Essa é a situação mais ridícula que eu já passei, já fui
presa uma vez. Eu fui pega pichando um muro, uma obra de arte que os policiais
não apreciam, meus pais ficaram decepcionados comigo. Esperaram a noite toda
pra me tirar de lá, mas depois pagaram a fiança. Sentei no chão, fiquei
pensando. Pensando em que exatamente, eu não sei dizer.
- Dallas, você ta bem? – Austin correu escada a baixo e
segurou nas grades. É estranho ver Austin nessa perspectiva, ele todo
preocupado comigo, tentando sempre me ajudar, tomando conta de mim. E ele é
bonito, muito bonito. O que eu to pensando? Para Dallas,concentração.
- Considerando a situação, eu to bem sim.
- Austin, eu não consigo pegar a chave – Dylan desceu
correndo – O que a gente faz?
- Nada – Respondi.
- O que? – Perguntaram os dois num uníssono. Eu peguei minha
faca no abdômen e entreguei pro Dylan.
- Eu não vou conseguir sair daqui, quando Lola se
transformar mate-a Dylan – Ele me olhou cético, e depois assentiu.
- Você vai ficar bem aqui? – Perguntou ele.
- Dylan eu to numa jaula, nada entra. Nada sai – O problema
é esse. Não da pra sair, não da pra proteger meu irmão aqui dentro. Então ele
vai proteger a si mesmo.
- Tudo bem então - Agarrei as grades, Dylan passou suas mãos
nas minhas. Ele piscou pra mim, sorriu e subiu correndo as escadas. Austin
sentou no chão e apoiou as costas na grade. Eu fiquei com pena dele, Dick
morreu ontem e daqui a pouco sua irmã também vai. Você não sabe como é difícil perder
alguém até perder. Sentei no chão e encostei as costas na grade ao lado dele.
- Como você se sente?
- Como se eu tivesse numa caixa, e ela estivesse encolhendo.
Me sinto sufocado – Ele deu uma pausa – meu coração arde. Porque existe dor?
- Para que nossa humanidade fique integra, só com dor
sabemos o que é certo e errado.
- E pra que humanidade?
- Sem humanidade somos apenas zumbis de coração batendo –
Austin não respondeu, só abaixou a cabeça – Você vai ficar bem – Ele assentiu.
- Você ficou bem? – Eu não sabia o que responder, a verdade
é que Bryan deixou um buraco no meu coração. Mas antes que eu pudesse pensar em
alguma coisa, um grito. Austin levantou de um pulo.
- AMORA! – Ele subiu correndo as escadas. Eu me levantei,
Dylan gritou. Ouvi um barulho de metal caindo, a arma.
- DYLAN! – Começou. Chutei a porta da jaula, chutei de novo,
e mais uma vez.Tudo que fez foi mover a jaula, nada mais. Comecei a andar de um
lado pro outro, falando comigo mesma – O que eu faço? – Mike apareceu, subindo
as escadas do terceiro piso pro segundo.
- O que está acontecendo aqui?
- Você é minha salvação – Disse sorrindo e segurando as
barras da jaula, Mike sorriu.
- Já ouvi isso – Revirei os olhos e me afastei das barras.
- Me ajuda?
- Claro – Tente me soltar das algemas, mas só consegui
machucar meus pulsos. Voltei a andar de um lado pro outro, falando comigo
mesma. Grito,olhei pra cima. Dylan.
- A velocidade vezes a intensidade da minha perna mais a
força da barra...
- O que? – Perguntou Mike confuso.
- Duas pernas – Olhei para Mike – Você está com a arma ai?
- To.
- Quando eu disser “já”, você bate na tranca – Ele assentiu.
Ergui minhas mãos e segurei o teto da jaula, respirei fundo – Já! – Puxei meu
corpo pra cima e chutei a porta com as duas pernas. Meu braço quebrado doeu
tanto que pensei que quebraria de novo. A porta abriu, cai no chão.
- Tudo bem? – Mike me ajudou a levantar.
- To, obrigada. Me empresta sua arma? – Ele me entregou a
arma dele, e eu subi correndo. Dylan estava caído no chão se contorcendo de dor
com as mãos na costela, Amora estava chorando num canto da sala, Austin estava
com a arma na mão apontando para Lola completamente transformada. Mas então,
neste momento, percebi que Austin não conseguiria. Destravei a arma, e atirei.
Ainda bem que minha mira é ótima, porque se não atiraria no rosto do Austin. A
cabeça de Lola explodiu, gotejando sangue no rosto dele. O corpo oco de Lola
caiu no chão, na sua própria poça de sangue negro. Seus olhos sem vida,
continuaram abertos. Devolvi a arma para Mike, corri até Lola e me agachei ao
seu lado. Fechei os olhos dela – Agora ela vai em paz – Austin caiu de joelhos
na poça de sangue, chorando. Passei meu
braços por cima da cabeça dele abraçando-o. Minha mão continuava algemada –
Sinto muito – Ele me abraçou também.
- Ela devia ter morrido como humana, não como um monstro –
Disse ele.
- Eu... Eu não queria ver ela morrer – Disse Amora, soltei
Austin.
- E você acha que ia impedir que ela morresse prendendo
Dallas?! Você viu como ela ta agora? NEM É MAIS MINHA IRMÃ! – Nunca vi Austin gritando, é a coisa mais
assustadora do mundo. Ele é um cara doce, e fofo. Agora está com raiva, e ódio.
- Austin, calma – Sussurrei, me levantei – Me da a chave
Amora – Ela jogou e eu peguei.
- O QUE ESSE CARA TA FAZENDO AQUI?
- Austin calma! – Ele respirava ofegante, respirou fundo e
olhou pra baixo – Mike me ajudou a sair de lá.
- A... Dallas, eu já vou ta bom? – Mike parecia tão
envergonhado, não sei porque ele me salvou.
- Tem certeza? Não quer ficar? – Eu destravei a algema e
joguei no chão.
- Ah, não. A gente se vê – Eu assenti, e ele saiu.
- Só o que me faltava, aquele cara aqui.
- Austin, respira. Calma – Ele assentiu relutante. E saiu.
Passei a mão no cabelo, corri até Dylan – Ei, respira. Calma, a tala saiu.
Calma – Coloquei a tala no lugar de novo. Peguei analgésicos e dei a ele,
esperei alguns minutos – Como você está?
- Respirando – Ele tossiu, e se sentou. Passei a mão no
cabelo dele, peguei duas garrafas de água da sacola e dei uma pra ele.
- Continue respirando – Andei até o canto e sentei no chão
ao lado da Amora – Toma – Ela pegou e tomou água. Limpou as lágrimas dos olhos
e disse:
- Pensei que você iria querer me matar.
- Apesar de tudo não fiquei com raiva ou magoa de você.
Tanta coisa acontecendo e eu não tenho tempo para guardar magoa das pessoas que
eu tento proteger – Olhei pra frente, mas pelo canto do olho pude ver Amora
olhando pra mim.
- Desculpa Dallas, desculpa mesmo.
- Tudo bem. Não é só pra mim que você tem que pedir
desculpas .
- Ele não vai falar comigo tão cedo.
Abri a porta da prisão e vi Austin sentado em cima do capo
do carro observando a paisagem devastada pelo Apocalipse.
- Ta olhando o que?
- Nada – Respondeu ele me ajudando a subir no capo – Só estou
pensando.
- Em que?
- No pouco que sobrou da minha vida. Se eu estou fazendo a
coisa certa ou... Sou só mais um fraco no meio dos zumbis.
- Você não é fraco. Nem pense numa coisa assim, você é uma
das pessoas mais fortes que eu conheci – Ele olhou pra mim, e o sol bateu nos
seus olhos. Fazendo-os brilhar.
Estávamos tão próximos um do outro que poderíamos nos beijar. Eu quero.
É errado querer? Porque se for, quero estar errada. Barulho, olhei pra trás.
Alguns zumbis vinham pra cá, mas logo atrás vi mais do que eu poderia contar. O
tiro atraiu a atenção deles.
Como o Austin mesmo
disse: Tudo piora muito antes de melhorar. Só o que eu consigo pensar do futuro
é tudo piorando. E nada vai melhora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário