quarta-feira, 17 de julho de 2013

Capitulo 5 – Down goes another one

Subimos as escadas do prédio com cuidado e então eu abri a porta, todos olharam:
- Graças a Deus – Disse Lola se levantando – Ué, cadê o... – Austin balançou a cabeça negativamente, Lola não respondeu apenas abaixou o olhar.
- Como ele tá? – Sentei do lado do sofá de Dylan, Dick e Sr. Smith olharam minha blusa e cabelo cheio de sangue, Dick pigarreou.
- Logo que você saiu ele fico agitado, e depois desmaiou.
- Ta bom – Eu olhei pro Dylan e pensei “como eu conto?” – Austin trás a caixa, por favor – Ele sentou no chão ao meu lado – Vou precisar da sua ajuda, e da sua Dick – Eles assentiram. Olhei na caixa, Bryan só pegou a metade das coisas que eu precisava. Provavelmente já tinham pegado. Não da pra fazer o gesso. Mas Bryan foi esperto, ele pegou três talas e muita gazzi – Vou colocar essa coisa no lugar – Segurei na costela dele com a mão direita e puxei pra dentro. Dylan gritou, teve um ataque epilético. Dick ia segurar ele, eu o impedi. Me debrucei em cima dele e o segurei com o braço direito. Logo ele parou de se debater e ficou desacordado de novo – Austin segura aqui – Ele levantou o tronco de Dylan, segurou a parte de cima e a de baixo da coluna dele. Peguei a tala – Dick pressiona aqui – Ele colocou na parte da coluna quebrada, eu peguei a gazzi e enrolei.
O dia foi passando, e eu continuei sentada no chão com as costas encostadas no sofá. Passei uma pomada para não infeccionar minha mão direita e enrolei gazzi pra parar de sangrar.
- Dallas – Olhei pra trás, os outros olharam pra ele. Fiquei feliz por ele ter acordado, mas não queria conversar. Porque conversa, levaria a pergunta que eu não quero responder.
- Volta a dormir Dylan – Ele olhou em volta.
- Cadê o Bryan?
- Vai dormir Dylan – Olhava pra minha mão, não quero olhar pra ele. Ele sentou.
- Dallas cadê o Bryan?
- Deita, se não a tala sai.
- O QUE ACONTECEU? CADÊ MEU IRMÃO?  - Um bolo formou na minha garganta, não conseguia responder. Lágrimas aglomeraram nos meus olhos – CADÊ ELE DALLAS?! O QUE ACONTECEU?
- EU O PERDI! NÃO CONSEGUI TRAZER ELE DE VOLTA! – Virei e encarei Dylan nos olhos – EU PERDI ELE!
- o que?
- Desculpa, não consegui – Abaixei o olhar, me virei. Dylan me abraçou por trás, isso não me fez tranqüilizava só aumentou a dor.
Para uns a culpa é uma sentimento bonito onde alguém se senti resposável pelo outro que não conseguiu salvar, para outros a culpa é um fardo, pra mim é os dois. Culpa é hipocrisia. Não está preocupado com o outro, está preocupado com seu ego que foi ferido, depois de não conseguir o que gostaria.
- Não foi sua culpa – Eu assenti, só pra não ter que discutir. O dia se foi, a noite chegou. Ninguém falava muito, todos se deitaram nos sofás, poltronas, e eu continuei sentada no chão. Alguém tem que ficar de olho na porta, não podemos dormir todos juntos, para não sermos pegos de surpresa.
Meu braço quebrado ainda doía,mas eu não ligo mais. Não ligo se meu braço está quebrando, tudo que estava na minha cabeça é que deixei meu irmão morrer. Passei tanto tempo com a família, tanto tempo com zumbis que esqueci que existiam mais pessoas no mundo. E acima de tudo, esqueci o que pessoas fazem. Elas ferem.
Austin levantou da poltrona, viu Amora no chão e carregou a irmã até a poltrona dele. Pegou uma lanterna, andou até mim e sentou ao meu lado.
- Não vai dormir?
- Não posso.
- Não pode ou não quer? – Perguntou ele.
- Não posso.
- Porque?
- Não consigo – Ele me olhou e depois olhou pra baixo. Tirou um anel do dedo dele. Um anel de prata, um anel bonito.
- No dia que minha mãe morreu, eu sentei na cama com ela e disse “desculpa por não te agradar mãe, sempre fiz o possível” o câncer no pulmão impedia que ela respirasse ou falasse direito, mas sussurrou “Aquele que tenta agradar a todos, morre cheio de arrependimentos” ela me entregou esse anel e disse “Segure isso, quero que se lembre que uma hora tudo acaba” – Ele me deu um anel.
- Eu não posso aceitar isso.
- Pode, e deve – Eu segurei.
- Obrigada Austin.
- Tudo bem.
- Eu pensei que ele tivesse mais tempo
-Sempre pensamos que temos mais tempo, mas então o tempo acaba - Olhei pra ele. E coloquei o anel. Girei ele no dedo – Ta pensando em que?
- Que temos que sair daqui.
- E nós vamos pra onde? – Perguntou. Ele girou a lanterna pra de baixo do rosto, como se fosse contar uma história de terror.
- Vegas.

- Tem certeza que vocês não vem com a gente? – Perguntei no dia seguinte, enquanto o sol nascia para Sr. E Sra. Smith.
- Nosso lugar é aqui.
- Tudo bem – Disse – Obrigada por tudo - "nosso lugar é aqui" bobagem. Esse lugar está instavel, não vai ficar em pé por muito tempo.
- Imagina – Responde Sra. Smith – Que Deus lhe acompanhe – Deus? Quando meu irmão morreu ou eu pedi pra ele aliviar a dor ele não me ouviu. Porque vai me acompanhar? Sorri e assenti. Descemos as escadas e passamos a procurar um carro.
- O que aconteceu com seu braço? – Perguntou Dylan.
- Quebrei.
- Como?
- Cai no poço do elevador – Ele ergueu as sobrancelhas. Movimento – Abaixem – Todos abaixaram atrás do carro, por baixo do carro vi os pés de cinco zumbis. Uma lata de lixo caiu, olhei pro lado, mais cinco zumbis.
- Porra e agora? – Perguntou Lola. Olhei ao redor, a frente está livre. Atrás de outro carro saíram doze zumbis. Frente não livre mais.
- Dylan – Sussurrei – encontra um carro, e faz ligação direta – Ele assentiu – Amora, Lola dêem cobertura pra ele – Assentiram – Dick, Austin vem comigo.
- Pra onde? – Perguntou Austin. Eu sei é suicídio correr no meio de cinquenta zumbis, mas o que outra alternativa temos? Girei no dedo o anel de prata que o Austin me dera, como se ele tivesse me dando certeza do que estava fazendo.
- No três, um... dois...três. – Me apoiei na mão direita a comecei a correr rua a frente. Os zumbis demoraram um pouco pra perceber o que estava acontecendo, já tínhamos passado deles quando começaram a grunhir em nossa direção.
- O que estamos fazendo?! – Gritou Dick.
- Distração! – Gritei. Dick riu.
- Qual a graça?! – Gritou Austin.
- EU SERVI AO PAÍS COMANDANDO AS GUERRAS MAIS SANGRENTAS, MAS AGORA NA PIOR GUERRA MINHA VIDA ESTÁ NA MÃO DE ADOLESCENTES.
- Os tempos mudaram Sr. Jackson – Parei bruscamente na frente de um prédio de construção. Eu consigo pensar rápido, sou boa em quimica, fisica e matemática basica. Mas o melhor adjetivo que eu tenho é ter audição apurada. O problema é que quando eu penso rápidamente eu tenho tiques do tipo, ando de um lado pro outro, mecho muito as mãos e falo rapido, as vezes é difícil acompanhar meu proprio raciossinio. Dick e Austin pararam abruptamente um pouco mais a frente – Por aqui – Eles correram pra dentro do prédio – Dick segura a porta! – Ele encostou sua larga costa na porta, durante um tempo todo barulho que tinha era só a goteira do teto, olhei ao redor da sala.
- O que estamos procurando? – Perguntou Austin.
- Uma saída.
- Então entramos nesse prédio de alegres? – Perguntou Dick.
- Isso é um prédio em reforma, um prédio antigo como este sempre tem canos na parede por onde passa gás carbono nela. Aqui temos madeira, oléo e a luz solar – Olhava pelas paredes, enquanto girava o anel de prata.
- E como vamos fazer pra saber onde está o cano? – Perguntou Austin. Todos ficaram quietos, neste momento o único barulho era o de movimento surdo e morto dos errantes lá fora. Andei até a parede e coloquei o ouvido nela.
- Aqui – Austin ergueu as sobrancelhas. Peguei a marreta do chão com a mão direita, segurei com força e bati na parede. O volume dos grunhidos aumentou, os socos e a força que faziam pra entrar fazia com que Dick perdesse a força na porta. Bati de novo, o zunido e grunhidos faziam um barulho irritante nos ouvidos. Bati mais uma vez, o cano quebrou. O gás saía com força de dentro do cano – Austin segura essas madeiras aqui – Ele pegou, e eu peguei o óleo – No três a gente corre pra cima.
- O que? Isso é suicídio. Não podemos largar essa porta, eles vão entrar e vamos todos morrer - Disse Dick.
- Não, não vamos. No três...um...dois...três! – Dick soltou a porta, Os errantes encheram rapidamente a sala, Austin estava subindo, e eu logo atrás dele – Aqui! – Abri a porta, eles entraram e eu fechei a porta. Fui até a janela, outro prédio a um metro daqui. Austin me ajudou a pegar a madeira e colocar no parapeito da janela até o da outra janela, fazendo uma ponte – Você primeiro Austin – Ele subiu e foi cuidadosamente até o outro prédio. Olhei pra tras.
- Vai Dallas – Disse Dick. Subi na madeira, ela começara a rachar e balançava com o movimento do vento. Cheguei do outro lado. Chamei Dick com a mão.
- Dick! Pegue o Oleo e a trinta centimetros do prédio despeje na madeira! – Ele assentiu, subiu na madeira, pesado demais, despejou o oleo, perto demais, a porta cedeu, cedo demais. Dick estava chegando, mas a luz solar o oleo e o gás carbono fizeram a combustão espontanea, cedo demais. O prédio explodiu levando os zumbis e a metade da madeira com ele. Dick caiu, eu o segurei. Austin segurou minha perna.
- Você conseguiu garota, deu certo – O tom da despedida. Odeio despedidas, e odeio a falta de fé que a maioria das pessoas tem nessas horas.
- Eu disse que daria – Desejei que meu braço esquerdo não estivesse quebrado, Dick é um homem pesado e está escorregando. Austin não vai conseguir me segurar por muito tempo, rezei para que Dick não escorregasse, para que Austin puxasse nós dois pra dentro, ou até para que Dick não sofresse na queda. Mas Deus parece ter tirado férias, ou se cansado de atender a orações, ou pelo menos parou de ouvir ou de tentar.
- Solte.
- Não vou soltar Dick.
- Você não tem escolha, vai soltar querendo ou não – SEGURA MINHA MÃO BRYAN! – O elevador cedeu, e caiu. Levando meu irmão para de baixo dele.
- A gente consegue.
- Eu estou feliz por ir - Dick forçou um sorriso.
- Não diga isso, a gente consegue.
- Acho que não – Ele olhou nos meus olhos, Dick escorregou, caiu de barriga pra baixo no chão. Um poça de sangue rodeou seu corpo muito rápido, Austin me puxou. Por um momento eu fiquei antônita, sem saber o que fazer. Ou o que falar. Austin correu para janela, uma coisa é eu deixar meu irmão morrer. Meu problema, minha dor. Outra coisa é eu deixar o padrasto de outras pessoas morrer, nosso problema, nossa dor, meu erro. Austin virou pra mim, não parecia decepcionado, magoado, ou irritado comigo, só conseguia ver o luto natural.
- Me desculpa – Eu abracei ele, e ele me abraçou.
- Tudo bem, não foi sua culpa – Ele passou a mão no meu cabelo.
- Desculpa – Lágrimas desceram dos meus olhos, não era pra isso ter acontecido. Não digo nem por Dick, mas pelo Austin. Ele é um cara legal, que não merecia esse tipo de dor. Acho que fiquei mais preocupada com a dor dele, do que com a de Dick. Pelo menos ele não tem que viver fugindo como nós.
- Tudo bem – Quando quer saber o que alguém está sentindo, olhe em seus olhos. A pessoa pode mentir para todos, até para si mesma mas sempre há verdade nos olhos. No  momento final é onde as pessoas mais mentem. No último suspiro agem como se quissessem isso, quando na verdade estão morrendo de medo. No ultimo instante ninguém é corajoso o suficiente para dizer “eu não quero morrer” mas são mentirosos o suficiente para dizer  “estou feliz por ir”

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