Eu conseguia ouvir os passos dos guardas a nossa direção:
- Tudo bem,sabem aquela garotinha loira lá na ala da
alimentação? – Eles assentiram – ela tem uma mini escuta com câmera no ouvido,
não chega perto dela.
- Não é mais fácil a gente simplesmente ir embora? –
Perguntou Mike.
- Eles estão fazendo testes com humanos, você acha mesmo que
vão deixar a gente simplesmente sair? – Perguntei me irritando, guardas se
aproximando – eu preciso de vocês na ala da medicina em vinte minutos! – Joguei
meu cartão de passe para Austin. Os guardas entraram, agarraram meus braços e
me arrastaram pra fora do quarto – MAS QUE POR...
- SOLTA MINHA IRMÃ! – Dylan veio correndo atrás do guardas.
- Dylan é melhor você ficar! – Ouvi Phil dizendo.
- PHIL O QUE ESTA ACONTECENDO?! – Gritei.
- EU NÃO SEI! – Gritou ele em resposta – VOU TE TIRAR DE LÁ
DALLAS! – Um tempo depois eu perguntei.
- Porque estou sendo presa?
- Não nos falaram nada – Respondeu o guarda, eu dei um
sorriso discreto. Eles me jogaram numa cela entre Nolan e Aiden, e quando já
tinham fechado a porta eu perguntei.
- Vocês são Aiden Campbell e Nolan Flint?
- Sim – Responderam.
- Dallas Kingsley.
- Ta de brincadeira – Vi um sorriso no rosto dos dois, Nolan
e Aiden são filhos de amigos do meu pai, eu brincava com eles direto quando éramos
crianças, não estava nos planos, mas não posso deixá-los aqui.
- Tão vendo essa grade de proteção em cima? – Perguntei me
levantando – Quando eu disser “já” puxem com toda sua força.
- O que?! – Perguntei Aiden.
- Só faz o que eu to falando – Agarrei a grade, meu braço e
costelas estão bem melhores, - Já – puxei a grade com toda força que eu
consegui juntar, as grades são enferrujadas, se juntar muita força e
determinação consegue quebrá-las. A grade caiu, minha respiração estava
acelerada, e meu coração batendo forte. Não acredito que vou ter que entrar num
duto de novo.
- A gente vai fugir. Como eu nunca pensei em passar pelos
dutos de ar? – Disse Nolan.
- Aiden, sobe você primeiro e me ajuda aqui.
- Tudo bem – Respondeu ele, ele subiu com facilidade, Aiden
é o mais alto de nós, ouvi ele rastejando até estar acima de mim e me puxar,
depois puxou Nolan também – E agora?
- Por aqui – Me rastejei até o final do duto e virei um
curso, passei por um grade de proteção do quarto de Phil.
- Essa garota sabe de tudo, e começa a me irritar – Dizia
ele - se depender de mim, ela não sai daquele lugar mais – Revirei os olhos e
voltei a rastejar, virei num duto e depois no outro, ouvi um grito. Olhei pro
lado.
- Fiquem ai – Sussurrei.
- Dallas – chamou Nolan, olhei pela grade de proteção.
Austin.
- Onde você conseguiu isso? – Um homem de cabelos grisalhos,
Chris. Austin estava preso a uma cadeira, Chris a cada vez que perguntava e não
obtida resposta arranhava Austin com uma faca no braço, Chris segurava o cartão
de passe. Droga, o que eu fiz?
Me virei para Nolan e Aiden.
- Continuem reto e virem a direita, vocês vão ver pessoas na
sala dos médicos. Ajudem eles a entrar e me esperem.
- O que você vai fazer? – Perguntou Aiden.
- Se eu não voltar em 10 minutos, sigam reto sem mim.
- O que? Não! – Nolan me segurou, eu dei as costas pra ele e
chutei a grade de proteção, ela quebrou na primeira desci dentro da sala. Chris
se assustou, ele abriu a boca pra gritar e eu soquei seu rosto, ele cambaleou
tonto e esse foi o tempo de eu pegar sua faca. Ele pegou um cassetete, e bateu
no meu rosto.
- DALLAS! NÃO! – Ouvi Austin gritar. Senti meu olho inchar,
eu estava caída no chão de olhos fechados só conseguia ouvir os passos de
Chris, ele vinha em minha direção, virei rápido no chão me apoiei com os dois
braços no chão e chutei seu rosto, ele vinha pra cima de mim e eu enfiei a faca
na sua barriga. Senti seu sangue escorrer pela minha mão e vir pelo meu braço,
olhei em seus olhos vi os sonhos, ambições, desejos se esvaírem deles. A vida
fugia dos olhos de Chris, e tudo que vinham neles era surpresa, ódio, agonia,
dor, a cor sumiu, ele caiu de joelhos no chão me levando com ele. Eu puxei a
faca e ele caiu, de olhos fechados.
Meu Deus o que eu fiz? Mato vivos agora? Uma vez eu disse “sem
humanidade somos apenas zumbis com o coração batendo” será isso que eu sou? Ou
será que nem coração eu tenho? Eu estava com uma sensação horrível no estomago,
minha cabeça trabalhava fervorosamente para me lembrar de que não sou uma
pessoa ruim, mas eu já não acreditava mais nisso.
Matei uma pessoa, estamos num apocalipse zumbi e os maiores
inimigos são os humanos, qual a diferença entre Chris e um zumbi qualquer? Os
dois queriam me matar, mas Chris tinha escolha. E ele escolheu me matar. Era
ele ou eu, e se eu morresse Austin também.
-Dallas? – Ouvi a voz de Austin muito distante, olhei meu
reflexo na poça de sangue e não me reconheci, deve ser porque o sangue que eu
tinha nas mãos não era meu. Quando se mata um zumbi você fica na cabeça “eles
não são humanos” “eles são monstros” para nos convencer que o que fazemos não é
errado. Eu não sei mais o que é errado. Agora, quando se mata um humano uma
parte de você se quebra. A parte do “escrúpulos”. Será que vale uma vida pela
outra? Matar um e salvar outro? Acho que sim quando se trata de salvar uma
pessoa boa como Austin, e matar alguém ruim como Chris. Mas eu nem o conhecia,
então como vou saber se ele merecia morrer? – Dallas? – Existe isso que merecer
morrer? – Dallas? – Olhei para Austin, quando finalmente o ouvi. Sacudi a cabeça
para afastar todo tipo de pensamento e me levantei, usei a faca para cortar as
amarras de Austin. Ele olhou meu olhos, e depois me abraçou. Incrível como um
abraço de Austin pode curar qualquer ferida que seu coração guarda.
- Você ta bem? – Perguntei.
- Eu to legal – Eu respirei fundo.
- Vai sobe ai – Ele assentiu e subiu – temos 5 minutos,
antes que venham atrás de nós. O que diminui nosso tempo de sair desse lugar.
- Vem – ele estendeu o braço pra mim, eu peguei gazzi que
tinha na mesa e subi.
-Desculpa por te por nisso – Disse enrolando a gazzi no
braço dele.
- Tudo bem, não foi sua culpa.
- Isso que aconteceu aqui... Vai atrasar nossa missão–
Comentei.
- A gente consegue.
- Não sem uma distração.
- Mas você tem uma ideia – disse Austin.
- Claro, vamos – Ele foi rastejando até de mim, e viramos a direita
estávamos todos no duto, incluindo Emily e Ryan – Olha, aconteceu um...
Acidente lá atrás. Não vai ter som, então vão entrar lá em 5 minutos então
precisamos de uma distração.
- Eu vou – Disse Amora – eu faço a distração.
- Amora... – Disse Austin.
- Eu vou! – Ela estava determinada.
- Você precisa voltar e subir aqui e depois é tudo muito
rápido – eu respondi – você tem certeza? – Ela assentiu.
- Austin, eu sei que desde que Lola morreu você e eu não
temos conversado muito...
- Não... – Ele disse.
- Me deixe terminar – Ela disse – eu vou fazer isso, e me
redimir com você.
- Não precisa disso – Disse Austin.
- Então, eu vou me redimir comigo. E pra mim isso é necessário
– Amora olhou pra mim, e me abraçou – cuida dele – sussurrou ela. Era como se
ela soubesse que ia dar errado, e que não voltar. Tenha um pouco de fé.
- Eu te dou o sinal e você distrai – Eu disse. Ela assentiu
e desceu.
Esperei um pouco e bati de leve, três vezes na parte de fora
do duto. Amora saiu da sala, eu a ouvi gritar.
- AI! SEU ÓTARIO – Fechei os olhos, ouvi ela andando rápido
e com passos pesado, um barulho oco ela deu soco no rosto de alguém.
- Vão – Eles começaram a rastejar, estava tudo quieto. Até
que, a porta abriu com violência e Amora entrou deslizando caída no chão. O
cara tinha em direção a ela, já tinha o visto antes, cabelos cacheados, olhos
injetados, eles estava elétrico. Drogado.
O homem pegou uma seringa,
Amora pegou um vaso de vidro e quebrou na cabeça dele. Ele caiu, e injetou o
liquido transparente na perna de Amora. A camuflagem.
Amora caiu instantaneamente no chão, teve um ataque
epilético, espuma verde saindo de sua boca, seus olhos estavam injetados agora.
O homem se assustou e saiu correndo. Austin ficou paralisado, mau conseguia
respirar, eu desci, e procurei um antídoto, mas não tem nada disso aqui.
- NÃO TOCA NELA! – Disse Emily – SE TOCAR, VOCÊ SE
CONTAMINA! – Queria abraçar Amora, dizer que ia ficar tudo bem apesar de saber
que não vai, queria passar a mão em seus cabelos, queria tocar nela.
- Dallas por favor não a toque... Já perdi ela, não posso te
perder também – Austin respirava suave,
e chorava silencioso, limpava as lágrimas para que ninguém visse mas eu vi. Amora
tremia, ficava pálida, realçando seus cabelos ruivos. A pior parte,foi quando
ela parou de se mexer. E seus olhos continuaram abertos, espuma escorria se
seus lábios, e seu coração parou de bater. Peguei uma luva, coloquei, fechei
seus olhos.
Tem momentos na vida que a gente para e pensa “como pode
piorar?” tem momentos que a está tudo tão ruim, que você não consegue lembrar
de dias melhores. Tem dias que as coisas estão tão escuras que você não
consegue enxergar a luz. É incrível como um dia ótimo pode ser destruído por
causa de uma pessoa. Como uma pessoa fazendo a escolha errada acaba com tudo. E
quando você estiver em um desses dias lembre-se: Não é vingança se você faz uma
pessoa tomar do seu próprio remédio, é apenas dar o troco.
Tudo que eu quero agora é sair daqui, porque entre pessoas e
zumbis definitivamente eu prefiro zumbis.
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