Eu e Austin corremos de
volta para o carro, Dylan tinha conseguido um porche vermelho.
- Cadê o Dick? – Essa foi
a primeira pergunta que a Amora fez quando voltamos. Seus cabelos ruivos caiam
nos ombros, fazendo ela parecer fofa na maior parte do tempo. Mas agora parecia
mais preocupada e nervosa do que fofa. Eu abri a boca pra falar, mas Austin
começou antes de mim.
- Ele caiu.
- O que?
- Nós fomos de um prédio
para outro fazendo uma passarela de madeira – Respondi, Austin olhou pra mim e
depois abaixou a cabeça. Acho que não deveria ter falado nada – a madeira cedeu
e ele caiu – Amora ficou vermelha.
- De quem foi essa ideia?
- Minha – Sussurrei me
sentindo pequena e insensata.
- E você não pensou que
Dick era grande demais pra madeira? Esse foi o pior ideia do mundo – Eu abaixei
a cabeça – Pra que explodir o prédio?
- Pra impedir que os
zumbis viessem atrás de nós – Respondeu Austin.
- Aé? Deixasse eles
presos dentro do prédio!
- Pega leve Amora – Disse
Austin.
- Pegar leve? – Eu dei as
costas pra ela, e passei a mão no cabelo – Por culpa dela o Dick ta morto! Não
temos mais família Austin! Como você fez o prédio explodir?
- Combustão espontânea –
Sussurrei.
- Combustão
espontânea?
- É, olha... – Virei pra
ela de novo – Sinto muito Amora, mas abaixa o tom e temos que sair daqui
porque...
- Não me interessa! Cansei de você dar ordens! Cansei de seguir
ordens! Cansei dessa porra! Não vou deixar nossas vidas na suas mãos mais! Você
não consegue nem cuidar do seu irmão vai cuidar do meu pai? – Olhei pra ela.
- Amora – Austin sabia
que agora ela pegou pesado.
- Chega – Continuou Amora
- Eu...
- CHEGA DIGO EU! –
Respondi – Cansou? Não estou te segurando aqui, pode ir. Eu disse pra ele
despejar o óleo a trinta centímetros na madeira, ele despejou a dez, os zumbis
tiveram mais força do que eu imaginei a porta cedeu mais cedo. A madeira
explodiu, eu segurei ele e ele caiu. Eu tentei, eu juro que eu tentei. E eu não
iria soltar ele. Mas ele se soltou.
- Como é? – Perguntou
Lola.
- Ele disse “você vai
soltar, de um jeito ou de outro” ele foi soltando a mão e caiu.
- E porque ele
desistiria? – Perguntou Amora, mais calma.
- Não sei. Acho que
estava cansado de se esconder, fugir. Queria que tudo acabasse?
- Pode ser – Disse Lola.
-Mas quer saber? Não
importa o que eu fale não vou convencer nem vocês nem a mim de que não foi
minha culpa – Ouve uma pausa, e então Dylan disse.
- Dallas, o que aconteceu
com Bryan? – Olhei pra ele – Já tem dois dias... Eu tenho o direito de saber o
que aconteceu com meu irmão... – Eu me encostei no carro. Respirei fundo, e
olhei pra frente. Além dos olhares curiosos de todos, mas além. Dentro da minha
própria cabeça, num mundo só meu. Onde ninguém pode entrar. A não ser dor.
Contei a ele o que tinha acontecido, e no final Dylan parecia ter perdido o
fôlego. Não conseguia falar nada, ele se segurava para prender as lágrimas mas
no final não conseguiu. Amora foi a primeira a falar:
- Sinto muito pelo seu
irmão.
- Eu também – Respondi.
- Sabe, tudo piora muito
antes de melhorar – Disse Austin – Vamos ficar bem.
- Você me perguntou: Se
eu não tomo conta do meu irmão, como tomarei do seu pai? Eu faço essa pergunta
todo dia.
O tempo foi passando e eu
troquei com Lola de motorista, por ela estava com dor na perna e mancando
depois de proteger Dylan pra pegar o carro, passando a noite dirigindo.
- To com fome – Comentou
Dylan. Olhei ao redor, e parei o carro. Eu ia acordar o Austin pra me ajudar,
mas chega disso. Não vou deixar que mais ninguém saia em “missão” comigo, e
morra no processo.
- Fica aqui, e toma conta
do carro. Ta? – Dylan assentiu. Peguei o machado,a faca e sai do carro. A
lanterna estava na minha cintura, peguei e liguei. Entrei numa loja pequena de
beira de estrada. Tem errantes aqui, eu sinto. O cheiro, o movimento próximo.
Peguei uma sacola e alguns salgadinhos, biscoitos, água, energético, cigarros...
Eu geralmente não fumo, mas em momentos como este as vezes faço isso. Me virei,
ai está o primeiro. Passei o machado no pescoço dele, e quando caiu ouvi o
barulho de esponja molhada que o corpo faz quando cai no seu próprio e negro
sangue podre. Barulho, olhei pra trás, zumbis saíam por de trás da porta, de
baixo da mesa, cadeira. Sentei rápido do chão apoiando minhas costas na parede,
eles não me viram só ouviram barulho. Eles começaram a andar cheirando o ar, me
farejando. Fiquei me perguntando se poderiam sentir o cheiro do meu medo. Eles
estavam chegando perto, a porta estava aberta e se eles me achassem? Ou pior,
saíssem. Eles iriam atrás do carro, não posso deixar verem Dylan. Olhei ao
redor, peguei um bombom no chão e joguei na porta dos fundos. Eles olharam pra
trás e foram atrás do barulho. São trouxas, mas não otários. Quando perceberem
que não era ninguém, vão voltar. Fui engatinhando até a entrada e sai correndo.
Abri o porta malas e tirei de dentro minha faca, e então percebi que uma das
bolsas do kit primeiro socorros estava aberta, olhei dentro. Tinha uma caixinha
de analgésicos pela metade, gazzi e bandagens faltando. Fechei o porta malas e entrei no carro.
- Onde você tava? –
Austin acordou.
- Oi pai.
- To falando sério –
Olhei pra dento da loja, dei partida e sai com o carro. Peguei a sacola com as
coisas dentro e joguei pra trás.
- Toma Dylan. Não come
tudo de uma vez.
- Obrigado.
- O que aconteceu?
- Dylan estava com fome,
e eu entrei na loja e peguei o que ele precisava – Respondi. Eu ri – O que?
- Porque não me acordou?
- Cara, são 3:30 da
manha. Você precisa dormir – Disse.
- Você também – Respondeu
Austin sério – Para o carro.
- O que? Não – Balancei a
cabeça – Eu consigo dirigir.
- Você precisa descansar.
- Eu não consigo.
- Você já tentou? – Eu olhei
pra ele, e depois voltei pra estrada.
- Olha, uma pessoa que você
ama acaba de morrer, você precisa dormir um pouco ou então enlouquece.
- Uma pessoa que você ama
também morreu – Olhei pra ele de novo e depois voltei o olhar para estrada
escura.
- Eu já me recuperei, não
tem nada a ver com Bryan – Ele riu.
-Deixa eu te perguntar:
Você está mentindo pra mim ou para si mesma? – Olhei rapidamente pra baixo e
depois pra ele – Porque se for esse o caso, uma hora você vai acabar
acreditando na mentira e quando perceber o que fez vai acabar se destruindo –
Ficamos em silencio por um tempo, eu virei pra pegar um cigarro e percebi que
tinha uma bolinha de sangue na calça de Lola, olhei seu rosto. Ela estava
dormindo, e então lembrei das minhas coisas faltando. Voltei meu olhar pra
frente – O que foi?
- Se uma das suas irmãs fosse
mordida o que você faria? – Perguntei.
- O que isso tem hav...
- Responde. – Ele me
olhou e depois:
- Mataria como humana
antes que vire um monstro – Eu assenti, ele não fez perguntas.
O sol já estava nascendo
quando eu parei o carro na frente de uma prisão, não era o lugar mais
convencional mas eu já estava de saco cheio de prédios. Todos entraram, eu
demorei um pouco e fui logo a trás; Lola estava horrível, parecia com febre,
gripe. Agachou e procurou alguma coisa nas mochilas.
-Procurando por isso? –Ela
se virou assustada pra mim, e me viu com o pote de analgésicos – Quando você
pretendia contar?
- Eu... Eu não...
- Contar o que? –
Perguntou Amora.
- Você acha que eu tenho
cara de idiota? – Perguntei me aproximando dela ela, ela se levantou.
- Dallas, por favor tenta
entender.
- Não, entenda você. Você
é uma pessoa legal Lola, realmente legal. Não queria que terminasse assim, mas
você não me deu escolha. Não vou deixar Dylan junto com uma aberração.
- NÃO ME CHAMA DISSO –
Isso que eu queria, que ela ficasse irritada. Só assim eu vou ter uma desculpa
pra conseguir descarregar minha raiva eu gente viva. Ela chutou minha perna e
eu cai ajoelhada no chão.
- LOLA! – Gritou Amora –
PARA – Segurei o pulso dela com força, ela gritou e caiu no chão. Ela deu um
soco no meu rosto fazendo minha boca sangrar, ela tentou levantar mas eu a
prendi. Segurei a parte de baixo da calça dela e rasguei.
- DALLAS! – Sai de cima
dela. Peguei minha arma da cintura e apontei pra ela.
-O que está acontecendo
aqui? – Três homens subiram, apontei a arma pra eles – Ei amiga, não precisa
disso.
- Quem são vocês? –
Perguntei.
- Meu nome é Michael,
pode me chamar de Mike – O mais velho deles, devia ter uns 21. Alto, cabelo
preto e olhos azuis cintilantes como os meus.
- Meu nome é Lincon, pode
me chamar de Link – Parecido com Mike, apenas com os olhos que são verdes.
- E eu sou Philip, me
chame de Phil. A gente chegou aqui antes.
- Tudo bem – Disse –
Podem ficar onde estavam, não vamos incomodar vocês – Eles assentiram e
desceram, Mike piscou pra mim. Eu atirei na porta de entrada, Lola estava
saindo – Não me obrigue a atirar em você pelas costas - Amora, Dylan e Austin
ficaram olhando a mordida na perna de Lola, cuspi sangue no chão. Olhei para
Austin, tinham lágrimas escorrendo de seus olhos mas ele assentiu. Destravei a
arma, fui atingida na lateral direita caindo com o braço quebrado no chão.
- AMORA, SAI DE CIMA
DELA! – Gritou Austin.
- Você ta do lado dessa
louca? – Não queria machucar Amora, mas ela queria me machucar. Me deu um soco
bem onde Lola tinha dado, outro do olho. Empurrei-a, ela caiu no chão.
- Se eu quisesse quebrava
seu pescoço – Respondi, tentando levantar. Amora empurrou com força minhas
costelas e eu cai de novo, grunhi no chão. Austin correu na minha direção e me
ajudou a sentar.
- Não vou deixar você
matar minha irmã.
- Não vai ser sua irmã
por muito tempo, ela vai se tornar um monstro e matar todos nós. Não vou morrer
por causa dela – Amora chegou perto de mim, com as mãos nas costas.
- E não vou deixar você
matar ela – Amora me algemou.
- Você ta de brincadeira?
– Perguntei.
- Podemos dar os
analgésicos pra ela, e ela não vai se tornar um monstro. Ela não vai.
- Fale isso enquanto ela
morder seu pescoço – Respondi.
- Amora, me de as chaves –
Disse Austin.
- Não. Não acredito que
você está do lado dela, ao em vez da sua família.
- Isso acontece quando
sua família fica louca. Lola é minha irmã também, não quero que ela morra. Mas
acima de tudo não quero que ela volte – Amora estreitou os olhos.
- O que há com você?
Nossa vida era muito mais fácil antes de pedir ajuda pra essa maluca e ela
deixar Dick morrer – Chutei o rosto da Amora.
- Desculpe por isso,
quando você voltar a razão vai ver que fiz isso por uma boa causa – Respondi.
Amora olhou pra mim e me levantou, começou a me levar pra trás, chutei minha arma
que estava no chão pra trás – Cuide-se Dylan.
Amora me prendeu dentro
de uma jaula, quer dizer estamos numa prisão. Uma prisão com jaulas de ferro enferrujado
e muito forte.
-Desculpa Dallas, sinto
muito. Mas não posso deixar você matar minha irmã – Não posso culpá-la provavelmente
faria o mesmo.
- Me tire daqui quando
ela morder Austin, e você ter que matar dois irmãos – Ela nem olhou pra trás.
As vezes nós temos tanto
medo de sofrer que acabamos adiando a dor, isso não afasta a dor. Apenas a
multiplica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário