola tinha dado, outro do olho. Empurrei-a, ela caiu no chão.
- Se eu quisesse quebrava seu pescoço – Respondi, tentando levantar. Amora empurrou com força minhas costelas e eu cai de novo, grunhi no chão. Austin correu na minha direção e me ajudou a sentar.
- Não vou deixar você matar minha irmã.
- Não vai ser sua irmã por muito tempo, ela vai se tornar um monstro e matar todos nós. Não vou morrer por causa dela – Amora chegou perto de mim, com as mãos nas costas.
- E não vou deixar você matar ela – Amora me algemou.
- Você ta de brincadeira? – Perguntei.
- Podemos dar os analgésicos pra ela, e ela não vai se tornar um monstro. Ela não vai.
- Fale isso enquanto ela morder seu pescoço – Respondi.
- Amora, me de as chaves – Disse Austin.
- Não. Não acredito que você está do lado dela, ao em vez da sua família.
- Isso acontece quando sua família fica louca. Lola é minha irmã também, não quero que ela morra. Mas acima de tudo não quero que ela volte – Amora estreitou os olhos.
- O que há com você? Nossa vida era muito mais fácil antes de pedir ajuda pra essa maluca e ela deixar Dick morrer – Chutei o rosto da Amora.
- Desculpe por isso, quando você voltar a razão vai ver que fiz isso por uma boa causa – Respondi. Amora olhou pra mim e me levantou, começou a me levar pra trás, chutei minha arma que estava no chão pra trás – Cuide-se Dylan.
Amora me prendeu dentro de uma jaula, quer dizer estamos numa prisão. Uma prisão com jaulas de ferro enferrujado e muito forte.
-Desculpa Dallas, sinto muito. Mas não posso deixar você matar minha irmã – Não posso culpá-la provavelmente faria o mesmo.
- Me tire daqui quando ela morder Austin, e você ter que matar dois irmãos – Ela nem olhou pra trás.

As vezes nós temos tanto medo de sofrer que acabamos adiando a dor, isso não afasta a dor. Apenas a multiplica. 

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